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Luto

Milton Gonçalves morre aos 88 anos no Rio de Janeiro

Ator se recuperava de um AVC sofrido em 2020

30 de Maio de 2022 às 15:50
Cruzeiro do Sul [email protected]
Ele morreu na tarde desta segunda-feira (30)
Ele morreu na tarde desta segunda-feira (30) (Crédito: Reprodução)

O ator Milton Gonçalves morreu ontem (30), aos 88 anos. Segundo a família, a morte ocorreu em casa, no Rio, às 12h30, por consequências de problemas de saúde que vinha enfrentando desde que teve um AVC sofrido em 2020. Na época, chegou a ficar internado por três meses.

Era um ator de formação teatral sólida, participou de mais de 40 novelas na Globo e teve importante ação para marcar a presença de atores negros na tela. Nascido em 9 de dezembro de 1933 em Monte Santo, Minas Gerais, ele se mudou para São Paulo ainda na infância. Foi alfaiate, gráfico e aprendiz de sapateiro. Com 24 anos, depois de atuar em peças amadoras, estreou no Teatro de Arena a convite do diretor e dramaturgo Augusto Boal (1931-2009), que o escolheu para o elenco da peça “Ratos e Homens”. Ao se radicar no Rio, Milton fez episódios do “Grande Teatro Tupi”, na TV Tupi, programa que adaptava para a TV peças teatrais

Pioneiro

Em 1965, Milton foi um dos primeiros atores contratados a integrar o elenco de uma nova emissora carioca, a TV Globo, da qual nunca mais sairia. Naquele ano, participou de quatro novelas do canal. Na sequência, fez os humorísticos “TV0-TV1” (1966) e “Balança Mas Não Cai” (1968).

Quando a Globo levou ao ar “A Cabana do Pai Tomás” (1969), novela baseada em um clássico romance norte-americano sobre a escravidão nos EUA, a classe artística achou que o papel deveria ser de Milton. Mas o personagem, negro, foi interpretado por Sérgio Cardoso (1925-1972), que era branco.

Diretor

A convite de Daniel Filho, principal nome da produção da Globo, Milton dirigiu novelas como “Irmãos Coragem” (1970) e alguns capítulos de “Selva de Pedra” (1972), dois clássicos de Janete Clair. Ao longo dos anos 1970, ele brilhou em frente às câmeras com personagens marcantes, como o Professor Leão, de “Vila Sésamo” (1972), e Zelão das Asas, de “O Bem-Amado” (1973). Milton também estava no elenco da primeira versão de “Roque Santeiro”” (1975), no papel de Padre Honório, mas a trama foi proibida pela ditadura militar.

Ele esteve presente em outros sucessos de audiência, como “Baila Comigo” (1981), de Manoel Carlos, “Sinhá Moça” (1986), de Benedito Ruy Barbosa, e “A Favorita” (2008), de João Emanuel Carneiro.

Seu último papel na TV foi como Papai Noel no especial “Juntos a Magia Acontece”, que foi ao ar em dezembro de 2019. Ele interpretou um homem negro que luta para personificar um Papai Noel, apesar do preconceito racial. A história rendeu à Globo um Leão de Ouro na categoria Entretenimento, no Festival de Cannes.

No cinema, ele participou de “Macunaíma” (1969), de Joaquim Pedro de Andrade, “Rainha Diaba” (1974), de Antonio Carlos da Fontoura, talvez seu papel mais forte, “Eles Não Usam Black-Tie” (1981), de Leon Hirszman, e “Carandiru” (2003), de Hector Babenco.

No carnaval deste ano, o ator, que foi um grande combatente ao racismo, foi homenageado no samba-enredo da Acadêmicos de Santa Cruz, no Rio. (Da Redação com Estadão Conteúdo)