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Monólogo ‘Simplesmente Clô’, visita vida e obra de Clodovil

15 de Novembro de 2020 às 00:01

Monólogo ‘Simplesmente Clô’, visita vida e obra de Clodovil Ator conta ter feito profundo estudo para dar vida ao personagem. Crédito da foto: Divulgação

O estilista, apresentador e político Clodovil Hernandes (1937-2009) era o tipo de homem que inspirava tudo, menos neutralidade, e as reações que ele provocava iam da devoção ao medo e à repulsa. Dono de um humor ácido, suas tiradas tanto podiam ser brilhantes como constrangedoras. “Clodovil era uma personagem dúbia: não é tão ruim quanto queriam pintá-lo, mas também não era uma Irmã Dulce -- era só um homem comum que tentou fazer um monte de gente feliz, sendo ele mesmo muito triste”, observa o jornalista e dramaturgo Bruno Cavalcanti, autor de Simplesmente Clô, monólogo que estreia no dia 20, no Teatro União Cultural.

Estrelado e dirigido (ao lado de Viviane Alfano) por Eduardo Martini, o espetáculo traz o inventário da vida e das criações de Clodovil ao longo de mais de 40 anos de carreira, quando apresentou criações pioneiras na moda, conquistou o sucesso na televisão e teve êxito em seu primeiro mandato como deputado federal -- ao mesmo tempo, recupera lembranças de sua vida e fatos pouco conhecidos do público.

“Sua vida e carreira não são necessariamente os protagonistas da peça”, explica Cavalcanti. “A brincadeira aqui é apresentar a linha constante de seu pensamento. A história da mãe que o rejeitou de primeira e depois o amou muito -- e foi a pessoa que ele mais amou na vida --, a rivalidade com Dener Pamplona, o gosto por garotos de programa, o voyeurismo, tudo já se sabe. Na peça, o foco é o que pensa e como pensa, como ele deu vida a essa figura extremamente dúbia, dividida, humana, cidadã, que defendia veementemente uma crença e depois deixava de acreditar, voltava atrás e a vida seguia.”

Nascido em Elisiário, então distrito de Catanduva, no interior de São Paulo, Clodovir (seu verdadeiro nome, um erro do cartório devido ao sotaque do pai adotivo, um comerciante espanhol) iniciou a carreira de estilista no final da década de 1950, consagrando-se nacionalmente nos anos 1970, época em que dividia o estrelato da moda com Dener Pamplona de Abreu (1937-1978). Em seu ateliê, Clodovil defendia a importância e o fortalecimento da moda brasileira no cenário internacional.

Em seu trabalho de composição do personagem, Martini fez uma pesquisa apurada, “sempre apoiado na verdade que ele punha nas suas ideias sobre qualquer tema. Ninguém é totalmente mau ou totalmente bom. Ele era um ser humano com uma inteligência elevadíssima, um senso de humor que poucos entendiam e, por ter sofrido muita rejeição quando criança, atacava qualquer um que o olhasse de maneira duvidosa.”

Distante da imitação, Martini pretende homenagear Clodovil -- para isso, realiza uma pesquisa diária sobre os movimentos das mãos, os olhares, as poses, a forma como ele andava e pensava. O estilista -- que se tornou o primeiro homossexual assumido a se eleger deputado federal, em 2006, quando usou frases irônicas na campanha, como “Vocês acham que eu sou passivo? Pisa no meu calo para você ver...” -- era também dono de um peculiar estilo de falar. “Não é fácil falar um texto com aquela rapidez e ainda dar o entendimento para quem escuta”, conta o ator.

Em cena, o espetáculo terá vestidos originais, desenhados pelo estilista, mas, devido às restrições sanitárias por causa da pandemia do novo coronavírus, uma exposição com a obra completa de Clodovil, prevista para a temporada, foi adiada. (Ubiratan Brasil - Estadão Conteúdo)

Serviço

SIMPLESMENTE CLÔ

Teatro União Cultural

Rua Mario Amaral, 209. Tel.: (11) 3885-2242. Sáb., 21h. Dom., 19h. R$ 70. ESTREIA 20/11