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Documentário busca entender Frida Kahlo e sua arte íntima
Obra usa cartas escritas pela própria artista para contar sua história
A vasta obra de Frida Kahlo (1907-1954) pode ser definida, à parte seu rico universo artístico, como um relato de suas experiências de vida. Não faltam exemplos disso em seus escritos pessoais - que serviram como um bom ponto de partida para a cineasta peruana Carla Gutiérrez fazer “Frida”, um competente filme sobre sua vida.
“Frida” foi a estreia de Gutierrez como diretora de longas. Ela combinou narração em primeira pessoa com imagens de arquivo e animações interpretativas do trabalho da pintora no documentário, que já está disponível no Amazon Prime Vídeo.
Peruana, mas que bem cedo se mudou para os Estados Unidos, a diretora lembra que sua primeira conexão com as pinturas de Frida foi na faculdade. “Eu era uma jovem imigrante e havia uma pintura específica que realmente me apresentou à sua voz, em que ela aparece como artista na fronteira entre os Estados Unidos e o México”, diz ela. ‘Vi minha experiência vivida naquele momento refletida na pintura. Então, ela se tornou parte da minha vida”.
Novos planos
Carla trabalhou antes em projetos importantes, como os documentários “RBG” (2018) e “Julia” (2021), o que lhe permitiu envolver-se a fundo com a criação. Mas quando um amigo diretor lhe sussurrou o nome de Frida Kahlo, ela voltou aos livros da faculdade. Em poucas horas, estava fazendo planos para dirigir. “Essa história realmente me disse que eu precisava dar um passo a mais e dirigi-la”, conta ela. “Percebi que ela mesma poderia contar muito de sua própria história e senti que isso ainda não havia sido feito. Espero que seja uma nova maneira de entrar em seu mundo, em sua mente e em seu coração e de realmente entender a arte dela de uma forma mais íntima e crua.”
Carla explica que Kahlo não deu muitas entrevistas durante sua vida, mas escreveu cartas muito íntimas e pessoais. E ficou impressionada com seu senso de humor, com seu sarcasmo e ironia, bem como com “o quanto ela era explícita em suas opiniões”. “De certa forma, é como uma confiança bagunçada e um feminismo desordenado”, resumiu.
A equipe de filmagem teve de pesquisar em museus de todo o mundo para encontrar as cartas que seriam compiladas para criar uma imagem completa da artista — o que incluiu o Museu Frida Kahlo na Cidade do México.
Animação
Uma das decisões criativas mais importantes foi a de animar a arte de Kahlo, o que se mostrou um pouco controverso desde que o filme estreou no Sundance Film Festival. Alguns adoraram, outros não pareceram convencidos. Mas isso fazia parte da visão do filme desde seus estágios iniciais. A esperança de Carla era transportar o público do real para o mundo interior de Frida.
“Sempre pensei em seu coração e em suas veias passando de suas mãos para a tela”, enfatiza a diretora. “Queríamos respeitar as pinturas, mas, ao mesmo tempo, introduzir uma animação lírica, para que parecesse que estávamos mergulhando em seus sentimentos.”
Carla está especialmente orgulhosa pelo fato de seus colaboradores serem, na maioria, latinos e bilíngues. O compositor Victor Hernandez Stumpfhauser é mexicano. A equipe de animação é formada por artistas mexicanos e inclui a diretora de arte Renata Galindo. “Injetar essa compreensão cultural do país no filme é fantástico.” (Da Redação com Estadão Conteúdo)