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Nelson Fonseca Neto

Resoluções

Eu realmente preciso usar camisetas com mensagens tidas por engraçadas? Doar sangue não seria mais proveitoso?

15 de Julho de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
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Estamos no dia 31/12. Hora de elaborar as resoluções para o ano que está chegando. Só que não falarei das minhas resoluções aqui. Darei voz a outras pessoas. Talvez tenhamos, neste espaço, um belo documento dos tempos hodiernos. Que as próximas gerações façam bom proveito. Capturaremos o espírito de uma época? Quem sabe...

Resolução de Pedro. Tenho mais de trinta anos. Vão longe os tempos da tenra infância. Foi-se a fase de brincar de carrinho. Não posso compensar essa nostalgia brincando de acelerar loucamente minha caminhonete e achar que estou abafando. Também posso deixar de usar roupas supostamente amedrontadoras. Os bons tempos das fantasias devem permanecer como gratas lembranças.

Resolução de Paulo. Serei mais comedido nas redes sociais. Domarei a minha carência afetiva e não mais postarei misteriosamente que estou no hospital para depois explicar que estou ali porque torci o mindinho da mão direita. Eu não preciso ler mensagens de pessoas desesperadas com o meu estado de saúde.

Resolução de Tomás. Domesticarei minhas fantasias. Que elas fiquem limitadas às fronteiras da minha cabeça e não se transformem em ação. Eu não sou um paladino urbano. Eu não preciso agir como se estivesse combatendo os facínoras da cidade. Não preciso fazer caretas amedrontadoras. Eu sou só um cidadão comum, e não um personagem da Marvel.

Resolução de Carlos. As pessoas não querem ouvir meus conselhos de investimento. Ninguém quer saber das minhas opiniões sobre bolsas de valores ou criptomoedas. Eu não preciso fazer cara de espertalhão ao discorrer acerca desses assuntos.

Resolução de André. Se eu vivo as delícias do veganismo há alguns anos, não significa que eu esteja autorizado a dar palestras acusatórias durante as refeições. Caso alguém pergunte como é ser vegano, prometo responder sucintamente e tirar a parte motivacional da coisa. Menos é mais.

Resolução de Lucas. Se eu me delicio em comer carne, não significa que eu esteja autorizado a erotizar o processo de esquartejar um cabrito. É só comer a carne. Eu não preciso transformar o ato de comer em arte, ou em performance, ou em pantomima. Também não preciso incorporar o personagem truculento ao falar da carne. Menos é mais.

Resolução de Marcos. Desconfiarei menos da “mídia”. É óbvio que a imprensa tradicional tem lá seu histórico de derrapadas. Mas isso não significa que o blogueiro bizarro apura melhor uma reportagem do que uma equipe de jornalistas. Também pararei de ser o questionador do óbvio. Não é glamouroso negar coisas evidentes. É constrangedor. É uma boa forma de passar vergonha.

Resolução de Lucio. Na academia, prometo não ser patologicamente atraído por espelhos. Eles só servirão para corrigir algum problema de postura na hora do exercício. Quando eu quiser me admirar, resolverei a questão diante do espelho do banheiro da minha casa. Com a porta do banheiro trancada, de preferência.

Resolução de Cristiano. Na academia, prometo parar de usar o termo “cardio”. Correrei na esteira. Pedalarei na bicicleta. Essas coisas. Dá pra eliminar o “cardio”.

Resolução de Pablo. Prometo olhar com mais atenção para as vagas de estacionamento do meu prédio. Pensamento positivo, foco e fé não farão com que o meu carro gigante caiba adequadamente naquela vaga. Uma boa fita métrica pode ser útil. Ou a boa e velha noção.

Resolução de Marcelo. Eu realmente preciso usar camisetas com mensagens tidas por engraçadas? Preciso desfilar com paródias ou paronomásias estampadas no peito? Eu realmente preciso deixar essa marca no mundo? Doar sangue não seria mais proveitoso?

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