Telinha
‘Munique’ traz bastidores da véspera da 2ª Guerra
Filme disponível na Netflix remete a outro drama de guerra, "1917"
Da última vez que vimos George MacKay correndo, ele estava a toda velocidade em um campo de batalha da Primeira Guerra Mundial. Em “1917”, o ator britânico interpretou um soldado encarregado de transmitir uma mensagem de que uma ofensiva prestes a ser lançada estava fadada ao fracasso.
Em “Munique: No Limite da Guerra”, o ano é 1938 e o cenário é Londres, depois Munique. Mas MacKay está novamente trazendo comunicações urgentes que às vezes o fazem correr pelas ruas da cidade -- como entregar ao primeiro-ministro Neville Chamberlain (Jeremy Irons) notícias das últimas ações da Alemanha contra a Checoslováquia.
Ainda não estamos imersos na confusão da guerra, como em “1917”, mas estamos preparados para seu prelúdio. No papel de Hugh Legat, MacKay interpreta um recém-formado em Oxford e secretário particular de Chamberlain. Ao redor de Londres, Legat observa os sinais ameaçadores de uma tempestade que se aproxima, enquanto testemunha o funcionamento íntimo de um primeiro-ministro manobrando para manter Hitler sob controle. O tempo avançou duas décadas, mas MacKay é novamente um ator em um grande drama, desesperado para evitar uma catástrofe inevitável.
O filme, disponível na Netflix, é dirigido por Christian Schwochow e adaptado do livro de Robert Harris, de 2017. O romance histórico foi baseado em fatos, mas inventou um punhado de personagens imaginários que giram em torno de Chamberlain e Hitler. Legat é uma dessas invenções, como seu colega de faculdade, Paul (Jannis Niewöhner), um alemão que agora trabalha no Ministério das Relações Exteriores de seu país, mas furtivamente tenta sabotar a ascensão de Hitler (Ulrich Matthes). Com uma bela reconstituição da época, “Munique - No Limite da Guerra” é um thriller histórico cativante e fácil de se assistir, com personagens fictícios como espiões em torno de líderes políticos em um momento profundamente tenso e mal interpretado.
Vergonha
É um momento muitas vezes visto com vergonha. Hitler está se preparando para invadir os Sudetos, cadeia de montanhas com população majoritariamente alemã no oeste da Checoslováquia. A Europa está tentando avaliar o alcance total das ambições de Hitler, e rezando para que isso não signifique outra guerra. Se aquela região checa for concedida à Alemanha, isso vai acalmá-lo e evitará mais derramamento de sangue em todo o continente? Nós, é claro, sabemos a resposta a essa pergunta, e isso rouba do filme um pouco de seu drama. Também lhe dá uma pungência comovente: lutar pela paz vale a pena, sugere “Munique”, mesmo quando é uma causa condenada.
Mas também é um momento estranho para comemorar o apaziguamento dos fascistas. O legado geralmente aceito do Acordo de Munique é que Chamberlain estava fatalmente errado quando ele, ao desembarcar na Grã-Bretanha depois de garantir uma promessa de Hitler, anunciou “paz em nosso tempo” para o aplauso de uma multidão. A melhor justificativa para o Acordo de Munique é que ele deu tempo para a Grã-Bretanha e outros construírem suas defesas para a guerra que começaria imediatamente um ano depois. Mas abriu a porta para a conquista de Hitler. “Munique” seria mais bem fundamentado -- e mais oportuno -- se gastasse menos esforço para honrar as nobres esperanças de Chamberlain e mais tempo examinando por que ele, a Grã-Bretanha e a Europa não estavam mais atentos ao perigo claro e presente. (Estadão Conteúdo)