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Cacá Diegues: ‘inventamos a imagem do cinema brasileiro’

Cineasta dizia não ser otimista por não acreditar que as coisas dariam certo por si só. Para ele, o sucesso era fruto da dedicação e do trabalho

14 de Fevereiro de 2025 às 22:00
Cruzeiro do Sul [email protected]
Maioria dos filmes de Diegues foi selecionada por grandes festivais internacionais
Maioria dos filmes de Diegues foi selecionada por grandes festivais internacionais (Crédito: DIVULGAÇÃO/AGÊNCIA BRASIL)

 

“Nós praticamente inventamos um cinema para o Brasil”. Assim o cineasta alagoano Cacá Diegues, que morreu nesta sexta-feira (14), resumia a importância de diretores, roteiristas e produtores que, no início dos anos 1960, criaram, no Brasil, o movimento que ficaria conhecido como Cinema Novo.

“Inventamos uma imagem do Brasil para o cinema. E para fazer isso, não tínhamos uma tradição cinematográfica à qual recorrer”, comentou Diegues, em uma de suas tantas entrevistas.

Um dos últimos remanescentes do grupo que reuniu Nelson Pereira dos Santos (1928-2018), Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988), Paulo César Saraceni (1933-2012), Domingos de Oliveira (1936-2019), Leon Hirszman (1937-1987) e Glauber Rocha (1939-1981), entre outros artistas e intelectuais influenciados pela nouvelle vague francesa e pelo neorrealismo italiano, Diegues apostou na força de filmes autorais, de menor custo de produção e que motivassem o espectador a refletir sobre os graves problemas sociais brasileiros.

“Um filme não muda nada. Ele não é uma arma para mudar o mundo, mas é uma maneira de pensar o mundo de outro modo; de provocar pensamentos mais originais”, refletiu certa vez Diegues.

Diegues dizia não ser otimista por não acreditar que as coisas dariam certo por si só. Para ele, o sucesso era fruto da dedicação e do trabalho. Por isso, dizia ser um sujeito “esperançoso”. “Tenho sempre a esperança de que as coisas deem certo e a convicção de que para isso a gente tem de correr atrás; fazer para que deem certo.” Receita que aparentemente o ajudou a conquistar prêmios em diversos festivais nacionais e internacionais. E a ser eleito para o assento da Academia Brasileira de Letras (ABL) antes ocupado por seu colega Nelson Pereira dos Santos.

A maioria dos filmes do cineasta foi selecionada por grandes festivais internacionais, como Cannes, Veneza, Berlim, Nova York e Toronto, e exibida comercialmente na Europa, Estados Unidos e América Latina, o que o torna um dos realizadores brasileiros mais conhecidos em todo o mundo. Entre suas obras mais conhecidas estão Ganga Zumba (1964), A Grande Cidade (1966), Os Herdeiros (1969), Xica da Silva (1976), Bye Bye, Brasil (1980), Tieta do Agreste (1996), Orfeu (1999) e Deus é Brasileiro (2002). O Grande Circo Místico (2018) foi seu último lançamento como diretor.

Nascido Carlos José Fontes Diegues, em Maceió (AL), Cacá Diegues morreu na madrugada desta sexta-feira (14) devido a complicações de uma cirurgia. Deixa quatro filhos _ os dois primeiros de seu casamento com Nara Leão. O cineasta era casado, desde 1981, com a produtora de cinema Renata Almeida Magalhães. O velório será realizado neste sábado (15), a partir das 9h, na sede da Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro. (Da Redação, com informações da Agência Brasil)