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Editorial

Selic a 14,75%. E agora?

08 de Maio de 2025 às 22:24
Cruzeiro do Sul [email protected]
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Na companhia de Janja, em Moscou — onde está para assistir hoje (9) às comemorações pelo dia da Vitória, que marca a rendição da Alemanha nazista em favor dos aliados na Segunda Guerra Mundial —, o presidente Lula recebeu na quarta-feira (7) a notícia que o Banco Central (BC), presidido agora pelo seu escolhido Gabriel Galípolo, havia aumentado a taxa básica de juros brasileiros, a Selic — em 0,50 ponto percentual, elevando-a a 14,75% ao ano, a maior desde julho de 2006. Mas, mesmo longe do Brasil, Lula não se manifestou nem sinalizou o que pretende fazer para “salvar” a economia nacional, já que as ações necessárias para isso ultrapassam em milhões de anos-luz escolher quem presidirá o BC e, consequentemente as decisões do Comitê de Política Monetária, o Copom.

A alta da Selic foi justificada pelo BC devido à alta do preço dos alimentos e da energia somadas com as incertezas em torno da economia global. A decisão foi por unanimidade, ou seja, incontestável e com o voto de Galípolo. E foi a sexta alta seguida.

Em comunicado, o Copom não deu pistas sobre o que deve ocorrer na próxima reunião, na metade de junho. Apenas afirmou que o clima de incerteza permanece alto e exigirá prudência da autoridade monetária, tanto em eventuais aumentos futuros como no período em que a Selic deve ficar em 14,75% ao ano.

Por isso, uma fala de Lula agora sobre o que pretende fazer com a economia neste ano e meio que falta para terminar o seu terceiro mandato seria importante. Aliás, alguns acham que — conforme o que seria dito — a situação poderia ainda piorar. O presidente não se manifestou, mas entidades da indústria, do comércio e as centrais sindicais condenaram a decisão e a classificaram de exagerada e de ameaça ao emprego e à renda. Em nota, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) comentou que a elevação em 0,50 ponto percentual da Selic “impõe um fardo ainda mais pesado à economia”.

Na verdade, a decisão do Copom é puramente técnica e reflete o momento da economia. Por isso, a necessidade de políticas econômicas de verdade e não somente para tentar agradar a torcida, que diminui a cada pesquisa de opinião pública sobre o desempenho do governo e a popularidade do governante, no caso Lula.

É fato que o Brasil tem apresentado uma das maiores taxas de juros básicos do mundo, atualmente situadas em patamares que assustam investidores, empresários e consumidores. Essa realidade reflete uma combinação complexa de fatores econômicos, políticos e sociais que, juntos, moldaram uma política monetária restritiva e que, por hora, parece destinada a permanecer assim por mais algum tempo.

É necessário conter a infração para que o cenário possa começar a ter gordura para mudar, a taxa parar de aumentar e até mesmo retroceder. O País enfrenta uma inflação que, embora controlada em alguns momentos, voltou a pressionar o poder de compra da população devido a fatores como alta nos preços de alimentos, combustíveis e energia, além de efeitos de choques externos e desajustes fiscais internos.

No entanto, a elevação dos juros não é uma medida isolada. Ela também funciona como um mecanismo de ancoragem das expectativas de inflação, buscando transmitir segurança ao mercado financeiro e evitar uma escalada de preços que possa descontrolar a economia. Além disso, o cenário de incerteza política, instabilidade fiscal e a necessidade de atrair investimentos estrangeiros reforçam a postura do Banco Central de manter uma política monetária rígida.

Os juros elevados provocam, ao menos, duas situações: por um lado, ajudam a conter a inflação, protegendo o poder de compra e garantindo a estabilidade macroeconômica. Por outro, elevam o custo do crédito, dificultando o acesso ao financiamento para empresas e consumidores, o que pode frear o crescimento econômico, aumentar o desemprego e aprofundar a crise de investimentos. Essa política também impacta o câmbio, mantendo o real relativamente valorizado, o que prejudica as exportações e favorece as importações, criando um cenário de descompasso na balança comercial.

Além disso, o alto custo do crédito público aumenta a pressão sobre as contas do governo, que precisa pagar juros elevados sobre a dívida pública, limitando recursos para áreas essenciais como saúde, educação e infraestrutura.

O futuro da economia brasileira diante dessa política de juros altos é incerto. Especialistas divergem quanto à sua duração e aos efeitos de longo prazo. Alguns argumentam que, para consolidar a estabilidade de preços, é necessário manter os juros elevados até que a inflação esteja sob controle de forma sustentável. Outros alertam que essa estratégia pode aprofundar a desaceleração econômica, aumentar a desigualdade social e gerar um ciclo vicioso de baixo crescimento e alta dívida. O governo precisava ter começado a agir “ontem”.