Carnaval
Escolas de samba de Sorocaba têm as cidades da região para poder desfilar
Prefeitura tem o entendimento de que há outras prioridades na cidade, como mais investimentos na saúde e na educação

Pelo sexto ano consecutivo, Sorocaba não terá a tradicional festa de Carnaval com desfile de escolas de samba da cidade. A decisão é da atual Administração do município, que optou por não aplicar recursos públicos na festividade durante a sua gestão. Conforme informado pela Prefeitura, existe o entendimento de que há outras prioridades na cidade, como mais investimentos na saúde e na educação. Desta forma, as agremiações buscam outras cidades para colocarem o samba-enredo, fantasia e bateria na avenida.
Um exemplo é a Mocidade Independente, afiliada da Associação Cultural do Samba de Sorocaba (Acusa), que irá desfilar em Itu neste ano, nos dias 3 e 4 de março. O momento será um marco especial para a cidade: o retorno do Carnaval de rua após oito anos.
Com o tema “A Resistência”, muito além de abordar os desafios para a realização do Carnaval de rua, o samba-enredo trará uma mensagem de amor ao próximo, independentemente de gênero, classe ou etnia. A composição, escrita por Marcelo Mello, o presidente da Mocidade Independente de Sorocaba e da agremiação Acusa, traz luz às questões sociais, como desigualdade de gênero e preconceitos.
“Eu acho que não existe nome melhor para o nosso enredo. Nós estamos voltando para a avenida com o desfile das escolas de samba. Isso não acontecia há oito anos”, destaca Marcelo.
Neste cenário, buscar festas e oportunidades em outras cidades não é algo incomum para quem está no mundo carnavalesco. O presidente da Acusa conta que, inclusive, a Mocidade Independente de Sorocaba nasceu desta necessidade. Quando a Administração Municipal de Itu não apoiou a realização da festividade em 2017, integrantes da Mocidade Independente da vizinha cidade se dividiram entre Salto e Sorocaba, criando novas escolas de samba.
“Nestes casos, nós não podemos simplesmente aceitar que acabou, entende? Existem muitas pessoas que gostam de Carnaval. Portanto, se nossa cidade não nos valoriza, nós vamos para fora”, afirma Marcelo.
A Resistência ao Carnaval
O Carnaval costuma dividir opiniões. De um lado, há quem critica a festividade ou simplesmente não gosta. Por outro lado, existem os foliões apaixonados pela bateria, cores e fantasias, que enxergam na data uma manifestação cultural que atravessa gerações.
“A história do Carnaval, por si só, é um processo extremamente cultural. No Estado de São Paulo, o gênero musical surgiu em Pirapora de Bom Jesus, conhecido como samba de bumbo, com os escravos”, explica Marcelo. “Quando os donos de terras iam em procissão até a igreja, eles seguiam para uma fazenda, onde podiam comemorar e festejar. E lá tinha o samba de bumbo.”
Desta forma, até poucos anos atrás, a batida de caixa do samba paulista era completamente diferente da carioca, que teve influência baiana. Muito além da história e cultura ligada às raízes das pessoas, o presidente da Acusa destaca a cadeia artística cultural envolvida nos desfiles.
“É toda uma gama de profissionais comprometidos, desde bailarinos e passistas, até marceneiros e serralheiros”, aponta Marcelo. “Inclusive, temos um historiador para fazer a pesquisa e fundamentar o samba-enredo, por isso nós afirmamos que o Carnaval é cultura.”
Em Sorocaba, os desfiles das escolas de samba são considerados Patrimônio Cultural Imaterial, conforme a Lei 12.378/ 2021, de autoria do vereador Fernando Dini, então filiado ao partido Movimento Democrático Brasileiro (MDB). A proposta, inclusive, foi aceita pelo Executivo na época.
“Quando o gestor de uma cidade se nega a destinar verba pública para o Carnaval, naturalmente, está negando que a cultura aconteça. Caso não queira usar os recursos com a festa, uma opção é facilitar para que os desfiles aconteçam, como fez o prefeito Herculano, em Itu”, opina o presidente da Acusa. “Nós não teremos subvenção da Prefeitura de Itu, mas ele articulou um patrocinador que nos dará uma ajuda de custo.”
Como as escolas de samba se mantêm?
Diante da dificuldade em realizar os desfiles no Carnaval de rua, surge a pergunta: como as agremiações se mantêm sem o apoio público? Neste cenário, Marcelo Mello conta que os integrantes encontram outras oportunidades.
“Além da Mocidade Independente, a Acusa tem outras duas escolas afiliadas, a Estrela da Vila e Gaviões da Fiel. Para se manter e conseguir realizar o Carnaval, todos os grupos de bateria tocam em casamentos, festas, bares e até mesmo em eventos corporativos”, conta o presidente da agremiação.
Além disso, a Mocidade ainda realiza serviços gastronômicos. A princípio, a escola de samba começou com vendas em uma barraquinha nas festas da cidade. Atualmente, os integrantes fazem festas inteiras.
“As pessoas visitam o nosso ateliê e ficam impressionados com o trabalho, com a quantidade de fantasias. Contudo, tudo isso é fruto de um trabalho do ano inteiro”, finaliza Marcelo.