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Nelson Fonseca Neto

Em busca do equilíbrio

Acreditem, faz um bem danado esmiuçar as próprias falhas. Recomendo o exercício

04 de Janeiro de 2024 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
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Ocupo este espaço há quase treze anos. Os primeiros textos que apareceram por aqui eram mais sérios. É que eu queria ser útil de alguma forma. Eu dava dicas de leitura, por exemplo. Depois fui avacalhando. Comecei a falar mais de mim. E isto aqui tornou-se um confessionário. Já perdi a conta de quantas vezes escancarei minhas fraquezas e minhas manias.

Juro que não faço o que faço em busca de confete. Nada daquela história de “ah, Neto, você é legal!”. Sei que tem gente que apronta muito mais do que eu. Mas, acreditem, faz um bem danado esmiuçar as próprias falhas. Recomendo o exercício.

E lá vou eu me perdendo. A ideia era falar brevemente das minhas limitações e trazer o assunto desta semana. Pensei que duas ou três frases dariam conta. Estou precisando de três parágrafos. A partir do próximo, tentarei não embaralhar demais as coisas. Terminarei esta introdução de maneira brusca, mas isso é necessário. Vamos ao que interessa.

A minha relação com algumas firulas tecnológicas não tem sido fácil ultimamente. Pra dizer a verdade, nunca foi, mas eu levava a coisa mais na esportiva. Hoje, os dissabores são mais amargos. Fico remoendo a coisa por muito mais tempo. Se alguém dá trela, começo a fazer discurso contra os dias que correm. Nunca pensei que eu seria assim. Paciência.

Analisando com frieza a minha relação com os avanços tecnológicos, digo que não sou um extremista. Conheço gente que vibra com as mudanças aceleradas com as quais estamos lidando. São pessoas que conversam animadamente sobre como o mundo está ficando mais rápido, mais fácil, mais confortável. Citam exemplos com bom potencial de convencimento. E conheço pessoas que, ao contrário, olham para as mudanças aceleradas com as quais estamos lidando e traçam cenários apocalípticos. Também citam exemplos com bom potencial de convencimento.

Acho que estou na coluna do meio. Sei lá, escrevo no computador, e seria um sofrimento atroz ter de recorrer a uma máquina antiga de escrever. Conheço gente que diz sonhar em escrever um livro usando a máquina de escrever antiga. Nessas horas evito discutir. A vida é curta para se perder tempo tendo conversas que não levam a lugar algum.

Ainda que eu viva atirando pedras na internet e nas redes sociais, consigo reconhecer que tem muita coisa boa acontecendo. E eu poderia gastar um bom tempo enumerando confortos e praticidades que o avanço tecnológico trouxe. É só pensar nos avanços na área médica.

Pois bem. O meu equilíbrio é abalado quando entra em cena o maligno aplicativo. Vai ver é azar meu, igual ao que eu mencionei na semana passada sobre a identificação facial. Eu diria que a minha implicância com o aplicativo está apoiada em dois pontos.

O primeiro deles é o que eu chamo de “síndrome de faca no pescoço”. A faca no pescoço simboliza a coação. Claro que o processo não é tão grosseiro quanto o que estou desenhando, afinal, estamos lidando com profissionais. Começa com “experimente nosso aplicativo; sua vida será facilitada”. Mas você ainda tem opção. Depois de um tempo, não. Se você não baixar o tal aplicativo, você não consegue fazer o básico do básico com a empresa que deseja que você o use o aplicativo.

O segundo ponto da minha implicância: os aplicativos sempre falham. Quando você mais precisa, é obrigado a ler a mensagem “estamos trabalhando para resolver o problema”. É lindo quando isso acontece, com o aplicativo do banco, no supermercado, depois que a compra volumosa é colocada em sacolas e as outras pessoas da fila olham para você com olhar homicida. É sublime quando você está com pressa e descobre que precisa baixar a nova versão do aplicativo. E você ainda é obrigado a ler que a nova versão é maravilhosa.

Como eu disse lá atrás, vai ver é azar meu.

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