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Nelson Fonseca Neto

Em movimento

Chance zero de voltar ao futebol. Quando arrebentei os ligamentos do joelho, prometi que me aposentaria. Quem já arrebentou o joelho sabe do que estou falando

04 de Fevereiro de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
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Minha infância e minha adolescência foram marcadas pela atividade física. O futebol sempre em primeiro lugar. Também tinha o tênis, a natação e o vôlei. Handebol e basquete, quase zero. Há limites para a polivalência.

Aí, perto dos 20, arrebentei o joelho direito, num escorregão besta, jogando futsal. De lá pra cá, tive um lampejo ou outro de atividade física, mas nada comparado com os anos mais gloriosos.

De carona, veio o cigarro. Veio também a várzea alimentar. Mandava ver, sem dó, nos doces. Umas duas latinhas de refrigerante por dia. Aí foi fácil incorporar a imagem do intelectual que torcia o nariz para as pessoas que corriam ou faziam caminhadas pelas ruas da cidade.

Aí veio a pandemia. Eu claramente pertencia ao grupo de risco. E isso com uma criança pequena em casa. Eu tinha que sair do grupo de risco. Parece fala de personagem canastrão de filme B, mas a vida tem dessas coisas às vezes. Só não podemos abusar.

Comecei com o regime. Emagreci pra caramba. Ao mesmo tempo, fui reduzindo o cigarro. Mas nada de exercício. Seria prudente fazer uma avaliação cardiológica.

Em janeiro do ano passado, parei de fumar. Eu estava bem mais magro. Mas fui adiando a avaliação cardiológica. É claro que o corpo já estava sentindo os efeitos positivos. Voltar aos exercícios seria a fronteira final.

Aí, semanas atrás, fiz os exames necessários. Tudo certo para retomar os exercícios. Nessas horas a gente tem que segurar o embalo. É que é muito tentador sair esbaforido para tirar o atraso. Sou craque nisso. Acreditem em mim: sou craque nisso.

Chance zero de voltar ao futebol. Quando arrebentei os ligamentos do joelho, prometi que me aposentaria. Quem já arrebentou o joelho sabe do que estou falando. É a dor, é a bambeada forte. Só sendo sádico para desejar o repeteco. E olha que o joelho ficou tinindo, graças ao grande doutor Tulio Cardoso.

Eu estava em dúvida entre natação e caminhada. Talvez a caminhada se tornasse corrida. O problema é que a natação é mais complexa em termos de logística. Encontrar uma boa piscina, preparar o material, essas coisas. Fiquei com a caminhada mesmo.

Agora uma questão interessante: por que não corrida? Uma resposta imediatista: porque correr demanda um esforço incompatível com anos e anos de sedentarismo. Seria fácil argumentar assim.

Mas depois eu pensei melhor. Pensei melhor depois das primeiras caminhadas. O texto de hoje está chegando ao final, e quero, numa outra oportunidade, falar mais sobre a escolha da caminhada. Adianto que tem a ver com pensamentos que foram surgindo ao longo de uma hora de exercício.

A caminhada virará corrida? Não sei, pode ser. Mas fico meio ressabiado. Sou um urso. Digo isso porque vejo muita gente correndo em grupinhos. Nada contra, por favor. Só não é pra mim. Não sou tonto de ignorar que o exercício físico melhora nossa disposição. A gente sente isso logo de cara. Só não cheguei ao seguinte patamar evolutivo: correr em bando para depois parar na padaria e tomar um suco. Conheço meus limites.

A caminhada virará corrida? Talvez em alguns dias, sim. Mas não será corrida todos os dias. Não quero abrir mão da contemplação propiciada pelas caminhadas. Cada ideia que a gente vai tendo! Um dia divido essas maluquices com vocês.

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