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Morre, aos 85 anos, a atriz e diretora Maria Alice Vergueiro

04 de Junho de 2020 às 00:01

Morre, aos 85 anos, a atriz e diretora Maria Alice Vergueiro A atriz, que tinha raízes em Sorocaba, esteve na cidade em 2016 com o espetáculo “Why the horse?”, do grupo Pândega. Crédito da foto: André Stefano / Divulgação

A atriz e diretora teatral Maria Alice Vergueiro morreu ontem, aos 85, em São Paulo. Ela estava internada no Hospital da Clínicas, para tratamento de pneumonia, e seu corpo será cremado hoje, em Itapecerica da Serra, segundo informou sua filha Maria Silvia.

Pedagoga, professora, atriz e diretora, ela participou de montagens de espetáculos de dramaturgos como Shakespeare, Molière, Brecht e Jodorowsky e trabalhou com nomes como Paulo Autran, José Celso Martinez Corrêa, Gerald Thomas e Felipe Hirsch. Apesar de uma longa e premiada carreira na cena teatral brasileira, foi um vídeo disponibilizado no YouTube que a transformou num fenômeno de massa: o curta-metragem “Tapa na pantera”, em que interpreta uma mulher que fuma maconha há 30 anos. Já no meio teatral, Maria Alice Vergueiro era reconhecida e respeitada como a maior atriz experimental de sua geração, no sentido de estar sempre aberta a novos autores e linguagens.

No final de 2016 a atriz esteve em Sorocaba para apresentar, no palco do Sesc Sorocaba o espetáculo “Why the horse?”, do grupo Pândega. Na peça, que seguia o estilo “happening”, que diferentemente da dramaturgia convencional não possui um texto fechado e abre espaços para a improvisação, Maria Alice encenava a sua própria morte. Instigada pela temática da morte, então com 80 anos e acometida pela doença de Parkinson, Maria Alice convocou os integrantes da companhia para a construção coletiva da peça, cuja proposta se traduzia literalmente no ensaio do seu derradeiro momento para, segundo ela, “não ser pega de surpresa”. “Com sorte pode ser que eu morra em cena. Se não, estaremos de volta no dia seguinte”, brincava.

A apresentação em Sorocaba foi uma espécie de acerto de contas com o passado, já que a cidade foi terra natal de seu pai, o promotor Nicolau Pereira de Campos Vergueiro Neto, e de onde ela guardava as memórias da infância vivida entre os 4 aos 12 anos. “Naquela época eu já pensava em fazer circo”, disse, em 2016, ao Mais Cruzeiro, recordando o nome das melhores amigas do Colégio Santa Escolástica e descrevendo a diversidade de árvores frutíferas do enorme pomar da sua casa, que ocupava toda a área onde hoje está instalada a Faculdade de Medicina da PUC-SP, no Jardim Vergueiro. O bairro, aliás, tem esse sobrenome por causa de seu pentavô, Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, conhecido como senador Vergueiro. Em “Why the horse?”, Maria Alice dividiu o placo com o sorocabano Robson Catalunha, que publicou a fotografia de uma cena do espetáculo nas redes sociais e escreveu: “Obrigado por tudo. Obrigado por ensaiar essa despedida com a gente. Obrigado por nos ensinar a entrar, estar e sair de cena”. (Felipe Shikama)