Nelson Fonseca Neto
Zap
Nunca deixarei de ficar espantado com a importância do Whatsapp em coisas sérias como eleições

A rainha Elizabeth morreu no dia 8/9, pouco depois do almoço, horário de Brasília. Não vi a série sobre ela na Netflix. A Patrícia e os meus pais viram e disseram que vale a pena assistir.
Esta não será uma crônica sobre a rainha da Inglaterra. Falta-me o estofo histórico para tanto. Comecei com a rainha porque eu quero escrever sobre o Whatsapp. Depois eu confiro direito, mas acho que nunca escrevi longamente sobre o Whatsapp. Chegou a hora.
Quando a rainha morreu, pensei: quanto tempo vai levar até chegar alguma piadinha associando Elizabeth com a sua famosa longevidade? Imaginei uns quarenta minutos. Perdi. 12 minutos depois, recebi uma imagem engraçadinha: associava a rainha ao fato de o Palmeiras não ter Mundial. Quem disse que, na vida, é uma surpresa a cada esquina?
Agora eu me dou conta: não sou a melhor pessoa para escrever sobre Whatsapp. É que eu sou um péssimo usuário de Whatsapp. Basicamente, uso para trocar mensagens com a Patrícia, meus pais, meu irmão, minha cunhada e meus alunos das aulas particulares. Faço parte de um grupo ou outro, mas nada além disso.
Acho que sou sortudo. Os grupos dos quais faço parte não são frenéticos. Ouço pessoas reclamando de grupos que não dão sossego. De um pessoal que dá bom-dia às 6h da manhã. Ou de gente que fica aporrinhando com cafonice política.
Não sou contra dar bom-dia aos amigos. Cumprimentar é crença na vida polida. É marco civilizatório. Sendo assim, nada contra as saudações.
Sobre a cafonice política: sou sortudo também. Preciso entrar em detalhes? Não recebo textos grotescos. Nada de imagens fajutas ou de texto tosco. É muita sorte.
Os grupos dos quais participo são pequenos. Dez, doze pessoas, no máximo. Esses grupos ficam em silêncio por vários dias. Dão sinal de vida quando, por exemplo, o Santos perde para o São Paulo. São umas tirações de sarro engraçadas. Meus amigos são inteligentes.
Uns conhecidos meus participam de grupos mais numerosos. Falam que é uma balbúrdia. É um pega pra capar. Um tretando forte com o outro. Gente abandonando dramaticamente o grupo. Gente indignada com a pessoa que abandonou dramaticamente o grupo. Não tem fim.
Em agrupamentos maiores encontramos de tudo um pouco. O cara que só fala de política. O nostálgico. O zoeiro. O sujeito que sempre quer marcar churrasco. O melancólico. O sombrio. O hipomaníaco. É a sociedade condensada. Mas só sei dessas coisas de orelhada. Sou muito, muito sortudo.
Nunca deixarei de ficar espantado com a importância do Whatsapp em coisas sérias como eleições. Não que eu não acredite no peso do Whatsapp na hora de decidir em quem votar. Não é isso. É que eu não consigo imaginar um adulto caindo em coisas grosseiramente forjadas. Tive a oportunidade de ver algumas dessas coisas compartilhadas. Num primeiro momento, juro, achei que era tiração de sarro. Ingenuidade a minha.
Depois vi que levavam aquelas coisas sinistras a sério. Que acreditavam numas abobrinhas monumentais. E que não tinham vergonha de sair por aí espalhando a tolice. Aí a gente entende como o buraco parece não ter fundo.
Dois minutos atrás, recebi uma mensagem num dos grupos do Whatsapp. Era um vídeo de gatinho. Agradeço aos céus pelos amigos que tenho.