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Orquestra Rural atrai quem quer começar a tocar instrumento

22 de Julho de 2018 às 13:36

"Só não toca quem não quer". A frase, título de um dos discos mais marcantes do multi-instrumentista Hermeto Pascoal, serve de convite para a vivência percussiva realizada pela Orquestra Rural da Casa do Ritmo.

Idealizado pelo percussionista e pesquisador Barba Marques, o projeto consiste em um espaço aberto onde todas as pessoas interessadas podem aprender a tocar um instrumento musical. Os encontros ocorrem todas as segundas-feiras, às 19h30, na Casa do Ritmo (rua Morvan Dias de Figueiredo, 97, Santa Rosália) e para participar não é necessário ter instrumento e sequer conhecimentos musicais. A atividade funciona no sistema "pague quanto puder" e a renda, segundo Barba, é revertida na aquisição de novos instrumentos.

Os encontros começaram no início deste ano e, segundo Barba, ganham novos participantes a cada edição, inclusive crianças e mulheres de todas as idades. O último ensaio reuniu cerca de 50 pessoas e precisou ser realizado na Praça Pio XII. "Para atender todo mundo, estamos planejando abrir para dois dias da semana", diz. Devido ao crescimento de participantes do projeto, o percussionista busca apoiadores e parceiros para compra de mais instrumentos e, futuramente, a locação de um espaço maior para os ensaios. "A ideia é que a própria orquestra se sustente [no "sistema pague quanto puder"]. Já fizemos duas festas para arrecadar dinheiro para comprar instrumento e a ideia é ir adquirindo mais, para que os participantes possam levar para casa para praticar", acrescenta.

Barba Marques é integrante do grupo de Fanta Konatê - DIVULGAÇÃO Barba Marques é integrante do grupo de Fanta Konatê - DIVULGAÇÃO

Formado em música no Conservatório de Tatuí, Barba garante que não é preciso ter qualquer noção musical para se integrar à orquestra e contribuir dentro de suas possibilidades. Aliás, o grupo foi criado justamente com intuito de romper a ideia de que música é uma habilidade que requer aptidões específicas. "Ao longo da minha carreira sempre ouvi gente dizer que tem vontade de aprender a tocar mas não leva jeito, é descoordenado. A ideia da orquestra é tirar essa coisa que a música é só para alguns. Ela é para todo mundo". Essa metodologia inclusiva, assinala, foi adquirida em meio a sua profunda pesquisa continuada sobre as culturas de matriz africana. Integrante do grupo da cantora e compositora guineense Fanta Konatê, o coordenador do projeto afirma que aprendeu com os mestres do continente africano que a música se aprende no cotidiano. "Usa-se muito o corpo para perceber a música. O instrumento passa a ser uma extensão no corpo", afirma. Por esse motivo, além de percutir tambores, alfaias e agogôs, entre outros instrumentos, os participantes são convidados a dançar para "soltar as amarras e sentir a música".

"É uma vivência musical que é familiar. Todo mundo pode participar junto e vai aprendendo aos poucos", convida Barba, citando que já é tradição do grupo encerrar os ensaios com um lanche comunitário, com pratos levados pelos próprios participantes. Segundo Barba, além de acolher aprendizes de percussionistas, o grupo conta com a presença de dezenas de músicos profissionais que, com diferentes instrumentos, criaram sonoridades e arranjos orquestrais sobre os ritmos aprendidos. "Nesta primeira etapa a gente escolheu o samba de coco que é um ritmo que tem origem africana e indígena. É uma mistura bem brasileira. A ideia é nos aprofundar [no ritmo e na dança] sem pressa e depois ir para outros como o maracatu, frevo...".