Tudo começou em 1988, quando duas amigas sorocabanas passaram em um concurso público e foram dar aula em uma escola sem paredes. No local só tinha um pátio coberto, uma cozinha, um banheiro feminino e um masculino e um almoxarifado, e não havia sala para as crianças. Embaixo de árvores ficavam as mesas de alvenaria para os alunos.

Para acalmar a energia das crianças, uma das técnicas utilizadas era a contação de histórias, mas como na época não havia muitas opções, diversas dessas histórias foram criadas por Jussara Person e Soraia Uno, que brincavam dizendo que quando aposentassem, escreveriam todas elas.

Muitos anos depois, a aposentadoria chegou e as amigas decidiram realizar o que antes era só um sonho distante. Todos os livros foram publicados pela editora Aletria, o primeiro foi “Clotilde”, lançado na pandemia, de forma on-line, ganhando uma grande repercussão, e os exemplares esgotaram-se rapidamente. Houve ainda mais quatro publicações: “Honório”, “Judite”, “Tobias” e “Dora”. Por também serem contadoras de histórias, o diferencial é que os livros vêm com QR codes, em que as histórias são contadas e cantadas.

Prêmio Baobá

A dupla já conhecia o prêmio Baobá, o “Oscar” dos contadores de histórias, a maior premiação e homenagem do País para os profissionais desta área. Em 2025, as escritoras foram indicadas e ganharam.

“Primeiro, a gente ficou meio sem acreditar. É assim, como se você tivesse confirmando tudo aquilo que você sempre sonhou, ‘estou no caminho certo’. A ideia era levar literatura para o mundo, onde o livro não chega e estamos conseguindo. Lá (na premiação) percebemos que pessoas de diversos estados do Brasil conhecem as nossas histórias, contadores renomados apresentam as nossas histórias aos seus alunos, o que é o auge nesse gênero”, compartilha Soraia.

Segundo Jussara, “foi uma grande emoção, porque nós não esperávamos esse reconhecimento. Quando nos falaram que iríamos receber o prêmio Baobá, ficamos extremamente orgulhosas de todo o trabalho que a gente vem fazendo. Foi algo inexplicável a sensação de ser indicada e de certa maneira eu me sinto privilegiada, porque além de contarmos, nós também escrevemos as histórias”, enfatiza.

A 9ª edição do Prêmio Baobá aconteceu a bordo de um iate, nas águas do Guamá, em Belém no Pará, em 12 de julho.