Cultura
Pesquisador descobre músicas inéditas dos Secos & Molhados
Uma gravação registrada no dia em que os Secos & Molhados fizeram um dos shows mais importantes de sua breve carreira, em fevereiro de 1974, no Ginásio do Maracanãzinho, revela duas músicas jamais lançadas pelo grupo e, provavelmente, tocadas ao público apenas naquela noite. Elas estavam em uma fita nos arquivos do pesquisador e produtor Marcelo Fróes, dono do selo Discobertas, que as encontrou por acaso, durante a pandemia, ao começar a organizar os mais de 20 mil registros que possui em casa.
Ao reouvir a íntegra da gravação ao vivo, ele identificou, com a ajuda de especialistas na história da banda, as canções que ficaram de fora até mesmo dos registros já lançados em LP sobre o primeiro grande show feito pelo grupo de João Ricardo, Ney Matogrosso e Gerson Conrad. As músicas escondidas havia quase 50 anos foram submetidas ao reconhecimento dos próprios músicos. Avesso a entrevistas, apenas João Ricardo não respondeu às tentativas de contato.
Apesar de contar com uma qualidade de som caótica, o show do Maracanãzinho é considerado o primeiro grande ato ao vivo do grupo. “Não sabíamos se seríamos vaiados”, lembra o baixista Willy Verdaguer. “Eu não ouvia o que cantava”, lembra Ney. “Não conseguia curtir.” Assim que o show começou, parte dos fãs começou a invadir a área de exclusão ao redor do palco delimitada pela polícia. Ao ver os seguranças saindo em busca dos fãs, Ney parou o show e se recusou a obedecer a uma voz ao fundo do palco que o mandava voltar.
Décadas depois
A reação dos artistas depois de ouvirem os áudios é de espanto. “Sim, a voz é minha”, diz Ney depois de ouvir a primeira música, um rock com uma declamação de João Ricardo na primeira parte e seu canto na segunda. “Sei que deveria conhecer, mas não faço ideia do que seja.” Ney, a princípio, fica em dúvida com relação ao local do áudio. “Seria difícil colocarmos algo novo no repertório do Maracanãzinho, mas o som é de ginásio.” Sobre a qualidade dos versos, diz: “Tanto não é boa que não ficou, não cantamos nunca mais”. Como a letra traz características da composição de Paulo Mendonça, autor dos versos de Sangue Latino, a gravação foi enviada a ele. E ele cravou: “É minha”.
Gerson Conrad achou primeiro que a voz do rock não era a de João “Ele não cantava assim.” Depois, a pedido do jornal, ouviu em uma caixa JBL, com mais graves, e reconsiderou: “É ele mesmo”. Emílio Carrera, que incendeia uma das músicas com piano, escreveu enquanto ouvia: “Noooossssa! Que joias! Sei que sou eu, que somos nós, mas nunca havia escutado”. E John Flavin, guitarrista que faz um solo de introdução no mesmo rock, reconheceu-se e definiu: “Doideira”. Marcelo Fróes não pensa em correr atrás de liberações para lançar as músicas oficialmente. “Não tenho ânimo para entrar nessas brigas.” (Da Redação com Estadão Conteúdo)