Patrimônio cultural
Gabinete de Leitura Sorocabano guarda séculos de história
Fundada em 1867, instituição sorocabana mais antiga em funcionamento, é transformada em patrimônio imaterial
Considerado berço de entidades filantrópicas, palco de grandes amores e parada obrigatória para personalidades ilustres da história brasileira, o Gabinete de Leitura Sorocabano é muito mais do que um clube para leitores assíduos.
A instituição, que agora se tornará patrimônio cultural imaterial do município, foi oficialmente fundada em 13 de janeiro de 1867, ainda na época do império, por um grupo de voluntários liderados por Luiz Matheus Maylasky. Desde então, há 155 anos, o Gabinete de Leitura assumiu uma importante posição em relação ao desenvolvimento do município.
Laor Rodrigues, presidente da associação, contou que Dom Pedro II -- imperador do Brasil entre os anos de 1840 a 1889 -- visitou o local por três vezes. “Na época, ele incentivava a abertura de bibliotecas, principalmente no interior de São Paulo”, explicou.
Ainda conforme Rodrigues, foram criados 17 gabinetes de leitura durante o período do império. De todos eles, apenas a entidade de Sorocaba continua em atividade. Desta forma, é considerada a instituição cultural mais antiga da cidade.
Outros dois gabinetes, que ficam em Jundiaí e Rio Claro, também existem. No entanto, passaram a ser administrados pelos próprios municípios. Diferente da entidade de Sorocaba, que permanece privada desde a sua fundação.
A lista de visitantes ilustres do Gabinete de Leitura Sorocabano também conta com a assinatura de outras personalidades relevantes do Brasil imperial. Entre elas: Teresa Cristina de Bourbon-Duas Sicílias, esposa de Dom Pedro II; e a Princesa Isabel, filha mais velha do casal.
Grandes nomes da literatura brasileira, que hoje são referência nas salas de aulas, também conheceram um dos cartões postais da Manchester Paulista. Carolina Maria de Jesus e Monteiro Lobato gostaram tanto da associação que deixaram dedicatórias no livro de registros.
Acervo
Atualmente, o gabinete conta com mais de 50 mil documentos em seu acervo. Os registros mais antigos são do século 18. Além das declarações carregadas de histórias -- denotada também pela escrita antes da reforma ortográfica de 1911 -- há fragmentos memoráveis de outras partes do mundo.
Entre as preciosidades do acervo, está uma Bíblia escrita na língua grega, datada de 1865 e doada pelo professor Júlio Ribeiro em 1872. Entre os corredores da entidade, é facilmente encontrado coleções de revistas e jornais.
O primeiro exemplar do jornal Cruzeiro do Sul, veiculado em 12 de junho de 1903, está guardado na instituição, junto a outras centenas de edições, organizadas por ano. Nas prateleiras também há exemplares do Diário de Sorocaba, Diário de Ipanema, O Estado de São Paulo, Folha de São Paulo, entre outros.
O presidente da entidade, empolgado, disse à reportagem que é praticamente impossível resumir tantos anos de história em uma simples conversa. Mas ele se esforça. Um dos objetivos de Rodrigues para 2023 é lançar um livro sobre a história do Gabinete de Leitura Sorocabano.
“A história do gabinete é uma coisa maravilhosa. Eu, modestamente, dentro da minha possibilidade, estou fazendo um livro sobre a sua história. É lindo. O acervo é de uma preciosidade imensurável. Também existe o fato de que quase todas as grandes entidades, que ainda existem, nasceram dentro das dependências do gabinete”, afirmou.
Certamente, o Gabinete de Leitura contribuiu para o nascimento de grandes entidades que desempenham papéis importantes na sociedade sorocabana. Entre as principais instituições estão: Loja Maçônica Perseverança III, em 1869; Estrada de Ferro Sorocabana (1875); Santa Casa de Misericórdia/nova fase (1899); Sociedade Beneficente 25 de Julho (1908); Associação Comercial e Industrial de Sorocaba (1922); Comissão para instalação da primeira Diocese na cidade (1924); Aeroclube de Sorocaba (1942); e Museu Histórico de Sorocaba (1944).
Com tantos feitos ao longo dos anos, o Gabinete de Leitura Sorocabano agora é reconhecido como patrimônio cultural imaterial do município. Rodrigues ficou contente com a conquista e reforçou o valor da entidade.
“Sem dúvida nenhuma, me sinto contemplado. Só o fato de o projeto ser discutido, já é algo muito bom. Durante o fim do século 19 e começo do século 20, o Gabinete de Leitura tinha uma relevância muito grande para a cidade. Nada acontecia na cidade sem passar por aqui. Tanto que grandes nomes da história já passaram pelo gabinete”, destacou.
Laor Rodrigues também faz parte do Conselho Consultivo da Fundação Ubaldino do Amaral (FUA), mantenedora do jornal Cruzeiro do Sul. O Gabinete de Leitura fica na praça Coronel Fernando Prestes, 21. Mais informações sobre a entidade e os serviços oferecidos podem ser obtidas pelo (15) 3232-0768. (Wilma Antunes)
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