Buscar no Cruzeiro

Buscar

Letra Viva

O que comemos

Artigo escrito por Nelson Fonseca Neto

21 de Maio de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
placeholder
placeholder

A Patrícia atura diariamente as minhas comparações bizarras. Não faço de propósito. Não quero bancar o engraçado da casa. As analogias simplesmente brotam. E elas cobrem assuntos bobos e assuntos sérios.

Eu já disse, neste espaço, que a Patrícia e eu mudamos dramaticamente nossa alimentação. Emagrecemos, ficamos mais lépidos. Parece coisa de ficção científica. Antes, caminhar um tiquinho rendia dores no joelho e no tornozelo. A respiração ficava meio curta. Agora eu subo dez andares de escada, carregando o João Pedro, e chego pimpão, cheio de amor pra dar. Moral da história: somos o que comemos. Nossa, que cara original! Uau. Parabéns. Ele merece uma medalha.

Ué, cadê a comparação bizarra? Pensando bem, nem é tão bizarra assim. É meio óbvia até. Se o corpo sofre com a alimentação de porcaria, a mente também sofre com as besteiras com as quais nos deparamos por aí.

Estou escrevendo este texto na quarta-feira à noite, dia 19/05/2021. Hoje mesmo, no almoço, eu falei para a Patrícia o seguinte: não consigo mais chegar perto de certos assuntos muito comentados por aí. Juro, juro mesmo, que essa constatação não é de empáfia ou de nariz empinado. A minha aversão a alguns assuntos é, sei lá, física. É o que eu estou tentando dizer.

Vou dar alguns exemplos, e não quero que você se ofenda. Sim, afinal, pode ser que eu mencione algo que você ache interessante. Se isso ocorrer, por favor, não me leve a mal. Imagine o seguinte: você gosta de certos pratos, e eu, não. Eu não gosto de melancia. Não gosto mesmo, é sério. Que direito eu tenho de dizer que você gostar de melancia é uma aberração? Espero que você tenha entendido meu ponto. Vamos aos exemplos.

Tenho aversão física ao Big Brother Brasil. Eu já disse aqui em outras ocasiões: não sou contra passar algum tempo vendo bobagens. Acho interessante e necessário. Teve uma época em que eu dava umas bicadas no programa do João Kleber. Que moral eu tenho pra azucrinar alguém? Mas Big Brother é fora de cogitação. Nem tento explicar os porquês.

Pensando na comparação tosca, o Big Brother seria uma melancia gigantesca que eu teria de devorar. Faria um mal danado. Nunca gostei de melancia. Nunca gostei de Big Brother. Estou velho para ousadias. Sei que não vou mudar.

Que tal tornar a coisa mais sutil? E o prato outrora apreciado e que agora o afasta enojado? Pode acontecer. Comigo aconteceu com as redes sociais. Mais especialmente, o Facebook. Já fiz minhas estripulias por lá. Aborreci os amigos com vídeos supostamente engraçados e certamente constrangedores. Já publiquei textos ácidos e manhosos. Mas faz alguns meses que não consigo chegar perto daquilo. Resultado: sou visto como um avoado. Não sei o que está acontecendo. Já descrevi a sensação algumas semanas atrás ao usar a metáfora do escafandro.

Não vou mentir e dizer que ignoro completamente o que acontece no mundo das celebridades. Para não soar ofensivo, reconheço que meu alheamento não é bom. Você pode dizer que não tem problema algum saber o que a celebridade X fez ou deixou de fazer. E não tem mesmo. Recebo fiapos de informações da Patrícia e de amigos. Ouço e faço cara de bobo.

Eu sei, eu sei, sou neurótico pra caramba. Eu sei, eu sei, é doentio ignorar o que muita gente anda comentando por aí. Eu sei, eu sei, é legal ter assunto para comentar com os outros. Eu sei, eu sei, é bacana interagir com conhecimento de causa nos grupos de WhatsApp. Eu sei de tudo isso, mas não consigo.

É como, depois de uma dieta espartana, cair matando em pilhas de hambúrguer e bacon. Isso derruba o sujeito acostumado a outros alimentos.

[email protected]