Cultura
‘As Meninas Velhas’ tem Lucinha Lins e trata etarismo com humor
“Eu trepei em árvores até cinco ou seis anos atrás. Hoje, olho para ela e penso: acho que não vou.” É com essa leveza que a atriz e cantora Lucinha Lins, de 69 anos, encara o passar do tempo. Esse comportamento guarda certa semelhança com as personagens de “As Meninas Velhas”, peça estrelada por ela e em cartaz no Teatro Vivo.
Escrito pelo ator, dramaturgo e bailarino Claudio Tovar, marido de Lucinha, o espetáculo conta a história de uma grande e longa amizade entre quatro mulheres que, companheiras, envelhecem juntas - sem qualquer amargor ou medo do calendário.
“São mulheres louquíssimas, muito engraçadas. Elas começam o espetáculo na faixa dos 60 anos. Entre uma cena e outra, elas envelhecem, mas sem perder o lado menina. Por isso, o título ‘As Meninas Velhas’”, explica Lucinha. Ao lado dela, no elenco, estão as atrizes Barbara Bruno, Sônia de Paula e Nadia Nardini.
A personagem de Lucinha na peça é Zuleika, uma atriz medíocre que, apesar de ter feito diversos cursos, não evoluiu na carreira. Ela interpreta o tempo todo. Fala alto, tem momentos de puro drama e se veste como sempre estivesse em cena. “Ela se acha uma atriz espetacular”, diverte-se Lucinha.
Zuleika, claro, é acolhida pelas amigas. Afinal, amizade é isso. Todas, cada uma com sua personalidade, acabam embarcando no universo dela. A relação entre as amigas, além das visitas que fazem umas às outras, se dá em uma praça, onde se encontram. Ali, aos olhos do público, elas envelhecem.
Para além do lado cômico proposto pelo texto, a peça levanta reflexões importantes, sobretudo em uma sociedade em que o etarismo, infelizmente, é uma realidade. Às quatro amigas é permitido se apaixonar e sentir tesão - seja por alguém ou pela vida. O importante para elas é o hoje. A frase “você não tem mais idade para isso” não faz sentido para elas.
Os ingressos custam de R$ 30 a R$ 60 e estão disponíveis por meio do sympla.com.br
Na sala de casa
“As Meninas Velhas” estreou no Rio de Janeiro em setembro de 2021. O texto escrito por Tovar estava pronto há algum tempo. Em uma dessas “arrumações” nos arquivos do computador, Claudio Lins, filho de Lucinha, que assina a trilha sonora da peça, achou o original que o autor havia lhe enviado. Ele releu e sugeriu que Tovar e a mãe fizessem o mesmo.
A peça, então, foi enviada ao diretor Tadeu Aguiar que se encantou com o texto e pediu para dirigir a montagem. Os ensaios foram feitos na casa de Lucinha, ainda durante a pandemia, entre máscaras e álcool em gel. Tovar fez cenários e figurinos.
“As Meninas Velhas” ficará em cartaz até o fim do mês no Teatro Vivo. Lucinha, no entanto, revela que já há outro espaço em vista para que a peça siga sendo apresentada em São Paulo. “É um sucesso, não podemos parar! Se já era difícil fazer teatro no Brasil, agora está dez vezes mais”, comenta.
Apesar de a peça ter uma trilha sonora original, Lucinha não canta no espetáculo - salvo em um pequeno momento. Ela, que também tem uma carreira consolidada como cantora, é muito lembrada por uma canção que gravou há mais de 40 anos que - sem exagero - povoa o imaginário coletivo e se renova com as redes sociais.
Além da peça, Lucinha poderá ser vista, a partir de 15 de abril, na série Sentença, produção original da Amazon Prime, com Camila Morgado como protagonista. Criada por Paula Knudsen, e produzida por Carla Ponte e Santiago López Rodríguez, da Cimarrón Cine, a produção foi filmada no Uruguai. (Da Redação com Estadão Conteúdo)