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Letra Viva

A beleza do esporte

Artigo escrito por Nelson Fonseca Neto

09 de Julho de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
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É uma questão que muitas vezes passa batida: qual o peso dos esportes em nossas vidas? Deixemos os extremos -- os que adoram e os que abominam -- de lado. Pensemos no cidadão médio. Certamente ele terá uma surpresa ao constatar que o esporte tem um peso relevante.

Se o nosso cidadão médio está na casa dos quarenta anos, certamente acompanhou algumas das corridas do Senna nas manhãs de domingo. E é claro que ficou arrasado quando o piloto faleceu em maio de 1994. O velório e o enterro pararam o País. Isso mostra como o esporte é relevante.

Muito provavelmente o nosso cidadão médio que está na casa dos quarenta anos torce para algum time de futebol. Pode ser que não com o mesmo ímpeto de outrora, mas não perde a oportunidade de ver se o seu time ganhou ou perdeu. Em ano de Copa do Mundo, provavelmente ele verá não apenas os jogos do Brasil. Em ano de Olimpíada, pode ser que ele gaste alguns minutos vendo a final dos cem metros rasos.

É que um jogo é muito mais que um jogo; uma corrida, muito mais que uma corrida; uma luta, muito mais que uma luta. Não é exagero dizer que o esporte pode ser visto como uma espécie de vida concentrada. Poderíamos dizer que algo parecido acontece com as artes. Daí o fascínio de ambas as manifestações.

Arte e esporte encantam, muitas vezes, pela carga dramática. Acompanhamos, com o coração angustiado, as peripécias de Bentinho, em “Dom Casmurro”. Ficamos emocionados quando o Ronaldo, depois de passar pelo calvário das cirurgias, fez dois gols na final da Copa de 2002. Atletas de alto nível são os protagonistas da tragédia moderna.

Acompanhar um time desacreditado chegar ao título é aula de que tudo pode acontecer nesta vida. Testemunhar um jogador considerado carta fora do baralho resolver uma partida decisiva é prova de que a tenacidade não nos deixa na mão. O esporte é poderosa metáfora daquilo que a vida tem de melhor ou pior.

E é por isso que a leitura de “Michael Jordan: a história de um campeão e o mundo que ele criou”, biografia escrita pelo grande jornalista David Halberstam, é indispensável. Ao longo de mais de 400 páginas, temos o retrato preciso do ídolo e do seu entorno. Mesmo os mais afastados do basquete encontram encantos no texto de Halberstam. Afinal, Michael Jordan foi muito além das habilidades de seu esporte. Ele representa o ser humano em seus momentos sublimes. Ver um jogo de Michael Jordan tem efeito tão poderoso quanto a leitura de um poema de primeira grandeza.

Um outro livro que mostra a riqueza do esporte é a biografia que trata de Garrincha, escrita por Ruy Castro. Você não precisa necessariamente gostar de futebol para embarcar na leitura. Temos ali páginas cômicas e horripilantes. Há quem veja em Garrincha uma metáfora poderosa do Brasil. Vai de cada um concordar ou não. O importante é reconhecer que o esporte rende grandes histórias.

Ainda no terreno das grandes histórias do esporte, vale a pena visitar a autobiografia do tenista André Agassi. No caso dele, o esporte é pesadelo. Agassi foi um dos grandes tenistas de todos os tempos. Ganhou títulos, fama e muito dinheiro. À primeira vista, componentes que fazem feliz a vida de um sujeito. Não no caso de Agassi. O leitor sente a porrada logo nas primeiras linhas, quando se depara com uma constatação seca do atleta: a coisa que ele mais odeia na vida é o jogo de tênis. Baita livro.

Espero que a coluna de hoje não esfrie a paixão de quem acompanha qualquer tipo de esporte, e essa paixão é sagrada e deve ser meio doida mesmo. E quero que a coluna de hoje mostre uma bola rolando não é apenas uma bola rolando.

Ter as duas coisas como metas é parecido com cobrar o escanteio e sair correndo para marcar o gol.

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