Nelson Fonseca Neto
Amor sem fim
Este é o texto mais dolorido que eu já tive de escrever. Pensei em pedir ao jornal para pular esta semana. Não sei se conseguiria lidar com as palavras no dia mais triste da minha vida. Achei melhor insistir.
Maria Dulce Dutra Fonseca, minha amada mãe, faleceu no dia 17/07. Ela se foi tranquilamente, com a doçura que carrega no nome. Foram meses duros de luta pela vida, e ela se portou com uma dignidade indizível. Ela nunca deixou de pensar nos outros.
Passei as últimas semanas, principalmente na hora de dormir, passando um cineminha na minha mente. Foi a maneira que encontrei para lidar com a tristeza. Só vieram imagens que aqueceram a minha alma. Sei que é meio batido dizer, mas vamos lá: sou um cara de sorte. Melhor dizendo: todos que conheceram minha mãe tiveram a sua cota de sorte.
Meu pai, meu irmão e eu moramos com uma mulher sensacional. A Patrícia e a Milena tiveram uma sogra que, na verdade, era uma mãe. O João Pedro e a Martina tiveram uma avó que os amou profundamente.
Minha mãe era linda. Muita gente diz isso. Quem a conheceu sabe do que estou falando. Quem vê as fotos em que ela aparece, também. Era uma beleza luminosa porque a alma da minha mãe era de uma bondade sobrenatural.
Perdi a conta de quantas vezes a vi sofrendo por causa das desditas de outras pessoas. Não era da boca pra fora, não era pra fazer média. Ela realmente sentia fundo a dor dos outros. A gente ouve muito o pessoal falando em empatia por aí. Eu tive a honra de ver a empatia em ação.
Hoje, no dia em que a minha mãe morreu, conversei muito com o meu pai. Choramos pelo buraco em nossos peitos, rimos com as lembranças. Acho que é assim que se homenageia uma pessoa amada e que fará tanta falta.
Foi ótimo abraçar forte o meu irmão. A gente não precisou dizer nada. Ali estavam dois marmanjos sofrendo e agradecendo a chance de ter vivido com a minha mãe. Claro que a gente vai conversar muito sobre ela e sobre a nossa vida com ela. Temos este tesouro que ninguém tira da gente.
A Patrícia e a Milena estão devastadas. Aí eu percebo que a minha mãe não teve só dois meninos; ela teve dois meninos e duas meninas. Vocês precisam ouvir as histórias lindas que elas têm para contar. Eu vejo isso tudo e, mesmo na dor mais aguda, eu consigo sorrir. Tinha que ser a minha mãe para trazer uma coisa dessas.
No meio desta enorme tristeza, algo de uma beleza extraordinária: minha avó Clélia, mãe do meu pai, com ânimo para consolar a todos nós. Minha mãe e a minha avó Clélia se amavam muito.
Assim eu encerro o texto mais triste que tive de escrever. Comecei angustiado e terminei leve. Mãe, você é maravilhosa!