Museu Casa do Tropeiro amplia acervo e muda de endereço em Sorocaba
O novo museu tem quatro salas que reúnem um vasto acervo, juntado por anos pelo historiador Sérgio Coelho de Oliveira. Crédito da foto: Vinícius Fonseca
Uma modesta residência de 160 metros quadrados, situada na rua Barão de Cotegipe, 1.136, na Vila Marta, passa a abrigar a nova sede do Museu Casa do Tropeiro, espaço criado e mantido pelo Centro de Estudos Históricos Caminho das Tropas (Cehicat) com o intuito de preservar a tradição tropeira em Sorocaba e contribuir com a oferta de subsídios históricos a respeito das tradições tropeiras no País.
A inauguração oficial do novo espaço acontece amanhã, das 15h às 18h, com presença de sócios e apoiadores e será aberta ao público. O imóvel, situado próximo à Delegacia Seccional da avenida General Carneiro, sucede a antiga sede, que desde o final de 2017 funcionava em uma casa na rua Tobias Barreto, no bairro Além Ponte.
Mais amplo, o novo imóvel se fez necessário já que, de lá para cá, segundo o jornalista e pesquisador Sérgio Coelho de Oliveira, fundador e presidente Cehicat, o número de peças do acervo do museu saltou de cerca de 200 objetos para mais quase 400. “Eu continuo pesquisando e incrementando o acervo na medida do possível”, comenta. Apaixonado pelo tropeirismo e considerado um dos mais renomados pesquisadores do assunto, Oliveira construiu a maior parte do acervo praticamente sozinho, comprando e aceitando doações, antes de fundar o Cehicat -- em agosto de 2014 --, e durante anos guardou o material na garagem de sua própria casa.
“Cansei de dar murro em ponta de faca”, diz Sérgio Coelho, sobre tratativas para obter apoio da Prefeitura. Crédito da foto: Vinícius Fonseca
Lúdico e pedagógico
Além de materiais de estudo, que podem ser consultados gratuitamente, o espaço se traduz em museu lúdico e pedagógico, a fim de que o público, especialmente as crianças, aproxime-se da história dos tropeiros e do tropeirismo em Sorocaba.
O museu, agora, está dividido em quatro salas. A primeira delas acomoda uma biblioteca, formada por mais 300 títulos sobre a história do tropeirismo no Brasil e, mais especificamente, na região de Sorocaba. Dentre os exemplares mais raros, segundo Oliveira, estão uma coleção de cinco tomos de “História geral do Brasil”, de Francisco Adolfo de Varnhagen, o Visconde de Porto Seguro. “Esta edição é especial para nós porque [na folha de rosto] está escrito uma coisa”, comenta, apontando a frase gravada abaixo do nome do célebre historiador: “Natural de Sorocaba”.
A biblioteca também acomoda livros sobre atividades correlatas ao tropeirismo, como a selaria, o artesanato e a culinária. O primeiro cômodo ainda abriga vasto acervo multimídia, com fotografias, CDs, DVDs e fitas VHS que ajudam a ilustrar este período da história em que o progresso do Brasil passava por Sorocaba no lombo de burros e mulas.
Equipamentos e peças usadas no cotidiano dos tropeiros estão expostos. Crédito da foto: Vinícius Fonseca
O corredor que conduz os visitantes a mais dois quartos transformados em espaço expositivo acomoda uma série de antigos cartazes de divulgação da Semana do Tropeiro, realizada na cidade. Na parte central da casa, a cozinha guarda dezenas de utensílios que eram usados nas refeições dos tropeiros como canecas de ágata esmaltada, lamparinas e pilões. Um dos quartos ainda reúne arreios, bruacas, selas e outras traias, incluindo equipamentos e de ferreiros. Já a sala mais ao fundo é destinada ao tropeiro e conta com um manequim com o traje original, com chapéu, botas, lenço e poncho. Faz parte ainda dessa sala a coleção de mais de 80 miniaturas de burros e mulas, procedente das mais diversas regiões do mundo.
Em defesa da história
Assim como a sede anterior, o aluguel é pago com contribuição dos próprios associados. Atualmente são menos de vinte, mas Oliveira sonha mesmo em formar uma “tropa” de defensores deste capítulo da história. “Tudo o que está aqui não é meu. Vai ficar para que mais pessoas conheçam a importância do tropeirismo”, comenta.
Oliveira comenta que nos últimos anos vinha gastando boas doses de energia em articulações, com o poder público municipal, com o objetivo de conseguir a cessão de uso de um imóvel da Prefeitura para transformar em Museu do Tropeirismo. Desistiu, depois que diversas tratativas não avançaram. “Cansei de dar murro em ponta de faca”, afirma.
Sérgio Coelho assinala que o museu é um organismo vivo e seu acervo continua em expansão. Por isso, além da aquisição de peças raras e icônicas, a entidade está aberta para receber doações da população. O próximo passo, antecipa o presidente, será a criação de uma ala dedicada à mulher tropeira. Ele comenta que, de acordo com registros históricos deixados pelo padre Castanho, que como historiador usava o pseudônimo Aluísio de Almeida, as mulheres acompanhavam os maridos nas tropeadas logo após o casamento, mas deixavam a tarefa assim que engravidavam e só retornavam depois que os filhos estavam criados.
O pesquisador revela que, nos próximos meses, a nova sede do Cehicat renderá homenagens a Aluísio de Almeida, a quem considera “o pai da história do tropeirismo”, e à professora, historiadora e pesquisadora Vera Job, que liderou o processo de valorização e resgate da memória tropeira na cidade nas últimas décadas. O presidente da entidade destaca que, com intuito de movimentar o novo espaço, o Cehicat planeja para este ano uma série de atividades, como palestras e rodas de conversa, com gastronomia típica do tropeirismo. Após a inauguração, o Museu do Tropeiro poderá ser visitado às quartas e quintas-feiras das 9h às 12h. Visitadas de grupos ou em outros horários podem ser agendadas pelo telefone (15) 99789-4742. (Felipe Shikama)
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