Cultura
‘O Menino e a Garça’ será exibido em salas brasileiras
Última criação de Miyazaki, obra deve chegar entre fevereiro e março
Um filme de Hayao Miyazaki, diretor de obras-primas como “Meu Amigo Totoro” e “A Viagem de Chihiro”, sempre é um evento cinematográfico. Mas “O Menino e a Garça”, primeiro longa do cineasta depois de 2013, quando ele chegou a anunciar sua aposentadoria, gerou um nível extra de expectativa, mas o filme só chega às telonas brasileiras depois de fevereiro de 2024.
Kimitachi Wa do Ikiru Ka (“Como Você Escolheria Viver Sua Vida?”) foi lançado no Japão, em julho, sem trailer, pôster ou divulgação. Foi a maior abertura de uma produção do Estúdio Ghibli no país. A ansiedade cresceu com a exibição do filme, que foi rebatizado de “O Menino e a Garça”, nos festivais de Toronto, San Sebastián, Nova York e Londres e, principalmente, com a estreia nos EUA, no último dia 8. A obra ficou em primeiro lugar na bilheteria - com o também japonês “Godzilla Minus One” em terceiro, algo raríssimo
Começaram a sair as críticas e as premiações: levou melhor animação do ano pelas associações de críticos de Nova York, Los Angeles e Boston, além de indicações ao Critic’s Choice e ao Globo de Ouro.
Mas os brasileiros ficaram angustiados: não havia distribuidor no Brasil. Não por falta de interesse. É que hoje, os filmes, com raras exceções, levam às salas metade do público que levavam antes de 2020. Isso significa um enorme risco para as empresas. Por uma série de circunstâncias, inclusive um desejo inicial de que houvesse uma única distribuidora para toda a América Latina, a vinda para o Brasil atrasou.
Mas a reportagem apurou que a Sato Company comprou a distribuição de “O Menino e a Garça” para os cinemas brasileiros. A companhia é a responsável pelo lançamento aqui de “Godzilla Minus One”, que estreou no último dia 14, e ficou em segundo lugar na bilheteria do final de semana.
“É uma grande alegria, especialmente por ser esta obra, que é considerada a última de Hayao Miyazaki”, disse à reportagem Nelson Sato, presidente da companhia. O filme deve estrear em fevereiro ou na primeira semana de março.
Para adultos e crianças
“O Menino e a Garça” contém elementos explorados pelo diretor de 82 anos em seus trabalhos anteriores, como o luto e as dores do crescimento. Mas o tom é diferente: mais sombrio, adulto, ainda que com uma estrutura mais livre, que vai encantar as crianças.
Miyazaki já usou elementos autobiográficos em seus longas, mas nunca de maneira tão evidente. Segundo Toshio Suzuki, cofundador do Ghibli, em entrevista ao site Deadline, o cineasta nunca havia feito um filme em que ele próprio é o protagonista. Por isso, o personagem principal é um menino de 12 anos, Mahito.
Na primeira cena, ele corre desesperadamente em direção ao hospital onde sua mãe está internada, depois de um bombardeio na Segunda Guerra Mundial. É uma sequência diferente de tudo o que o Estúdio Ghibli já produziu, simbolizando o horror da guerra e a impotência de uma criança frente à morte da mãe.
Como Mahito, o pequeno Hayao, nascido em 1941, cresceu com as imagens da guerra gravadas em sua memória. Durante o conflito, a família deixou Tóquio e foi morar em uma pequena cidade. Seu pai também fabricava partes de aviões destinados em combate. Sua mãe passou longos períodos internada por causa da tuberculose.
Sonho
Quando a garça do título aparece, dizendo-lhe que sua mãe ainda está viva, Mahito embarca sem hesitar em uma jornada vertiginosa por um território situado entre vida e morte, entre sonho e realidade, cuja porta de entrada é uma misteriosa torre construída por um tio-avô.
“O Menino e a Garça” é um testamento de Hayao Miyazaki. Como suas outras obras, traz seu assombro diante da capacidade de maldade e violência do ser humano, traumas e dores, mas também o valor da amizade, do amor, da beleza, do cuidado, da natureza, dos sonhos. (Da Redação com Estadão Conteúdo)