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Nelson Fonseca Neto

Homem de princípios

Já tiraram sarro sobre isso, mas não tem problema. O couro da gente vai engrossando com o tempo

18 de Março de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
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Nelson Fonseca Neto

Até pouco tempo atrás, eu afirmava, categórico, que não faria três coisas nesta altura do campeonato: usar chinelos, usar camiseta regata e frequentar academia.

A implicância com o chinelo não é de hoje. Minha infância não foi marcada pelos chinelos. Já vi fotos nas quais eu aparecia com aquelas sandalinhas de couro. Para entrar na empolgação da novidade, tive um chinelo Ryder lá pelo início dos anos 90. Na adolescência, eu nadava regularmente na ACM do Centro. Ali o chinelo era obrigação.

A menos que eu esteja com um grave distúrbio de memória, cravo aqui que nunca usei chinelos para passear. Praia conta? Não sou muito afeito a praias. Quando tenho de ir a uma, uso tênis. Já tiraram sarro sobre isso, mas não tem problema. O couro da gente vai engrossando com o tempo.

Nunca cogitei entrar em restaurante, lanchonete ou padaria usando chinelo. Vale a mesma coisa para churrasco na casa dos amigos. Sinceramente, nunca escarafunchei o porquê disso. Apenas nunca me passou pela cabeça. Assim como nunca me passou pela cabeça ingerir uma bebida chamada “Corote”.

A aversão às camisetas regatas é parecida com a que sinto pelos chinelos. Parecida, não idêntica. Entra aqui um elemento importante: a higiene. A implicância com o chinelo é estética e prática. Acho feio e nunca consegui andar decentemente usando chinelo de dedo.

Tenho um problema de ordem estética com a camiseta regata? Tenho. Não vale a pena entrar nos pormenores. Eu gostaria de me aprofundar nos aspectos higiênicos.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Problemas que não ocorriam antes passam a ocorrer com as mudanças da sociedade. Hoje, muita gente frequenta restaurantes por quilo. Décadas atrás, não era bem assim. Naquela época, eu até perdoaria o sujeito da mesa ao lado ostentando uma camiseta regata. Haveria uma saudável distância entre nós. Eu lidaria bem com a, digamos, divergência estética.

Tudo muda nos dias que correm. No restaurante por quilo há a tétrica fila para que as pessoas se sirvam. Ninguém me contou, eu vi: num desses restaurantes, à minha frente, um sujeito de camiseta regata, ao pegar um bife à milanesa, pingou, graças a suas sofridas e expostas axilas, gotas de suor nos alimentos. É o aspecto higiênico que eu mencionei.

Agora a academia de ginástica. Neste quesito, não honrei minha convicção. Passei a frequentar a academia do clube aqui pertinho de casa. Não que eu seja um estreante no mundo das academias. Fui um assíduo frequentador quando era adulto jovem. Depois larguei mão e passei a ridicularizar as pessoas que ficavam se admirando nos espelhos das academias.

É a vida se vingando de um falastrão? Não. Tenho frequentado a academia sem querer inventar moda. Nada de roupas cheias de trololó ou exercícios altamente complexos. Bermuda, tênis e camiseta. Bicicleta ergométrica sem enrolação.

Quem se diverte é a Patrícia. Ela passou grande dos últimos treze anos ouvindo minhas palavras demolidoras contra as academias. Que a Patrícia não ache, com isso, que as regatas e chinelos entrarão em nosso aprazível apartamento.

Sou um homem de princípios.

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