Santa Rosália
Na praça, o tempo caminha com a arte
1ª Feira da Vila Operária transformou a Pio XII em espaço de pausa, cultura e reencontro

A1ª Feira da Vila Operária transformou a praça Pio XII, no bairro Santa Rosália, na tarde do último sábado (3). Em tempos de pressa e concreto, onde passamos de carro e não percebemos a paisagem, a praça ressurge como espaço de pausa e reencontro. É chão de pedra, banco compartilhado, sombra para todos. A praça que abraça. O coreto virou palco, o caminho, galeria. O olhar virou encontro. Ocupar uma praça com arte é também devolver à cidade o que nela pulsa de mais vivo: a memória compartilhada.
A Pio XII é uma das praças mais bem cuidadas, bonitas e agradáveis de Sorocaba, com ampla arborização e o tradicional coreto bem no coração do local. Caminhos desenhados com pedras pretas e brancas formam oito vias de acesso e são unidos por três anéis. O desenho da praça lembra uma teia, de contornos simétricos. O bairro não esconde suas raízes: as casas parecidas relembram a antiga vila e o apito da fábrica, que ainda podia ser ouvido até pouco tempo atrás, muitos anos após o fechamento da fábrica de tecidos.
A feira se dedicou a relembrar a história operária de Sorocaba, especialmente da fábrica “Santa Rosália”. Rodas de conversa sobre escrita criativa e sobre a história, com participação de antigos operários e operárias, foram realizadas. Cerca de 65 artistas expuseram seus trabalhos. Artes tão diversas como costura, fotografia e desenho foram postas sobre as pedras pretas e brancas da praça.
História viva
Flávia Aguilera, presidente da Associação Cultural de Fomento à Arte e Memória de Sorocaba, que organizou o evento, contou que considera a Pio XII a praça mais bonita da cidade e que sempre quis organizar um evento no local. Ainda segundo a organizadora, uma das principais intenções da feira é a de manter viva a história do bairro e, também, conseguir novos relatos de pessoas que conviveram com a fábrica e seus operários. Flávia, que também é artista, se dedica a trabalhar fotos e desenhos para eternizar operários, especialmente mulheres.
Em um passeio pela praça, fios entrelaçados nas árvores chamam a atenção. Neles, pequenos livros. Esse é o trabalho de Mariana Maia, de 32 anos. A artista se encarrega de propor uma interação coletiva: escrever ou desenhar em pequenos livros, que ela mesma encaderna. Cada pessoa que passa por sua mesa é convidada a deixar algo em um dos livrinhos. Depois, Mariana os expõe nos varais presos entre as árvores da Pio XII. A artista costuma participar de outras feiras de arte de Sorocaba e também é desenhista.
Clayton Correa, de 39 anos, tatuador e desenhista, também é um expositor recorrente nas feiras de Sorocaba e falou sobre a importância destes eventos, não apenas para divulgação dos trabalhos, mas principalmente para unir os artistas da região.
Orgulho
Outra organizadora da feira e também artista é Hercília de Oliveira, atualmente vice-presidente da Associação Cultural. Ela mostra orgulho nos olhos ao passear pela feira e mostrar os outros artistas. Em sua mesa, estão expostas bonecas feitas com a técnica de fuxico. De acordo com a expositora, uma das suas maiores preocupações foi a de ocupar o espaço, mas com cuidado, preservando a praça e respeitando os vizinhos do local.
A Feira do Livro e Autores Sorocabanos (Flaus) e a Feira do Livro Sorocabana (Flis) apoiaram o evento e também estiveram presentes.
O evento na praça teve um bom movimento e grande aceitação entre os moradores do bairro, que se animaram em ver um evento cultural acontecendo no local. Diversos visitantes falaram com empolgação sobre o sentimento de redescobrir a praça e poder aproveitar a tarde em um ambiente calmo e diferente.
Além dos artistas, a feira ainda contou com área para alimentação, com diversas opções, oficinas e a presença de escritores sorocabanos. Mais do que um evento, a Feira Operária foi um gesto: entre fios, palavras e desenhos, o bairro se viu refletido. A arte reativou a praça como quem acorda uma lembrança adormecida. Na Pio XII, o tempo caminhou com as pessoas, e a praça voltou a ser o que sempre foi.
Fábrica Santa Rosália
O prédio da fábrica de tecidos Santa Rosália, que deu nome ao bairro, foi construído em 1890 e iniciou suas atividades em 1895, sempre como no segmento têxtil. Apesar de a região não ser geograficamente distante do centro da cidade, era um novo bairro que surgia, para atender os operários e suas famílias. As casas, a praça Pio XII e uma igreja foram as primeiras estruturas.
A fábrica mudou de dono algumas vezes, ainda se mantendo no ramo têxtil. Algumas melhorias foram implementadas com o passar do tempo, como rede de esgoto, creches, refeitórios, escolas. A atual igreja do bairro foi construída nos anos 1950, junto com um cine-teatro, que em seguida se tornou o Shopping Villágio, e que posteriormente foi desativado. Em 1994, a fábrica foi desativada e desde 2000 o espaço (que é patrimônio histórico de Sorocaba) é utilizado como supermercado. (Vernihu Oswaldo)
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