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Cultura

Flávio Migliaccio é tema de documentário

15 de Julho de 2021 às 00:01
Da Redação com Estadão Conteúdo [email protected]
Obra usa entrevistas do ator e passagens de filmes.
Obra usa entrevistas do ator e passagens de filmes. (Crédito: DIVULGAÇÃO)

Flávio Migliaccio (1934-2020) foi um artista múltiplo: ator, diretor, roteirista e produtor. Acima de tudo, ator de muito talento, admirado pela crítica, popular entre adultos e muito querido pelo público infantil. Fez peças engajadas no Teatro de Arena, personagens muito divertidos em filmes para crianças, e representou “O Povo” no clássico de Glauber Rocha, “Terra em Transe” (1967). Terminou de maneira triste no tristíssimo Brasil de 2020, mas deixou um legado muito alegre e positivo. É o que vemos em “Flávio Migliaccio, O Brasileiro em Cena”, que está em cartaz no cinema, e foi dirigido por uma trinca de cineastas -- Alexandre Rocha, Marcelo Pedrazzi e João Mariano, o Tuco -- e tendo como um dos roteiristas Marcelo Migliaccio, filho do ator.

O título do filme é particularmente feliz, e define o personagem Migliaccio foi um autêntico ator brasileiro, cepa híbrida de necessidade, improviso, dedicação e talento. O material do documentário é tirado de entrevistas com o autor, uma mais recente e outras mais antigas. Além delas, há o material de arquivo, filmes realizados e trechos de uma peça de teatro em que o personagem, já velho, dialoga com ninguém menos que...Deus. A obra se chama “Confissões de um Senhor de Idade”. Nela, realizando um balanço de vida, o “senhor de idade” Flávio Migliaccio faz cobranças ao Todo-poderoso. “Onde estava o Senhor quando ocorreram a Peste Negra, o Holocausto, a Guerra do Vietnã, o ataque às Torres Gêmeas...Onde estava quando chamaram o Dunga para dirigir a seleção brasileira?”

Esse toque de humor acompanha todo o filme. Um humor terno, delicado, triste às vezes. Migliaccio conta sua infância numa família paulistana pobre, de 11 irmãos, pai barbeiro. Lembra, de maneira despretensiosa, quando chegou ao teatro, no caso o mitológico Arena, de Augusto Boal. As fases de sua carreira vão se sucedendo de maneira simples, quase casual, sem qualquer afetação. A chegada ao Rio, a participação no Cinema Novo, o sucesso na Globo. A fama, o dinheiro. Depois o peso da fama, a necessidade de se sentir só. E, contradição, o peso do anonimato tão buscado, mas que o artista não mais suporta ao não ser reconhecido pelas pessoas na rua. Tudo isso é contado sem atropelos, num ritmo amigável, sem necessidade de esmagar o espectador sob uma pilha de informações.

No entanto, vista em retrospecto, como no documentário, sua trajetória parece feita de luz. Os trechos de filmes mostrados nos lembram da vocação cômica e da intensidade da interpretação dramática de Migliaccio. Uma emoção represada, expressa como a contragosto para melhor ressoar na sensibilidade do público. Migliaccio sabia ser divertido, como nos filmes infantis do Tio Maneco ou na série Shazan, Xerife & Cia., em parceria com Paulo José. Pensava, escrevia e desenhava. Era um ser de pura criação. (Da Redação com Estadão Conteúdo)