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Filmes do Youtube: Hannah Arendt (parte 3 de 5)

23 de Fevereiro de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
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Encerrei o artigo da semana passada começando a escrever como Eichmann via seus próprios atos no extermínio de judeus. Sua forma de atuação irrefletida pode, de certa forma, ser comparada (atenção, comparar não é identificar) a muitos de nossos atos cotidianos, aparentemente inofensivos, que contém uma latente maldade, sobretudo quando não nos colocamos no lugar do outro. Por banalidade do mal, Arendt entendia o mal cotidiano. Por sua própria definição, o mal banal é realizável pelo sujeito ‘de bem‘: a aprofobia (ódio aos pobres), a indiferença com a condição dos famintos e dos desempregados, a apatia e indiferença diante da enorme desigualdade econômica etc. Tudo se passa como se não nos importássemos quem seja o culpado ou a vítima.

O prazer perverso com a desgraça alheia está cada vez mais acessível, seja por meio dos programas de violência propriamente dita em jornais, na televisão e nas redes sociais, seja por violências mais sutis, tais como a que um telespectador pratica ao ajudar a ‘eliminar‘ os participantes de um reality show. São exemplos simples do cotidiano que nos ajudam a pensar no que estamos fazendo uns com os outros e colocam o mal como algo obviamente banal. O sociólogo e filósofo francês Jean Baudrillard, ao analisar a versão francesa do Big Brother, afirmou que o fingimento, a mentira, a hiper-realidade das imagens torna banal o que é obsceno e pornográfico.

A filosofia política de Arendt não pode ser caracterizada em termos das categorias tradicionais de conservadorismo, liberalismo e socialismo. Arendt era defensora do estado de direito, defensora dos direitos humanos fundamentais. Aponta a banalidade do mal como inerente aos regimes totalitários de qualquer coloração ideológica, seja nazismo, seja estalinismo.

O totalitarismo só se sustenta enquanto for capaz de inviabilizar o espírito crítico e a ação política contraditória. Por isso, os totalitarismos se empenham tão decididamente em controlar a Educação, a Imprensa, a Arte e a Cultura. Menos de quatro meses depois de ascender ao poder em 1933, Hitler implementou a enorme queima de livros que criticavam ou não atendiam aos padrões impostos pelo nazismo.

A psicologia pressupõe a autonomia de formas de pensar individuais e, na vida cotidiana podemos observar que cada ser humano é único em suas crenças, valores, atitudes, comportamentos. Freud escreveu que o indivíduo, quando integrado a um grupo, perde a capacidade de refletir com lógica e adquire um pensamento padronizado, certa inconsciência individual por seus atos. A padronização de pensamento de um grupo decorre da incapacidade do indivíduo, de refletir, sentir e agir racional e criticamente. A padronização de pensamento contraria a própria psicologia individual que caracteriza a espécie humana e por isso, contraria a própria razão. O totalitarismo não quer o debate de ideias com o uso da razão, ele quer padronizar os indivíduos como se fossem um único indivíduo, tentando destruir a pluralidade característica da espécie humana. No filme, Eichmann afirma que a educação que as crianças recebiam, a ideologia que se inseminava, o serviço militar, tudo padronizava o comportamento humano.

Está série de artigos está incluída no projeto Cine Reflexão da Fundec