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Lona da biblioteca recebe o palhaço Alê Malhone

09 de Novembro de 2019 às 00:01

Lona da biblioteca recebe o palhaço Alê Malhone “Sou palhaço. Não sou malabarista e nem mágico. E a condição do palhaço está no fracasso, no erro”, diz Alê Malhone. Crédito da foto: Divulgação

Membro da quinta geração de uma família de artistas circenses, o experiente palhaço sorocabano Alê Malhone estreia neste final de semana o seu primeiro espetáculo solo intitulado “A alegria do circo é ver o palhaço pegar fogo”. As apresentações ocorrem hoje e amanhã, às 19h30, na lona da Biblioteca Infantil Municipal Renato Sêneca de Sá Fleury, com entrada gratuita. Ao final do espetáculo, o artista passará o chapéu para contribuições espontâneas, com objetivo de promover a reflexão do público em relação à valorização da arte e do artista.

Com aproximadamente 40 minutos de duração, o espetáculo traz em cena um palhaço atrapalhado e hilariante, que tenta realizar vários números, como malabares, equilíbrio e show de mágica, mas sua principal habilidade é o fracasso. “O ponto de partida é a história da minha vida”, revela Malhone, que começou a trabalhar como palhaço profissional aos 14 anos e, já adulto, diz ter sofrido com a falta de habilidade em números -- superada com muito treino -- para apresentações em praças e parques. “O picadeiro era minha zona de conforto”, acrescenta.

O solo, aliás, foi concebido a partir do aproveitamento de truques de mágica e malabarismo que, por questões técnicas, não puderam entrar no espetáculo “O céu é a lona” que, como o nome sugere, foi concebido para ser apresentado ao ar livre. Malhone comenta que ambos os espetáculos foram construídos simultaneamente ao longo dos últimos dois anos e são resultados de uma “pesquisa viva” sobre palhaçaria.

Sozinho no picadeiro

Independentemente do local da apresentação, seja nas praças, no picadeiro ou mesmo um palco italiano, “A alegria do circo é ver o palhaço pegar fogo” representa para Malhone a ruptura de outra zona de conforto: é que é a primeira vez na carreira que ele se lança em um espetáculo solo. Vale destacar que uma das marcas do espetáculo é a interação com a plateia e, em diversos momentos, crianças e adultos são chamados ao palco para participar de cenas e números.

O palhaço conta que decidiu se experimentar sozinho no picadeiro depois de sua saída da Trupe Koskowisck, grupo que fez parte durante dez anos. “Caminhar sozinho e foi muito difícil para mim. Foram duas dificuldades. Uma foi apresentar um espetáculo sozinho, coisa nunca fiz, mesmo há bastante tempo na estrada, e a outra, é que para se apresentar na rua exige muita habilidade”. Em crise, pensou em desistir até que, de estalo, encontrou o chão. “Sou palhaço. Não sou malabarista e nem mágico. E a condição do palhaço está no fracasso, no erro”, comenta, explicando o roteiro com tom autobiográfico.

Herdeiro legítimo e artístico do Circo-Teatro Guaraciaba -- ele é filho de Guaraciaba Malhone e neto do fundador Antonio Malhone, o palhaço Pirolito --, Alê acrescenta que a criação do novo espetáculo impôs novas reflexões acerca do humor e das relações de poder representadas no espetáculo cômico.

“Como chamar esse público para o palco sem diminuir ou humilhar? Sem zoar alguém com estereótipos das características físicas? Tudo isso eu tive que repensar. Se a gente reproduz esse tipo de discurso ele continua sendo ‘normal’, mas esse tipo de coisa não cabe mais hoje”, comenta, defendendo que preconceito e falta de empatia não têm graça.

A Biblioteca Infantil fica na rua da Penha, 673, no Centro. (Felipe Shikama)