Letra Viva
A fonte da juventude

No sábado passado eu estava na festa junina da escola do João Pedro. É difícil uma festa junina não ser boa. Comemos muito bem, encontramos um pessoal bacana, as músicas não fizeram feio, o João Pedro se divertiu de montão, enfim, só coisa boa. Mas é lógico que o cronista precisa dar uma vasculhada na cabeça do cavalo, em busca do chifre. Fazer crônica é isso mesmo.
Mas antes eu preciso falar de uma conversa que tive com o meu grande amigo Flavio Digiampietri horas depois da festinha junina do João Pedro. Na verdade, foi uma troca de áudios no WhatsApp.
Não sei se eu já disse aqui, mas passei muitos momentos felizes na casa do Flavio, que ficava no Jardim Maria do Carmo. Ali era a minha segunda casa. Mas o mais doido é que a Patrícia morava a um quarteirão de distância e só fomos nos conhecer décadas depois. Eu certamente passei várias vezes diante da casa dela, e nada.
No sábado à noite eu estava papeando com a Patrícia sobre a turma que morava perto da casa dela e da casa do Flavio. Foram surgindo vários nomes de conhecidos em comum. E foram surgindo também algumas dúvidas, culpa da memória traiçoeira. Resolvi mandar um áudio pro Flavio pra esclarecer alguns pontos. Ele foi rápido no gatilho e elucidou tudo.
Aí, num dos áudios com o Flavio, não me lembro como, surgiu a constatação de que as pessoas pareciam mais velhas antigamente. Não sei se me faço entender. Vou usar um vídeo maravilhoso do YouTube como referência. Esse vídeo é um trecho do programa “Namoro ou amizade”, do Silvio Santos, nos anos 90, e mostra jovens em busca do grande amor. É um pessoal na casa dos vinte anos baixos. Eu daria fácil uns trinta e poucos pra turminha enamorada. Hoje a gente vê uma coisa dessas e assusta: como os moços de outrora pareciam bem mais velhos!
Comentei isso com o Flavio e com a Patrícia e eles concordaram. Acho que existem várias explicações, objetivas e subjetivas. As subjetivas são meio manjadas e passam pela maneira como apreendemos o tempo de acordo com a idade que carregamos. Precisa ser muito bom de lábia para abordar o tema a fundo, o que não é o meu caso. Vão ler Proust.
Fico mais à vontade pra lidar com as explicações objetivas. Longe de esgotar o assunto, vou tentar puxar um fio. Uma parte da população consegue hoje clarear os dentes, fazer harmonização facial, treinar com auxílio de educadores físicos e nutricionistas. Tem também o lance do “se cuidar”.
Meu Deus, o leitor vai perguntar, o cronista está implicando com o “se cuidar”? Mais ou menos, coluna do meio. Tem um lado meu que efetivamente está “se cuidando”: exercícios físicos regulares, alimentação regrada em alguns dias da semana, essas coisas. Mas tem um lado meu que implica com a firula, com o exagero, com o fanatismo, com a coisa meio missionária. Certamente o leitor já teve de lidar com a peça: o cara que está magro, com 5% de gordura no corpo, que se fantasia de maratonista, que moldou sua vida para o treino da manhãzinha. Em suma, é o personagem do Humberto Carrão em “Vale Tudo”.
Na festinha do João Pedro, na fila do pastel, tinha um monte de cara ostentando uma forma física invejável. Uns caras verdadeiramente atletas. E iam comer pastel. Fiquei pensando no treino massacrante do dia seguinte.
É pra ficar triste? Não, é só uma questão de calibrar expectativas. Eu imaginava que a minha geração envelheceria diferente, mais barrigudinha, mais lenta, mais corcundinha. Ainda estou tentando me acostumar.