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Khalil ganha o mundo com sua música

10 de Novembro de 2019 às 00:01

Khalil ganha o mundo Khalil começou postando seus vídeos na internet e foi descoberto pelo fotógrafo e empresário Sérgio Guerra. Crédito da foto: Fernando Naiberg / Divulgação

“Khalil canta como quem reinventa o mundo”. Dessa forma, o escritor angolano José Eduardo Agualusa fez menção a um jovem músico de Sorocaba em sua coluna no jornal O Globo do último dia 26. A frase foi escrita após a audição, em primeira mão, do material bruto do álbum “De cara pro vento”, recém-gravado em Lisboa que deve ser lançado nas plataformas digitais no início do ano que vem.

O jovem sorocabano é Khalil Magno Menegolo, de apenas 24 anos, que já vinha intrigando e impressionado muita gente por seu talento musical antes de cair na graça de Agualusa -- e do fotógrafo e empresário pernambucano Sérgio Guerra, que está bancando o projeto de gravação do disco.

Artista da geração que cresceu no mundo digital, Khalil começou a aprender violão aos 13 anos e já aos 16, com algumas composições próprias, adquiriu o hábito natural de ligar a câmera de celular, sentado na cama do seu quarto, e disseminar essas imagens em seu perfil no Facebook. O vídeo de uma canção em especial, intitulada “Quem é Deus?”, talvez por sua letra polêmica, viralizou na rede e foi visto por Sérgio Guerra, que vive em Lisboa.

Como fotógrafo, Guerra destacou-se acompanhando o dia a dia dos pastores nômades do deserto do Namibe, em Angola. Mas ele também atua como mecenas, apoiando a produção de uma série de álbuns da música popular de Angola e do Brasil. Agualusa, amigo de Sérgio, conta que o fotógrafo “ficou entusiasmado com os versos fortes da canção” e foi à procura de outras. Daí até o convite para que Khalil gravasse um disco em Lisboa foi um passo.

De volta a Sorocaba, Khalil disse ao Mais Cruzeiro que ficou na capital portuguesa por oito dias, no final de outubro, para gravar o disco sob a direção musical de Alê Siqueira, respeitado produtor que já trabalhou com nomes como Elza Soares, Arnaldo Antunes, Caetano Veloso, Chico Buarque e Marisa Monte. As gravações, propriamente ditas, ocorreram em três dias na sala do apartamento de Guerra, onde Khalil e Siqueira acreditaram ter achado a acústica perfeita. Voz e violão de Khalil foram gravados simultaneamente, preservando a sonoridade orgânica do artista que poderá ganhar outros contornos, com arranjos de Alê na pós-produção.

Composições

Autor de mais de sessenta composições -- quase todas letras e música sem parceiros --, Khalil admite ter “apego” com suas canções e comenta que um dos maiores desafios foi selecionar apenas doze que farão parte em seu álbum de estreia. “As composições são como filhos. A minha vontade era de por um monte”, afirma. Para sintetizar toda a sua produção até aqui, “De cara pro vento” levou em conta três temas que são recorrentes em sua obra: questões de cunho social e política, de encontros e desencontros amorosos e espiritualistas -- com cantos para os orixás. “Quis ser fiel a tudo o que eu sinto e esses três pontos contam a minha história e me definem quem eu sou”, completa.

O jovem músico comenta que logo que aprendeu os primeiros acordes formou com os amigos uma banda de rock chamada “Forvum”, em homenagem ao Fórum Velho, então sede da extinta Oficina Cultural Grande Otelo, que abrigava uma turma sensível a todo tipo de manifestação artística. Inicialmente, suas primeiras influências musicais eram as bandas de pop rock de forte apelo comercial, e que tocavam na rádio, como NX Zero e Fresno, mas uma pesquisa no sentido inverso o levou a Cazuza, passando por Cartola, e o fez descobrir os encantos da MPB até chegar à Tropicália e acertar o coração em cheio com Caetano Veloso, assumidamente a sua principal referência. Sim, o timbre vocal de Khalil e seu modo de tocar violão se assemelham muito à peculiar sonoridade do compositor baiano. “Posso afirmar que Caetano é o artista que mais bate no meu coração”, confessa. Não se trata de cópia. Como bem disse Agualisa, Khalil canta como quem reinventa o mundo. (Felipe Shikama)