A lona tradicional é a marca registrada, respeitável público! A artista circense Iracema Cavalcante cruzou as fronteiras e desbravou novos palcos, o da literatura. Na noite de sexta-feira (11), foi lançada a segunda edição de sua obra autobiográfica “A Vida Maravilhosa nos Circos-Teatros”, em comemoração aos 60 anos de carreira da artista. O evento ocorreu no Gabinete da Leitura Sorocabano, localizado na Praça Coronel Fernando Prestes, e contou com a distribuição gratuita de exemplares autografados, palestra com a escritora e também uma exposição de fotos de seu acervo pessoal.

Iracema é natural de Sorocaba e teve uma infância como todas as crianças. Aos 20 anos entrou no tradicional circo Guaraciaba, em 1964, trabalhando na bilheteria, sendo portanto responsável pela venda dos ingressos. “Quando fechava a bilheteria, eu ficava acompanhando os ensaios dos artistas e ouvindo música. Até que um dia o violonista perguntou se eu sabia cantar, me convidou e eu cantei, e ele disse: “Nossa, mas você tem uma voz bonita”. Passou o dono do circo, me viu cantando e já me colocou em cima. Depois de cinco anos no circo, conheci meu marido, Vioblaque Cavalcante”, conta dona Iracema.

No livro, a artista retrata o dia a dia da vida circense e os seus desafios. Atualmente, a escritora tem 81 anos e na carreira atuou como cantora, dançarina e palhaça. Com muita emoção, conta Iracema, “eu não nasci no circo, o circo nasceu em mim. No circo eu aprendi a ser gente, aprendi o respeito, aprendi a viver em comunidade, a solidariedade, então o circo é uma verdadeira escola. Se Deus permitir, eu vou morrer em cima do palco, trabalhando”.

A afirmação demonstra o amor pela carreira que descobriu e construiu ao longo dos anos. O mesmo amor que compartilha Guaraciaba Malhone, de 81 anos, que nasceu no Circo do Toledo, e fez sua primeira participação nos palcos com 15 dias de vida, no colo de sua mãe, na peça “E o Céu Uniu Dois Corações”, espetáculo que atuou em todos os papéis femininos, conforme foi crescendo.

Guaraciaba, que deu nome ao circo da família, começou oficialmente nos palcos com cinco anos de idade e nunca mais parou. Conta que o pai queria que ela estudasse e fosse advogada, mas o que ela queria mesmo era atuar, e com o tempo, o pai a deixou fazer aquilo que mais amava. “Meu pai deixou, não forçou, eu comecei a trabalhar e trabalhar e estou até hoje. O circo representa a minha vida toda, a minha felicidade, meu amor. A minha vida inteira eu só fiz isso e continuo fazendo”, compartilha.

Ao sentar e contar as histórias de tudo que viveram, com brilho nos olhos, encantam os ouvintes, e foi através deste encanto que o pesquisador de história, circo e cultura, José Rubens Incao, de 62 anos, incentivou Iracema Cavalcante a escrever um livro. “Ouvindo as histórias, eu falei para ela ‘por que não escreve?’. Ela me respondeu: ‘eu não sei escrever’ e eu respondi a ela que escrever era o menos importante, a memória é importante”, explica, e assim nasceu o livro “A Vida Maravilhosa nos Circos-Teatros”.

A primeira edição do exemplar foi lançada em 2011, editada por Sandra Nascimento, da empresa Loja de Ideias. Esta segunda edição do livro faz parte do projeto cultural contemplado pelo edital de fomento Cult-SP, Lei Aldir Blanc do Governo Federal, produzido por meio da Secretaria Estadual da Cultura.

Espetáculo “A Herança do Tio Padre”

Além de lançar a segunda edição de sua autobiografia, Iracema Cavalcante estará em cartaz, atuando como o “Tio Padre”. O espetáculo “A Herança do Tio Padre” terá estréia no dia 11 de agosto, em Praia Grande, dirigido por Rodrigo Cintra Marins, fundador do Grupo Barracão da Vó, Circo e Teatro, que faz parte do projeto cultural. Será apresentado no interior e litoral paulista, com o apoio do mesmo edital.

O livro estará disponível gratuitamente nas apresentações da peça e os interessados podem solicitar um exemplar ao diretor Rodrigo Cintra, por meio do telefone 15 988014217.

Sorocaba e o histórico circense

O pesquisador José Rubens Incao descobriu que havia uma tradição do circo na cidade. Interessado pelo assunto, decidiu buscar a “velha guarda” circense e reuniu grandes nomes para montar um espetáculo na Biblioteca Infantil Municipal, localizada na rua da Penha. O movimento tomou certa proporção, “montamos um espetáculo precário, simples, mas que agradou tanto que gerou a semana do circo, que dura por quase 20 anos”, conta.

Ainda com muita pesquisa, José descobriu que em São Paulo há um Centro de Memória do Circo. “O primeiro registro de circo no Brasil é de 1824, em Sorocaba, porque as feiras dos tropeiros atraia muitos grupos circenses”, conta Incao.