Nelson Fonseca Neto
Abraçado ao meu rancor
Eu sou uma matraca e saio contando pra Patrícia sobre o que pretendo escrever neste espaço. Na maioria das vezes ela fala “ah, legal”. Mas de vez em quando ela solta um “sério mesmo que você vai escrever sobre isso?”. A coluna de hoje pertence à categoria do “sério mesmo que você vai escrever sobre isso?”.
A da semana passada tratou da minha ojeriza aos parquinhos. Não é das coisas mais simpáticas sair dizendo por aí que parquinhos e pracinhas são um porre. Por que procurar chifre em cabeça de cavalo e falar mal de famílias felizes com a criançada brincando ao ar livre? Tem que ser muito azedo pra espinafrar um cenário tão idílico.
Há quem diga que ritmo é tudo nesta vida. A sabedoria implora: marretada numa semana, afago na outra. Se é marretada numa semana e noutra também, fica over. Eu sei, mas as circunstâncias pedem mais uma coluna podreira.
Eu vim aqui hoje pra falar de como tenho lidado mal com a proliferação dos clubes do livro. (Acabo de escrever e já sinto o ventinho de uma pedra passando raspando minha cabeça.) Como alguém, em condições normais de temperatura e pressão, se propõe a escrever mal sobre coisas tão sabidamente legais?
E aqui vou me sair com a frase que mais tenho usado ultimamente: o problema está em mim. Eu sei que os clubes de leitura são fundamentais para o incremento da leitura no Brasil; que tem muita gente boa capitaneando esses grupos; que conversas ótimas rolam nos encontros; que reunir a galera é legal. Eu sei, juro que sei, mas não consigo participar dessas coisas.
Já fui chamado algumas vezes pra ser mediador de clubes do livro. Vivo ouvindo gente sugerindo que eu monte um clube do livro. Esses convites e sugestões vêm de pessoas imbuídas de pensamentos nobres. Sempre respondo que a mediação de um clube do livro pede responsabilidade e trabalho duro e que, no momento, eu não conseguiria dar conta da empreitada. Resposta educada e mentirosa. Respostas educadas costumam ser mentirosas.
Eu não faço a mediação de clubes do livro porque eu sou meio ditador nessas coisas. Nas outras, não, muito pelo contrário. Mas acho que o bicho pega em conversas mais descontraídas sobre livros. (Olha só, estou mostrando minhas entranhas aqui, vocês tratem de valorizar.) Acho que faria caretas constrangedoras caso alguém fizesse comentários longos e delirantes. Você, que é fã de clubes do livro, reconheça: sempre tem alguém que se empolga nos encontros. Se pra você tudo bem, parabéns, o paraíso o aguarda.
Eu também seria chato na hora das sugestões do livro do próximo encontro. Eu ouviria as dicas e falaria, tentando ser simpático: “beleza, mas vamos tratar, na reunião que vem, do livro tal, que é ótimo”. Acho que a primeira tertúlia seria a última. Quem quer trocar ideia com o coronelzinho da literatura?
Tem também o lance da empolgação que é o emblema desses encontros. Não sou macambúzio, jururu, sorumbático, mas empolgação tem me cansado um pouco, e eu estou numa fase (faz uns vinte anos) de evitar, se estiver ao meu alcance, aborrecimentos.