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Joéssica Borges transborda as suas inquietações em 'Mete a colher'

29 de Novembro de 2019 às 07:01

Joéssica Borges transborda as suas inquietações O show reúne nove canções autorais inéditas da multiartista de apenas 20 anos. Crédito da foto: Jefferson Lucas / Divulgação

É uma apresentação musical, mas poderia ser uma performance-protesto. Na definição da atriz, cantora e compositora sorocabana Joéssica Borges, o show “Mete a colher” que ela apresentará hoje, às 19h, no Maloca Centro Criativo, significa “o transbordar de um mar de inquietações”.

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Os ingressos custam R$ 10 (preço único) e serão vendidos na bilheteria do espaço cultural, que fica na rua Francisco Scarpa, 321, no Centro.

O espetáculo reúne nove canções autorais inéditas da multiartista de apenas 20 anos de idade -- o lançamento nas plataformas de música digital deve ocorrer primeiro semestre de 2020 --, que convidam o público a quitar uma dívida histórica da sociedade às mulheres negras brasileiras: ouvir o que elas têm a dizer.

As letras são densas. Falam sobre violência doméstica, solidão, depressão, racismo.

Joéssica comenta que, ao mergulhar dentro de si, trouxe para a superfície composições que dialogam inteiramente com suas vivências de ser uma mulher preta.

“É o transbordamento dos meus sentimentos, de uma mulher preta, artista. Também não falo só por mim. É uma narrativa coletiva, da saúde mental do negro, da solidão, de questões que precisam ser pautadas por que acontece comigo e com outras pessoas”, assinala.

Essas narrativas individuais e coletivas são levadas ao palco em forma de música e também em breves relatos de experiências vividas pela jovem nascida e criada no Jardim Ipiranga, zona oeste de Sorocaba. “Essas narrativas se entrelaçam e contam a minha história”, detalha.

Em determinado momento do show, com revelações de verdades inconvenientes ditas com forte potência cênica e performática, Joéssica diz: “Agora que vocês já me conhecem, somos amigos, e tenho que dizer o que não aceito”.

A frase prenuncia a canção-título do show, “Mete a colher”, que conta a história de uma mulher que pede que as pessoas se intrometam (e denunciem) as violências sofridas pelo próprio parceiro, contrariando o antigo ditado de “em briga de marido e mulher, não se mete a colher”.

Influências

Sob influência de cantoras e compositoras como Elza Soares, Luedji Luna e da conterrânea Ananda Jacques, que co-assina os arranjos e participará do show tocando violão e dividindo alguns vocais, Joéssica Borges afirma que suas canções flertam com ritmos tradicionais do Brasil, como o samba, o baião e o maracatu, mas sente desconforto em enquadra-las em um gênero específico.

“Também estou descobrindo. Por isso chamo de poesia cantada”, assinala.

Além de Ananda, Joéssica Borges estará acompanhada pelos percussionistas Tatiana Gonçalves e Luiz Melo. O show contará, ainda, com participação especial da violonista Menian Miranda.

Hoje à noite será a segunda apresentação do show “Mete a colher”, que estreou no início do mês passado na Biblioteca Infantil Municipal. O espetáculo, aliás, representa uma nova fase na vida da artista, formada no curso técnico de teatro do Senac Sorocaba, e que se descobriu compositora recentemente, ao escrever “Silêncio”, sua primeira canção em um momento de angústia da solidão.

“É como se eu me libertasse [daquele sentimento]. Depois de curada a ferida eu pego de novo [a letra], e trabalho de maneira mais fluída”, complementa. (Felipe Shikama)