Los Angeles
Indústria de Hollywood fica paralisada com início da greve dos atores
Atores começaram o protesto nesta sexta-feira (14), se unindo aos roteiristas, parados há mais de dois meses, na luta por aumentos salariais
A indústria de Hollywood enfrenta a paralisação mais grave em 60 anos depois que os atores iniciaram uma greve nesta sexta-feira (14), unindo-se aos roteiristas que já estão parados há mais de dois meses, em uma disputa com os estúdios e plataformas de streaming para exigir aumentos salariais.
A greve convocada pelo comitê nacional do "Screen Actors Guild" (Sindicato dos Atores, SAG-AFTRA) dos Estados Unidos começou à meia-noite de quinta-feira (13), em Los Angeles (4h de Brasília, sexta-feira).
Os atores reivindicam melhorias salariais, um reajuste nos pagamentos que recebem pelas reexibições de suas produções, além de definições sobre o uso da Inteligência Artificial (IA) na indústria, entre outros pontos. "Não temos opção", declarou Fran Drescher, presidente do SAG-AFTRA e estrela da série "The Nanny", em um discurso enérgico para anunciar a convocação de greve contra os estúdios.
"Se não fizermos isso agora, todos vamos estar em apuros. Estaremos ameaçados de sermos substituídos pelas máquinas e os grandes negócios", afirmou a líder do sindicato, que reúne mais de 160 mil atores e outros profissionais do cinema e da televisão.
Assim, atores e roteiristas - que protestam há 11 semanas nas entradas dos estúdios com exigências similares - unem suas forças e ameaçam paralisar por completo a indústria, o que não acontecia desde 1960 em Hollywood. As duas categorias pedem um reajuste dos pagamentos pelas reexibições das produções, uma questão profundamente alterada pelo avanço das plataformas de streaming.
A Aliança de Produtores de Cinema e Televisão (AMPTP), que representa os estúdios e as plataformas de streaming, afirmou, em um comunicado, que ofereceu "aumentos históricos de salário e pagamentos residuais", além de respostas a outras demandas. "Uma greve não era o que esperávamos... O sindicato, infelizmente, escolheu um caminho que vai criar dificuldades econômicas para milhares de pessoas que dependem da indústria", acrescentou.
O CEO da Disney, Bob Iger, disse à emissora CNBC na quinta-feira (13) que as expectativas dos roteiristas e atores "não são realistas" e chamou a greve de "muito preocupante".
Paralisação da indústria
A paralisação dos roteiristas já havia reduzido a quantidade de filmes e programas em produção em Hollywood, mas sem atores a indústria será obrigada a parar quase por completo. Apenas alguns reality shows, programas de auditório e de entrevistas poderiam continuar no ar. Mas as séries e outras produções de grande sucesso enfrentarão atrasos. As estrelas também não participarão dos eventos promocionais de seus filmes.
A Comic-Con, um dos principais eventos anuais da cultura pop marcado para a próxima semana em San Diego, também pode ficar sem a presença de estrelas. O movimento sindical pode afetar ainda a presença dos atores da indústria americana em grandes festivais internacionais, como o de Veneza. A cerimônia do Emmy, prevista para 18 de setembro, pode ser adiada para novembro ou até mesmo para 2024.
Crise existencial
Um dos principais pontos de divergência entre os sindicatos e os estúdios são os chamados pagamentos "residuais", efetuados todas as vezes que as plataformas transmitem uma produção da qual participaram. Para os atores, a fórmula deve considerar a popularidade das produções na hora de realizar a compensação. Assim, um programa mais assistido geraria mais pagamentos "residuais".
Mas as plataformas de streaming, como Netflix e Disney+, mantêm sob sigilo as estatísticas de visualização e oferecem a mesma tarifa por tudo o que transmitem em seus catálogos, sem considerar a popularidade. Além disso, tanto atores como roteiristas querem a regulamentação do uso futuro da IA na indústria, que veem como uma ameaça a seu trabalho. A greve dupla confirma a crise existencial da indústria de Hollywood. Na quinta-feira (14), muitos atores organizaram um protesto em Nova York.
"É doloroso e necessário", declarou Jennifer Van Dyck, atriz e integrante do sindicato. "Quando o CEO da Disney recebe 45 milhões de dólares e nós pedimos para receber apenas um salário decente, acredito que são eles que podem ser acusados de serem pouco razoáveis". (AFP)