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Música de Paula Cavalciuk inspira ‘Maria invisível’

04 de Janeiro de 2020 às 00:01

Música de Paula Cavalciuk inspira ‘Maria invisível’ Espetáculo teatral é uma espécie de versão cênica da narrativa escrita e entoada por Paula Cavalciuk na canção homônima presente no EP “Mapeia”. Crédito da foto: Fábio Rogério / Arquivo JCS

Uma música com letra que faz críticas sociais contundentes, de autoria da cantora e compositora sorocabana Paula Cavalciuk, serviu de inspiração para o espetáculo teatral “Maria invisível”, que será apresentado hoje, às 20h, no Teatro Escola Mario Persico.

Com direção geral e dramaturgia de Mario Persico, a peça é resultado de uma criação coletiva dos alunos do Núcleo de Artes Cênicas (NAC) da Fundação de Desenvolvimento Cultural de Sorocaba (Fundec), que se traduz em uma espécie de versão cênica da narrativa escrita e entoada por Paula na canção homônima presente no EP “Mapeia” (2015), que desde o mês passado está disponível no serviço de streaming digital Spotify.

“Maria invisível”, a canção, é dançante, com levada com estilo jazz manouche, e conta a história de uma empregada doméstica que trabalha para uma família de classe média alta brasileira, que, no conforto dos seus privilégios, ignora os dramas e as angústias desta mulher -- e mãe -- trabalhadora invisibilizada pelos seus patrões. “Não mora na casa, mas serve comida e roupa lavada [...] serve o almoço mas não senta-se à mesa”, descreve um dos versos.

O espetáculo estreou no início de dezembro na Sala Fundec e foi conferido pela cantora, que aprovou a adaptação de sua obra para os palcos. “Esse tipo de desdobramento da minha música é gratificante demais. Fiquei muito feliz, principalmente porque quem sugeriu trabalhar a peça foram os estudantes de teatro, que é uma turma jovem. Fico muito feliz que estejam trabalhando esse tema, atuando sobre ele e levando o assunto adiante”, afirma Paula ao Mais Cruzeiro.

Persico detalha que a ideia inicial era trabalhar em uma adaptação do filme “Domésticas” (2001), de Fernando Meireles, quando uma de suas alunas comentou sobre a música de Paula, pegou o telefone celular e deu play na canção durante o ensaio. “A partir disso, fomos criando os personagens ligados à história, dentro do contexto, improvisando monólogos e eu fiz a dramaturgia final, que é um mosaico. Mas toda a história partiu dos alunos, inspirados pela música”, conta.

Coincidência ou não, a letra, agora adaptada para a linguagem teatral, flerta diretamente com dois filmes aclamados que vieram depois: “Que horas ela volta” (2015), da brasileira Anna Muylaert e “Roma” (2018), obra-prima do mexicano Alfonso Cuarón.

Música de Paula Cavalciuk inspira ‘Maria invisível’ A montagem é resultado de uma criação coletiva dos alunos do Núcleo de Artes Cênicas da Fundec. Crédito da foto: Divulgação

A letra, que segundo Persico “carrega uma ironia cruel pela forma como retrata esse universo das empregadas domésticas, tão próximas e tão distantes” foi escrita por Paula em 2014 -- antes então dos filmes citados acima --, baseada nas experiências de sua própria mãe, que trabalhava como doméstica em Tapiraí, e catalizadas pela comoção da notícia da trágica morte de Cláudia Ferreira dos Santos, uma auxiliar de serviços em um hospital do Rio de Janeiro, que foi arrastada por mais de 300 metros por uma viatura da Polícia Militar que a socorria após ser baleada no Morro da Congonha. No trajeto, o porta-malas do veículo abriu, ela ficou presa ao carro por um pedaço de roupa, e teve parte do corpo dilacerada ao ser arrastada pelo asfalto.

A canção é narrada do ponto de vista de algumas famílias de classe média alta brasileira e, segundo Persico, satiriza essa suposta superioridade em relação aos subalternos. “‘Maria Invisível’ possui esse segundo nome devido a seus gostos, escolhas e necessidades serem julgados como inexistentes, diante do trabalho e de seus patrões. A música relata que a empregada é obrigada a lidar com o autoritarismo e a falta de bom senso dos patrões”, descreve o diretor.

Além de fazer parte do EP de estreia de Paula Cavalciuk -- depois de “Mapeia” ela lançou o álbum “Morte e vida” (2016) --, “Maria invisível” figura como uma das canções mais marcantes do repertório da artista, já que a faixa foi compartilhada nas redes sociais por ninguém menos que Gilberto Gil, sendo o primeiro impulso que projetaria o nome da artista de Sorocaba pelo Brasil afora.

O elenco é formado por Julielen Souza, Davi Gemelgo, Gerson Lourenço, Isabella Farrah, Amanda Gomes, Amanda Bertasso, Emilly Pais, Garbila Bizutti, Anna Renata Queiroz, Ana Beatriz, Edilaine Germini, Natasha Santos e Laura Vidal.

Serviço

Espetáculo ‘Mulher invisível”. Hoje, às 20h. Teatro Escola Mario Persico (rua da Penha, 823, Centro). Os ingressos custam R$ 20 (valor inteiro) ou R$ 10 (meia-entrada). (Felipe Shikama)

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