Cultura
Álbum de Zé Renato ‘Quando a noite vem’ chega às plataformas
Quando o cantor e compositor, Zé Renato entrou em estúdio para gravar “Arrivederci, Roma”, composição de Allessandro Giovannini, Pietro Garinei e Renato Ranucci, que faz parte da trilha sonora do filme homônimo de Roy Rowland, ele imaginou João Gilberto cantando essa canção. Ao gravar “Bom dia, tristeza”, parceria bissexta entre Adoniran Barbosa e Vinicius de Moraes, Zé também imaginou a voz do amigo Jards Macalé cantando e tocando esse que é um dos sambas-canções mais tristes da música brasileira. Na verdade, João Gilberto jamais gravou “Arrivederci, Roma”. Macalé tampouco, até hoje, registrou “Bom dia, tristeza”.
“Arrivederci, Roma” e “Bom dia, tristeza” são duas das nove canções -- todas regravações -- que estão no mais novo álbum de Zé Renato, “Quando a noite vem”, o 18º solo de sua carreira, recém-lançado nas plataformas digitais pela gravadora Biscoito Fino.
Imaginar versões que jamais existiram é um artifício que auxilia Zé a buscar inspirações e referências para aproximar essas canções do seu universo musical e interpretativo. O cantor já deu sua cara -- sempre com maestria -- ao abordar, em trabalhos anteriores, o repertório de nomes como Paulinho da Viola, Noel Rosa, Zé Ketti e Chico Buarque.
“A minha linha de interpretação sempre foi por esse caminho: o da imersão. Trazer essas músicas para a minha história. E essas inspirações, por mais malucas que sejam, me ajudam”, diz Zé.
Outro aliado: o violão -- que Zé toca em 8 das 9 faixas. “É ele que me dá o caminho das interpretações. A forma de tocar a música no violão me conduz”, conta. Pensando no instrumento, fica fácil entender as referências fictícias que Zé foi buscar.
Assim como as duas canções já citadas, o restante do repertório do álbum “Quando a noite vem” é igualmente dedicado ao romantismo, tema que seria vasto, tanto na música brasileira quanto na internacional.
A solução que Zé e a produtora e diretora Patrícia Pillar, que assina a direção artística do disco, encontraram foi seguir a memória afetiva do cantor. Outro ponto de corte para o intérprete é o fato de ele poder trabalhar com as melodias e as harmonias, seu interesse primordial dentro da música.
O álbum é o primeiro de Zé após ele levar um Grammy Latino de Melhor Álbum de Pop Latino, conquistado pelo disco “Pasieros”, colaboração do grupo Boca Livre, do qual ele fez parte -- o quarteto, por ora, está parado por divergências de opinião --, com o artista panamenho Rubén Blades. “É uma premiação do vocal brasileiro, que é uma tradição na música brasileira”, diz o cantor. E uma vitória também da melodia e da harmonia, base do canto de Zé Renato. (Estadão Conteúdo)