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Milton Nascimento e coral do Harlem cantam juntos em live

20 de Outubro de 2020 às 00:01

Milton Nascimento e coral do Harlem cantam juntos em live Milton Nascimento fala sobre sua carreira e a parceria com o coral. Crédito da foto: Divulgação

A voz de Milton Nascimento não parece estar tão próxima assim de um coral do Harlem. Mesmo quando ele conta a história de que criou Canção do Sal, lançada em 1966 por Elis Regina, pensando nos cantos de trabalho dos negros do Sul dos Estados Unidos, o que sempre leva a crer que ele está falando do blues, Milton continua distante de uma cultura que não parece ter influenciado sua obra mais do que os sons dos Beatles ou do rock progressivo que viria na década de 1970. Será mesmo? O quanto haveria de afro-norte-americano do Sul em um dos códigos genéticos mais desafiadores da música brasileira?

Uma reunião inédita nos 77 anos de idade de Milton o coloca lado a lado a um grupo saído das ruas do Harlem, distrito de Manhattan, Estado de Nova York, um dos maiores centros de formação natural de talentos responsáveis por fazer dos Estados Unidos uma potência cultural, com templos do jazz e do soul como Cotton Club, Small’s Paradise e Teatro Apollo. O Sing Harlem, grupo composto por jovens filhos de famílias em condições mais vulneráveis da região, vai se apresentar via live com Milton no próximo dia 25, domingo, na noite de encerramento do Rio Montreux Jazz Festival. O show “Os Sonhos Não Envelhecem” terá, depois da participação do Sing, os convidados Samuel Rosa e Maria Gadu. A produção terá sua sequência de domingo começando a partir das 16h30 com, pela ordem, Jaques Morelenbaum e cellosam3atrio, Jonathan Ferr Rio Jazz Orchestra, Anat Cohen and Friends, Sérgio Dias Jazz Mania, Toquinho e Yamandu Costa e, só então, Milton Nascimento. Haverá shows também na sexta e no sábado, com grandes atrações do jazz e da música brasileira, que serão transmitidos pelas plataformas do Rio Montreux Jazz Festival.

Milton fala à reportagem de sua experiência com a música norte-americana, e ela é mais decisiva do que se imagina. “Quando eu tinha uns 11, 12 anos, minha voz começou a mudar bastante, tipo engrossar, né? O que é uma coisa muito natural no crescimento. Mas, eu achava que não ia conseguir cantar nunca mais. E eu fiquei bem triste por conta disso. Até um dia em que estava junto com meu pai, na oficina dele lá em Três Pontas, e começou a tocar ‘Stella by Starlight’, com o Ray Charles. Nossa! Aquilo salvou minha vida, aquele jeito dele de cantar mudou completamente o que eu pensava. E, como você sabe, o Ray Charles cresceu (e amadureceu sua música) tocando e cantando em diversos grupos gospel nos Estados Unidos. Daí veio meu primeiro contato com o gospel americano, através de artistas como Ray Charles. E é por isso que eu costumo dizer que Ray Charles salvou minha vida. Foi a força que eu precisava pra seguir cantando.”

Marco Mazzola é o mentor do Rio Montreux. Milton não conhecia o trabalho do Sing Harlem, e o encontro só surgiu, conta ele, graças à sugestão de Mazzola. “Fiquei muito feliz com a descoberta, o que eles fazem é de arrepiar. Vi várias coisas do grupo que me deixaram bastante impressionados e, mais que tudo, extremamente emocionado.”

Quem fala pelo grupo Sing Harlem são duas pessoas, Vy Higginsen and Ahmaya Knoelle, mãe e filha, fundadoras do projeto Mama Foundation for The Arts, do Harlem. E assim explicam a experiência que estão vivendo: “O projeto Gospel for Teens ensina ao mundo a importância da história e da cultura musical. Isso nos mostra o grande impacto que esse aprendizado pode ter sobre um jovem. O programa não apenas ensina música como arte, mas também história e tradição, e se concentra no enriquecimento e preparação para a vida adulta. Não estamos apenas criando grandes cantores, estamos criando grandes cidadãos do mundo.” (Estadão Conteúdo)