Cultura
Gabinete de Leitura Sorocabano faz 157 anos
A instituição é a mais antiga de Sorocaba e preserva obras mais antigas que sua fundação, em 1867

Foi em um domingo, no dia 13 de janeiro de 1867, que Luiz Matheus Maylasky, presidente de uma sociedade alemã, assinou a ata de fundação do Gabinete de Leitura Sorocabano em um casarão antigo. Hoje, no 157º aniversário da instituição cultural, o documento ainda é preservado junto de um acervo de mais de 30 mil obras, que eternizam a história do município.
“O Gabinete de Leitura é uma instituição da época do Império, que atravessou a República, todas as guerras, e continua com suas portas abertas para todos os sócios e para a realização de pesquisas e desenvolvimento cultural”, conta Luciano Viana de Carvalho com orgulho nos olhos e que, aos 69 anos, é o atual presidente da entidade.
O prédio, localizado na rua Coronel Benedito Píres, no centro de Sorocaba, guarda o maior acervo histórico da cidade, com registros de 1867 até os dias atuais, e já foi palco de muitos momentos memoráveis. Entre eles, destaca-se a terceira vinda de Dom Pedro II, acompanhado da Imperatriz Teresa Cristina de Bourbon-Duas Sicílias e da Princesa Isabel, para discutir, supostamente, a abolição da escravatura.
“Aconteceu neste mesmo lugar, em 1886, mas na época era um casarão antigo e térreo. Inclusive, sua assinatura está registrada no livro de visita”, relata Luciano.
Muitas das obras do Gabinete de Leitura são centenárias e precisam ser preservadas em ambiente climatizado, como, por exemplo, a primeira edição do Cruzeiro do Sul, de 1903. Há também a Bíblia Hebraica, escrita em grego e datada em 1791, que pertenceu e foi doada ao gabinete por Júlio Ribeiro. A edição original de “Saci Pererê”, de Monteiro Lobato (que também já visitou o Gabinete de Leitura Sorocabano), publicada em 1917, também faz parte do extenso acervo e é mostrado por Laor Rodrigues, ex-presidente e membro mais antigo da instituição, com muito orgulho.
“Infelizmente, com o advento da internet, as bibliotecas e até mesmo o próprio jornal impresso tiveram uma decadência, e o Gabinete de Leitura não fugiu disso. O que enriquece o gabinete é, na verdade, o seu acervo, porque isso ficará para sempre”, afirma Laor.
No Brasil, já existiram outros gabinetes de leitura. O primeiro foi no Rio de Janeiro, o Real Gabinete de Leitura Português, e é um dos oito que permanecem abertos até hoje. Posteriormente, foi fundado o segundo em Pernambuco e o terceiro em Salvador. O Gabinete de Leitura Sorocabano está entre os dez primeiros e, hoje, é o único que se manteve ativo no Estado de São Paulo.
Luciano descreve que é uma “questão de prazer e de orgulho, saber que o nosso Gabinete de Leitura continua aberto”. Atualmente, a instituição é mantida pelos sócios e voluntários, com recursos do patrimônio e de doações.
História de Sorocaba
Muito além de palco para momentos históricos, o Gabinete de Leitura Sorocabano também foi fundamental para o desenvolvimento do município, na fundação de entidades e associações. De acordo com Luciano, o gabinete foi sede de 36 instituições, sendo 16 centenárias.
“A primeira foi a loja Perseverança III, que neste ano completa 154 anos, e logo em seguida, a Estrada de Ferro Sorocabana”, relembra o presidente. “Também tem a Associação Comercial de Sorocaba (Acso), que completou 103 anos. A primeira reunião foi feita no Gabinete de Leitura e, durante 16 anos, mantiveram o expediente aqui dentro”.
Uma curiosidade que Luciano faz questão de ressaltar é que, desde a abertura do Gabinete de Leitura, há 157 anos, as portas sempre estiveram abertas aos sócios, sem interrupções. E, hoje, o acervo também está disponível para o público pelo link: http://gls.phlnet.com.br.
Para o Futuro
Laor Rodrigues completa, em 2024, 90 anos. Dessas nove décadas de vida, está há sete como associado do Gabinete de Leitura e cita momentos incríveis do que apelidou, carinhosamente, de “época de ouro” da instituição.
“Naquela época, no final do século 19, quando Sorocaba tinha de 10 a 12 mil habitantes, uma biblioteca com muitos livros era um chamariz para a parte social da cidade. Naquela época não existiam clubes, portanto, o simples fato de ter uma biblioteca disponível era um grande polo”, relata o ex-presidente com um sorriso. “Para pegar um livro, era preciso agendar porque tinham muitas pessoas interessadas”.
É inspirado por essas histórias que Laor, mesmo sem a pretensão de um dia ser escritor, está escrevendo um livro sobre a participação do Gabinete de Leitura na história de Sorocaba. “Eu tenho que admitir, o Gabinete de Leitura não é hoje o que era no século 19 ou na grande parte do século 20. Portanto, eu me sinto na obrigação, como associado mais antigo, de deixar por escrito, porque vai chegar uma hora que não existirão mais testemunhas para contar o que foi o Gabinete de Leitura. Se não for registrado, daqui a 20 anos é capaz que as pessoas nem saibam”, explica.
A previsão é que o lançamento do livro, “O Gabinete de Leitura Sorocabano”, aconteça em abril deste ano.
Exposição
Em alusão ao seu 157º aniversário, o Gabinete de Leitura promove, pelos próximos quinze dias, uma exposição com obras centenárias do seu acervo, inclusive as citadas nesta matéria.
A exposição estará aberta ao público de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h. O Gabinete de Leitura está localizado na rua Coronel Benedito Píres, na região central de Sorocaba. (Beatriz Falcão - programa de estágio)
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