Audiovisual
Cinema Brasileiro: 127 anos de história e transformações
Produções audiovisuais do País resistem à passagem do tempo e vão para além da ficção

As produções audiovisuais resistem ao tempo e, em suas narrativas, contam histórias que vão para além da ficção. Nesta quinta-feira (19), celebramos o Dia do Cinema Brasileiro. A data faz referência às primeiras gravações cinematográficas realizadas no Brasil, em 1898, pelas mãos de Afonso Segreto. Na época, em um convés de navio, o diretor italiano registrou imagens do movimento da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro.
Ao longo destes 127 anos, o cinema brasileiro passou por diversas transformações. Em 1914, chegou às telonas o primeiro longa-metragem nacional, o filme “O Crime dos Banhados”, sobre uma chacina no interior do Rio Grande do Sul. Já em 1953, produções audiovisuais do Brasil ganharam destaque internacional, com a vitória de “O Cangaceiro”, escrito e dirigido por Lima Barreto, na categoria aventura e melhor trilha no Festival de Cannes, na França.
“O Brasil tem uma produção muito grande, principalmente de filmes independentes, que possuem diversos temas. Na área de documentários, o volume é ainda maior”, aponta o produtor e diretor de cinema de Sorocaba, Cleiner Micceno. “E, neste cenário, quanto mais você investe em cultura, mais você leva o nome do País para fora, não somente pelos motivos políticos ou coisas do gênero. O cinema nacional leva a cultura brasileira para o mundo”.
O exemplo mais recente foi a repercussão mundial de “Ainda Estou Aqui”. Com direção de Walter Sales, o longa trouxe a primeira estatueta dourada ao Brasil com a vitória no Oscar 2025, na categoria Melhor Filme Estrangeiro.
De acordo com Micceno, embora as comédias dominem o cinema nacional, desde as chanchadas da companhia Atlântida Cinematográfica, fundada em 1941, são as narrativas dramáticas e históricas que ganham notoriedade no exterior. Elas, muito além de serem baseadas em fatos, destacam as raízes e lutas do povo brasileiro.
“Ainda Estou Aqui plantou uma sementinha de visibilidade lá fora e espero que germine para outros lados, que seja somente um start. Quando uma produção brasileira ganha destaque internacional, traz retornos para o País, seja visibilidade ou investimento”, explica o produtor de audiovisual. “Portanto, com essa vitória, esperamos que aumentem os projetos, os incentivos à cultura, porque com apoio é possível fazer grandes produções”.
Desafios
Investimento é uma palavra delicada quando se trata do setor cultural no Brasil. Contudo, além do aporte financeiro, Cleiner Micceno também enxerga a falta de apoio do próprio brasileiro, que por muitas vezes valoriza filmes internacionais e pouco conhece as produções locais.
“Nas próprias televisões, sejam abertas ou fechadas, com exceção de canais pontuais, não há espaço para filmes e outros produtos nacionais. Nós não encontramos documentários e curta-metragens brasileiros, e existem diversos ótimos”, destaca. “Portanto, restam os festivais, porém, não são todos que têm acesso ou a curiosidade de buscar saber mais a respeito. Infelizmente, vejo que falta uma democratização ao acesso.”
Como exemplo, Micceno cita o festival In-Edit, que acontece nos cinemas de São Paulo até o domingo (22) de junho, e que foi noticiado pelo Cruzeiro do Sul. O tema é música e, desde o dia 12, documentários sobre diversos gêneros musicais estão sendo exibidos. Todos foram feitos por brasileiros e competem em diversas categorias.
“O problema é que a maioria das pessoas não tem interesse ao ponto de ir atrás, ou talvez nem saibam que existe. Contudo, se tivesse uma visibilidade maior, talvez a curiosidade pudesse surgir até mesmo naquela pessoa menos interessada”, reflete o produtor. “Porém, para isso, é necessário investimento.”
Neste cenário, Micceno explica que o investimento na cultura não é perdido, pelo contrário, floresce para outros setores. Alguns exemplos são o turismo e a economia, abrindo um leque de oportunidades.