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O teatro se adapta aos tempos de pandemia

23 de Janeiro de 2021 às 01:00

A peça “Entre Quatro Paredes”, de Sartre, foi encenada sem público e com os atores usando face shield. Crédito da foto: Divulgação

O isolamento social imposto pela pandemia do Covid-19 impediu muitas áreas de exercerem sua atividade e, no teatro, não foi diferente. E, assim, como o ocorrido em diversos setores, a criatividade foi a saída encontrada para quem não quis paralisar de vez suas atuações.

O Teatro Escola Mario Persico, de Sorocaba, com apoio da Fundação de Desenvolvimento Cultural de Sorocaba (Fundec), optou por gravar uma apresentação como se fosse uma live, sem interrupções do começo ao fim, sem público, para exibi-la posteriormente on-line.

De quebra, os atores atuaram usando o face shield protetor facial acrílico. É o teatro se adaptando para poder existir e resistir. O resultado poderá ser conferido no canal do coletivo cultural Colmeia no YouTube (www.youtube.com/results?search_query=colmeia+arte) a partir desta terça-feira (27), às 11h.

A peça escolhida para esta montagem inovadora foi “Entre Quatro Paredes”, obra clássica de Jean-Paul Sartre que popularizou a frase “O Inferno são os Outros” e que define a visão filosófica e também sintetiza o texto do filósofo e dramaturgo francês. “Entre Quatro Paredes” foi encenada pela primeira vez em 1944. Nela, Sartre mostra uma danação eterna sem enxofre, fogo ou torturas físicas. Aqui, a falta da liberdade, limitada pelos outros, é interpretada como sendo a pena, por excelência, do inferno.

A trama se passa numa sala de visitas, em três pessoas desconhecidas se encontram. Elas estão mortas e a sala representa o inferno. Não existem espelhos, nem janelas, nem portas. A luz não se apaga, numa reflexão sobre o vazio da vida e a falta de esperança. A obra traz um inferno onde todo o sofrimento é infligido pelos outros; pela incapacidade que cada um tem de fugir ao olhar e julgamento alheio. A morte é a objetivação final.

Não há como mudar a história, nem como adotar novas posturas em relação aos outros e construir um novo sujeito. A vida já foi vivida, decisões tomadas. A peça traz quatro personagens: um criado, duas mulheres e um homem. Não há como escapar dos rótulos: o covarde, a assassina ninfomaníaca, a lésbica. O criado, sóbrio, recebe seus hóspedes — condenados a uma eternidade em companhia um dos outros, mas alegando inocência.

A obra dramatúrgica de Jean-Paul Sartre teve grande importância no pós-guerra e continua sendo uma referência nos dias de hoje. No Brasil, na década de 1960, sua obra teve várias montagens principalmente pelo fato de que o conteúdo existencialista do texto encontrava eco no difícil momento político por que passava o país. Em toda a sua obra, o homem sartriano vive situações limites, em que se vê forçado a descobrir sua própria verdade, assim como a natureza de sua relação com tudo que o cerca.

A adaptação e direção sorocabana ficaram a cargo de Mario Persico, que também participa da montagem. No elenco estão Gabriele Clemente (Inês), Michele Sonsin (Estelle), Mario Persico (criado) e Rafael Moreira (Garcin). A direção de vídeo é da Colmeia, coletivo que produz e distribui conteúdo da cena artística local. Em sua equipe técnica estão Gustavo Maciel (diretor de fotografia), Rômulo dos Santos (produtor), Rafael Guandolin (assistente de produção) e Roberto de Souza Areas Neto, o “DJ Noé”, como técnico de som. (Da Redação)