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Prédios históricos viram maquetes pelas mãos de Santiago Ribeiro

01 de Agosto de 2019 às 22:26

Prédios históricos viram maquetes pelas mãos de Santiago Ribeiro “É um gatilho da história e da memória, pois deixa o visitante mais íntimo da própria história”, diz Santiago sobre seu trabalho. Crédito da foto: Joel Amorim / Divulgação

Os prédios mais significativos do complexo arquitetônico e industrial da Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema são replicados em detalhes minuciosos nas maquetes do artista plástico Santiago Ribeiro. Elas compõem a exposição “Há um ponto de luz na imensidão”, que será aberta nesta sexta-feira (2), às 19h30, no saguão da Fundec.

Com entrada gratuita, a mostra fica em cartaz na Fundec até dia 19 e depois percorrerá a Biblioteca Aloísio de Almeida, no Campus Cidade Universitária da Universidade de Sorocaba (de 20 de agosto a 3 de setembro), Biblioteca Municipal de Sorocaba (de 4 a 20 de setembro) e Biblioteca Infantil Municipal (de 23 de setembro a 7 de outubro). A vernisage desta sexta-feira (2) contará com palestra com os historiadores José Rubens Incao e Ubaldino Dantas Machado.

A mostra inédita, realizada com fomento da Lei de Incentivo à Cultura de Sorocaba (Linc), no edital de 2018, reúne reproduções fiéis dos imóveis mais emblemáticos do sítio histórico de Iperó, marco da primeira indústria siderúrgica do Brasil, fundada em 1810 por D. João VI. Ao final da temporada, as maquetes serão doadas para um museu.

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Apesar do alto grau de realismo e fidelidade com as edificações originais, Ribeiro considera as maquetes, inteiramente feitas à mão, “esculturas”, suporte de criação da arte contemporânea que, além de encantar os observadores por sua beleza estética, ajuda a destacar a importância histórica daquele complexo. “É um gatilho da história e da memória, pois deixa o visitante mais íntimo da própria história; uma sementinha para a pessoa sair e pesquisar mais sobre o assunto e até a visitar a Fazenda Ipanema”, comenta.

Materiais

Confeccionadas com materiais diversos, como papelão, isopor, cortiça, argamassa e papel, cinco maquetes compõem a exposição, sendo a maior delas, com 1,20 metro de largura, é a reprodução do atual Centro de Memória de Ipanema, imóvel construído em 1811 para servir de administração e residência do diretor da fábrica e que, em 1941, ganhou um sobrado anexo para hospedar Dom Pedro II em sua primeira visita à Ipanema ocorrida somente seis anos depois.

Prédios históricos viram maquetes pelas mãos de Santiago Ribeiro A mostra reúne cinco maquetes confeccionadas com materiais diversos, como papelão, isopor, cortiça, argamassa e papel. Crédito da foto: Joel Amorim / Divulgação

Outra maquete que chama a atenção pela complexidade da construção, com paredes de pedras, portas e janelas imensas e um madeiramento de sustentação do telhado, é a Casa das Armas Brancas, ícone do sítio histórico, projetada e construída em alvenaria de pedra e cal partir de 1879 e inaugurada por Dom Pedro II em 1886.

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Uma das três cruzes produzidas em 1818, para comemorar a primeira corrida de ferro dos Altos Fornos Geminados, também é representada na exposição. Confeccionada em madeira, a peça ganhou tinta especial que dá aspecto de ferro incandescente, recém saído do processo de fundição. A exposição traz ainda o Cemitério Protestante, construído em 1811 por suecos e ingleses, luteranos e anglicanos, com autorização expressa em Carta Régia de D. João VI; a Casa da Guarda, imóvel construído originalmente para ser depósito de minérios e que depois foi transformado em prisão; e Os Altos Fornos de Mursa e Varnhagen.

A coleção é uma continuidade da pesquisa sobre maquete iniciada por Santiago há mais de dez anos e radicalizada na exposição “Cenário da memória -- um retrato da arte em maquetes”, contemplado pela Linc em 2016, que resgatou alguns casarões históricos de Sorocaba e foi vista por mais de duas mil pessoas.

Para reproduzir com fidelidade os prédios do histórico complexo industrial, Santiago realizou visitas técnicas para registros fotográficos e medições. O cuidado processo de confecção das obras teve a contribuição do artista assistente Edneu Abud e foi enriquecido por relatos dos historiadores José Rubens Incao e Ubaldino Dantas Machado e da leitura dos livros “Retratos de Ipanema: fatos históricos e imagens do Araçoiaba e Ipanema” e “Histórias Illustradas de Ypanema e do Araçoyaba”, ambos do pesquisador Gilson Sanches.

Colagens lúdicas

Prédios históricos viram maquetes pelas mãos de Santiago Ribeiro Maquetes são ricas em detalhes e foram feitas com base numa vasta pesquisa histórica do artista. Crédito da foto: Joel Amorim / Divulgação

Desta vez, o alto grau de realismo das maquetes se contrasta com uma série de 11 quadros, com técnica de colagens de papel, que abordam o lado lúdico daquela região, baseado no folclore que circunda a Fazenda Ipanema, como “O lobisomem”, “O monge” e “O meteoro”. “É a primeira vez que duas linguagens diferentes que desenvolvo se encontram em uma exposição”, comenta o artista. As colagens também prestam homenagem à flora e à fauna da atual Floresta Nacional de Ipanema (Flona), nas obras “O lobo-guará”, “O primata”, “A espiã” (coruja), “A revoada” -- pesquisadores estimam que naquela área existem mais de 350 espécies de aves --, e “Pequeno grande reino encantado”, que retrata a vegetação de musgos, cogumelos e plantas rasteiras que, apesar de menos vistosas, são fundamentais para o equilíbrio do ecossistema da floresta.

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A exposição leva o mesmo nome do projeto enviado e aprovado no edital Linc do ano passado. “Há um ponto de luz na imensidão” faz alusão à chama que o progresso industrial levou à imensa floresta inexplorada e misteriosa, já que, quando os primeiros desbravadores entraram selva adentro, novos caminhos foram abertos para que as primeiras cidades brasileiras nascessem. Coincidentemente, o nome da mostra traduz o percurso de Santiago em meio à produção de seu trabalho artístico. “O título [da exposição] virou a minha própria história. Tive depressão e a arte foi a minha luz que não me deixou cair de vez”, relata. O talento de Santiago ilumina a imensidão. (Felipe Shikama)

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