Buscar no Cruzeiro

Buscar

Cultura

Arte é negociada por blockchain

30 de Dezembro de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
"Chilled Kongs" é composta por 8.888 obras digitais únicas e se esgotou em nove horas. (Crédito: DIVULGAÇÃO)

Arte e finanças sempre andaram juntas. Agora, chegaram a um novo patamar tecnológico, com obras sendo expostas e negociadas por meio do blockchain, uma plataforma conhecida por transacionar criptomoedas. Da mesma forma, compram-se e vendem-se obras virtuais. As que têm feito mais sucesso ultimamente são as NFTs, sigla da expressão em inglês non-fungible token (token não fungível). Na prática, trata-se de uma sequência única que não pode ser modificada e, portanto, consegue vir automaticamente com uma espécie de autenticidade de sua veracidade.

O exemplo do “mundo real” que mais se assemelha ao das NFTs são os álbuns de figurinhas. Compra-se um envelope por um preço mais baixo para a coleção e conta-se com a sorte, para que não venha um item repetido. De preferência, o comprador quer logo ter em mãos a figurinha mais rara, como a do craque de futebol do momento, no caso de um álbum com o tema da Copa do Mundo.

No mundo virtual, o artista (ou grupo) estabelece o número de figuras que vai disponibilizar no mercado e cria um ranking de raridades. No início, é preciso mostrar as ofertas, mas a escassez só é de domínio público quando a coleção é esgotada.

No mundo, as coleções de mais sucesso são as Bored Ape Yacht Club (Bayc), lançada em abril, e a CryptoPunks, de 2017. Cada uma delas é formada por 10 mil itens digitais únicos no blockchain da moeda virtual Ethereum.

Para se ter uma ideia sobre até onde isso pode chegar, o Bayc de número 8871 (o terceiro macaco mais raro com pelo dourado) foi vendido em um leilão por US$ 3,4 milhões. Já a figura 7523 da CryptoPunks chegou ao recorde de US$ 11,8 milhões. As obras também podem ser negociadas no mercado secundário e, a cada vez que isso acontece, é pago um royalty para o artista.

Num leilão no dia 8 de dezembro, a coleção de arte digital desenhada pelo brasileiro André Monfort ocupou primeira posição no ranking mundial de volume de negociação da Cardano, faturando mais de R$ 2,2 milhões no lançamento. A Chilled Kongs é composta por 8.888 obras digitais únicas e se esgotou em nove horas.

Mercado

A febre no mundo contagiou alguns brasileiros. Durante a pandemia, André Monfort deixou a arquitetura e a engenharia civil de lado para explorar esse novo e ainda desconhecido mercado. Depois de estudar um pouco e montar uma equipe, lançou sua coleção no blockchain da Cardano (ADA), outra moeda virtual. A ADA chegou a registrar em 2021 o posto da segunda moeda digital mais negociada do mundo, atrás apenas do Bitcoin, alçou à terceira posição em valor de mercado e hoje ocupa a sexta posição com valor de mercado, de mais de US$ 43 bilhões. Cada uma delas conta com centenas e até milhares de coleções de figuras de arte.

“Estamos tentando surfar essa onda o máximo que der. Pode durar um tempo curto ou pode se consolidar”, disse ele, que embolsou junto com a equipe R$ 58 mil de royalties na semana anterior à entrevista. Entre os que já ingressaram no mercado, a ideia é realmente aproveitar o boom antes que grandes companhias, como Disney, comecem a explorar a atividade e acabem retendo muitos clientes, o que poderia deixar a competição desequilibrada. (Da Redação com Estadão Conteúdo)