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Cultura

Sorocabano Pedro Lopes expõe obras em Itu

"Entre épocas e estilos" Começa hoje, no Fama Museu, e apresenta 18 trabalhos do artista

31 de Março de 2023 às 23:01
Wilma Antunes [email protected]
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A "República das Maçãs" é uma das estações que formam a exposição (Crédito: DIVULGAÇÃO)

O artista sorocabano Pedro Lopes, de 71 anos, apresenta hoje (1º) sua exposição “Entre épocas e estilos” na Fábrica de Arte Marcos Amaro (Fama) Museu, em Itu. A mostra conta com um conjunto de 18 obras que são divididas em quatro movimentos: “República das Maçãs”, “Boca do Lixo”, “Alquimia” e “Terra Água Vermelha”, cada um remetendo a um período histórico e estilo distintos, resultado de uma pesquisa artística minuciosa desenvolvida por Lopes.

Como curador desta homenagem à arte sorocabana, outro nome consagrado das artes plásticas da região: Allan Yzumizawa. Ele presenteia o público com uma seleção de desenhos e estudos que compuseram a trajetória criativa de Pedro Lopes. O intuito da exposição, segundo ele, não se limita a mostrar os talentos artísticos de Lopes, mas também visa evidenciar a sua poética, sua maneira singular de refletir e retratar a realidade de seu tempo e espaço.

Allan Yzumizawa é o curador da mostra - DIVULGAÇÃO
Allan Yzumizawa é o curador da mostra (crédito: DIVULGAÇÃO)

“Conheci o Pedro em 2018 e, desde então, temos mantido certo contato. A proposta foi um convite da Fama e a minha sugestão foi fazer uma exposição histórica, contando percursos estéticos durante as décadas. O Pedro é uma referência para artistas de Sorocaba porque, mesmo no interior, ele dialoga com várias vanguardas artísticas do Brasil. Ele não se separa do todo, ele está inserido. Na exposição, terá duas vitrines com coleções de desenhos e estudos das obras para o público acessar a forma de pensar do artista”, explicou o curador.

Séries

O conjunto “República das Maçãs” reúne obras de Lopes da década de 1970, que retrata a inserção da cultura americana no Brasil por meio da maçã, de forma irônica e metafórica. Em contraste com Antonio Henrique Amaral, que retratava bananas sendo torturadas, Lopes apresenta a maçã como um símbolo de uma fruta estrangeira que se instala no País. As pinturas, planificadas e com pouco uso de sombra e luz, além da temática crítica do contexto histórico em que se vivia, se assemelham com a pop arte realizada por outros artistas na América Latina.

Artista Pedro Lopes comemora exposição - DIVULGAÇÃO
Artista Pedro Lopes comemora exposição (crédito: DIVULGAÇÃO)

Já a série “Boca do Lixo” contém obras feitas na década de 1980, quando Lopes desempenhou um importante papel como professor na Faculdade de Belas Artes de São Paulo e dessa forma, estabeleceu seu cotidiano no bairro da Luz, conhecido como Boca do Lixo. Inspirado na vida noturna paulistana, o artista retratou em suas pinturas prostitutas, músicos, clientes e outras pessoas que frequentavam e trabalhavam no local. Sua paleta de cores, mais escura, captura o clima e a atmosfera do ambiente.

A “Alquimia” também reúne obras da década de 1970, período em que Lopes foi influenciado pela busca pelo transcendental presente na segunda metade dos anos 1960, após a viagem dos Beatles para a Índia e a disseminação da meditação transcendental. Abandonando a pintura figurativa, o artista experimentou a pintura abstrata como forma de acessar uma outra realidade, criando novas formas durante o processo de pintura, refletindo sua busca pela transformação e transcendência.

Por fim, o conjunto “Terra Água Vermelha”, com obras feitas a partir dos anos 2000 até a atualidade, marca o retorno do artista para Sorocaba, que aconteceu na década de 1990. Influenciado por estudos sobre os movimentos concretos, Lopes passa a construir uma geometria torta, dialogando com um abstracionismo informal e único -- um Concretismo Caipira -- a partir dos registros que fez da paisagem sorocabana. A paleta de cor única em tons quentes e alaranjados é utilizada para criar pinturas geométricas que retratam a cidade desde sua fundação.

18, o número da vida

Para Lopes, nada na vida ocorre por mera coincidência. Embora a seleção das 18 obras para a exposição no Fama Museu possa não ter sido intencional, o artista atribuiu um significado ao acaso. Especificamente, o número 18 tem uma importância especial na cultura judaica e para os cabalistas, já que representa o valor numérico da palavra “chai”, que significa “vivo”. Além disso, os praticantes do sufismo consideram o número sagrado, e os mitos nórdicos revelam que o deus Odin apresentou 18 princípios de sabedoria.

De maneira interessante, um evento da vida levou Lopes a participar de uma ação em que artistas podem interferir artisticamente em casas disponibilizadas por uma galeria em prol de crianças carentes em São Paulo. “Fui convidado a participar e fiquei surpreso ao perceber que são exatamente 18 casinhas. A vida é assim, acontece sem planejar”, disse ele.

A arte de mudar vidas

O artista sorocabano está animado com a abertura da exposição no Fama Museu. Para ele, o convite para expor na instituição é um prêmio inesperado e uma grande honra. “Eu espero que tudo ocorra da melhor forma possível e que a minha arte possa ajudar a desenvolver a sensibilidade e o olhar de alguém, trazendo alegria por meio da percepção. Essa é a função da arte”, destacou.

Para quem quiser conferir as obras de perto, basta visitar a Fama, localizado na rua Dr. Graciano Geribelo, número 8, no bairro Alto. O museu funciona todos os dias, das 11h às 17h. Como hoje (1) é a abertura da exposição, a entrada é gratuita. Nas quartas-feiras, os visitantes também não pagam nada para entrar. Nos outros dias da semana, é cobrada uma taxa simbólica de R$ 10, mas os moradores de Itu podem obter meia-entrada (R$ 5) com um comprovante de residência. (Wilma Antunes)

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