Nelson Fonseca Neto
Paraíso tropical
O Antonio Prata, grande cronista, disse que o Sesc é o Brasil que deu certo. Eu não iria tão longe, mas acho que o Antonio falou coisa com coisa.
Tudo funciona bem no Sesc. A comida é boa e barata, a biblioteca tem uns títulos legais, sempre rola boa música, a parte esportiva é digna, a livraria sempre tem livro interessante, os funcionários são gente fina, o pessoal que circula por lá é de boa. Pensando bem, o Sesc é mesmo o Brasil que deu certo. Mas avancemos.
Estou escrevendo esta coluna no começo da noite do feriado de primeiro de maio. A Patrícia, o João Pedro e eu fomos ao Sesc perto da hora do almoço. Estava uma delícia, o João Pedro adora tudo que tem lá, e vamos que vamos. Falei pra Patrícia que escreveria sobre o Sesc, mas que não seria um texto tão simpático assim.
A ideia de escrever sobre o Sesc veio de uma constatação: ali tem muita criança pequena acompanhada dos pais. E aqui eu preciso falar de uma das minhas grandes fobias: parquinhos, pracinhas e afins. Sou pai de criança pequena, conheço vários pais de crianças pequenas e eu sei que vou me estrepar bonito assumindo este meu lance com parquinhos, pracinhas e afins.
Eu não vou ser sacana a ponto de sonhar com a eliminação desses espaços. Sei que eles são
fundamentais e que muita gente se diverte ali. Não implico com os escorregadores, balanços e gira-giras. O problema é o climinha, o pessoal meio empolgado falando “Lolô, vem aqui”, “Juju, aí não”, “Cacá, deixa o amiguinho brincar no escorrega”. Isso arrebenta comigo, sei que sou um vacilão ao ser tão implicante, mas não posso esconder o jogo aqui.
Eu ia falar que o meu bode se espraia pras festas infantis, mas ali pelo menos tem o que comer e os adultos são menos empolgados que na pracinha. É a pracinha que pega pra mim. Meu ouvido sangra com os papais e mamães mostrando pra sociedade que são compreensivos, fofos, evoluídos. Nem implico comas crianças: elas estão ali tentando curtir a parada.
Voltando ao Sesc: lá tem uns pontos com climinha de parquinho, mas a gente tem pra onde correr, o que é crucial. Eu estava falando dessas coisas com a Patrícia e aí veio um estalo: a Patrícia tem muito a cara do Sesc. Digo isso como elogio. Pô, acabei de falar que o Sesc é o Brasil que deu certo.
A Patrícia se empolga com tudo o que o Sesc faz. Ela gosta dos cds, dos dvds, dos músicos que tocam lá, das atividades, do cardápio da cantina, da arquitetura, de tudo mesmo. Eu também gosto, mas eu acho que ela transita melhor por lá. Aí é culpa minha, nada a ver com o Sesc.
E aqui estou eu me lamentando num texto que era pra ser uma elegia ao Brasil que deu certo. Então vamos deixar que a fada do bem assuma novamente. Parece pouco mas não é: que alívio comer fora de casa sem sentir que estou sendo vítima de estelionato! Não me venha com “se quiser pagar menos, prepare a sua comida”, porque tem um monte de lugar que anda enfiando a faca. É uma delícia pagar o preço justo.
E fico feliz ao terminar isto aqui de uma forma tão amena. Aproveitem: é raridade.