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Nelson Fonseca Neto

Notícias do mundo teen

06 de Março de 2025 às 21:39
Cruzeiro do Sul [email protected]
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. (Crédito: Título da matéria)

O João Pedro é vidrado numa piscina. Sorte que a gente mora bem perto do clube e tem dado pra levar a peça rara todos os finais de tarde e começos de noite nos últimos dias. É uma delícia porque a água está morninha e quase todo mundo foi embora.

Estou escrevendo isto aqui na terça de Carnaval. Dias mais movimentados no clube, axé comendo solto bem perto da gente, piscina lotada, o pessoal alegrão, o que é muito bom. Era perto das 18h e eu estava com a Patrícia e com o João na piscina maior. Muita gente que estava ali era conhecida nossa de com o perdão da expressão gasta outros carnavais.

Enquanto o João mergulhava e dava umas braçadas, a Patrícia e eu começamos uma conversa sobre uma fase pitoresca de nossas vidas: a adolescência. Um dia a Patrícia conta como foram aqueles anos pra ela. Acho sacanagem entregar o ouro. Falo aqui da minha, numa boa.

Falar da própria adolescência é assumir que a gente acreditava numas coisas que hoje a gente considera ridículas. Uma delas é a seguinte: na adolescência acreditamos demais na opinião alheia. É a pior fase da vida nesse quesito. Na infância somos naturalmente desencanados. Aprendemos a desencanar na vida adulta.

Temos o seguinte: na adolescência a gente quer se destacar, quer fazer sucesso com as meninas, quer ser cobiçado, receber olhares lânguidos, essa papagaiada. Depois que passa a gente dá risada, mas sofre pra caramba na época. Nos bailinhos a gente vai aprendendo o que é resiliência. Pra cada galãzinho, há uma legião de moleques que tentam mostrar que está tudo bem, tudo certo. Todos com o coração despedaçado.

Eu era parte da legião dos sofredores dos bailinhos. Tentava compensar sendo engraçado ou falando coisas interessantes. Eu não fazia feio, mas a coisa não rolava do jeito que eu queria. Eu queria dançar as músicas lentas, e não ficar dando e levando tapas na cabeça dos amigos hiperativos. Eu queria voltar pra casa com a roupa devidamente composta, e não amarfanhado por causa das lutinhas.

Era justamente sobre isso que eu estava falando com a Patrícia na piscina. É que ali perto tinha uns caras que faziam muito sucesso na época. Frequentei os bailes de Carnaval daquele clube por muitos anos. Era legal mas era sofrido. Eu ficava felizão quando o Carnaval estava chegando, não perdia uma noite, e olha que naquela época tinha baile sábado, domingo, segunda e terça. Lotava nas quatro noites e eu só ficava de olho na turma que se dava bem.

Não que eu ficasse chorando pelos cantos, também não era pra tanto, mas aqueles caras e aquelas meninas eram celebridades. Eram os famosinhos e as famosinhas.

Hoje eu olho pras tais celebridades e penso: pô, qual é, o cara é normalzão, qual era o encanto da época? Como eu não estou mencionando nomes, posso falar: esses caras eram meio malas na adolescência. Eu achava um horror, mas vai ver era despeito. Vai ver, não: era despeito. Mas que bom que esses caras acordaram pra vida e se tornaram uns adultos bem de boa. De boa mesmo, e não estou fazendo média.

Aí, na piscina, com a Patrícia e com o João, eu olho pras janelas do salão onde rolavam os bailes de carnaval e me vejo naquela época. Não vou falar que foi a melhor fase da minha vida, porque não foi mesmo; mas não foi um horror. Legal mesmo é ver o galã de outrora com umas entradas gigantes nas madeixas e perceber que o meu telhado está intacto.

O ser humano é fogo.