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Morre Calligaris, o cronista da psicanálise

31 de Março de 2021 às 00:01

Morre Calligaris, o cronista da psicanálise O italiano Contardo Calligaris, radicado no Brasil desde 1989. Crédito da foto: Wilton Junior / Estadão Conteúdo (8/7/2011)

Contardo Calligaris, o italiano de olhar atento que levou a psicanálise para o cotidiano do brasileiro ao analisar, em seus textos publicados na Folha de S.Paulo e em seus livros de ficção e não ficção, temas ligados à existência humana, morreu ontem (30), aos 72 anos, em São Paulo. Ele estava internado no Hospital Albert Einstein para tratar um câncer e sua morte foi confirmada pelo filho Max Calligaris em um post no Instagram.

Nascido em Milão, em 2 de junho de 1948, Contardo Calligaris cresceu cercado pelos escombros da Segunda Guerra Mundial. Ele iniciou sua formação pelas áreas de letras e filosofia, estudou na Suíça e na França e viveu também nos Estados Unidos, onde foi professor de antropologia na Universidade da Califórnia e de estudos culturais na New School.

Para ele, a psicanálise surgiu primeiro como tratamento, e só depois como profissão. Calligaris se formou na Escola Freudiana de Paris, presidida por Jacques Lacan (1901-1981). Em sua formação, também teve aulas com Roland Barthes (1915-1980) e Michel Foucault (1926-1984).

Calligaris veio ao Brasil pela primeira vez em 1986 para o lançamento de seu primeiro livro de psicanálise: “Hipótese Sobre o Fantasma”. Foi convidado a voltar periodicamente, para encontros com profissionais e atendimentos. Pouco tempo depois, em 1989, fixou residência aqui e viveu suas últimas décadas em São Paulo, onde se dividia entre o consultório e a atividade intelectual.

Em um de seus livros, “Hello, Brasil! e Outros Ensaios: Psicanálise da Estranha Civilização Brasileira” (Três Estrelas), lançado originalmente em 1991 e depois em 2017, o psicanalista parte de uma investigação pessoal -- justamente o que o fez deixar a França no fim dos anos 1980 para se mudar para o Brasil -- para fazer uma espécie de análise do País, passando pela persistência da herança escravocrata até a corrupção política. (Estadão Conteúdo)