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Há 30 anos, ‘Uma linda mulher’ se tornava um marco para o cinema

13 de Junho de 2020 às 00:01

Há 30 anos, ‘Uma linda mulher’ estreava para se tornar marco na história do cinema O filme permanece, até hoje, como a comédia romântica de maior bilheteria de todos os tempos. Crédito da foto: Divulgação

Em julho, serão comemorados os 30 anos do lançamento de “Uma linda mulher”. O longa de Garry Marshall, estrelado por Julia Roberts e Richard Gere, é mais em muita coisa. Permanece como a comédia romântica de maior bilheteria de todos os tempos (US$ 463 milhões), a de maior público nas salas (mais de 42 milhões de espectadores). Mais, mais. Mas foi um longo caminho para se chegar a esse resultado.

Qualquer espectador da “Sessão da tarde” conhece a história -- um empresário especializado em sucatear empresas que depois vende pelo maior lucro contrata uma prostituta para ser sua acompanhante por uma semana. Ele a tira da rua, Rodeo Drive, dá-lhe um banho de butique nas grifes mais chiques de Los Angeles e, como Pigmalião diante de Galasteia, apaixona-se por sua criação. Alguém aí não sabe como termina essa história? É pouco provável. “Uma linda mulher” é mais que simplesmente um filme. Virou referência -- ícone? -- da cultura pop. É citado até em estudos acadêmicos sobre a mobilidade social.

Mas poderia ter dado tudo errado. Inicialmente, era para ser um drama sombrio, meio documentário, sobre uma prostituta drogada. Como projeto, o título era U$ 3 mil, que é o valor que Vivian Ward cobra para acompanhar Edward Lewis por uma semana. O roteiro original incluía uma cena de Vivian envolvendo-se numa disputa pesada com seu fornecedor. O então presidente da Disney, Jeffrey Katzenberger -- a empresa produtora era uma subsidiária, a Touchstone --, não estava gostando de nada daquilo. Deu o ultimato: exigiu que a história sórdida fosse transformada em conto de fadas moderno.

Parte dessa zona sombria da prostituição aparece, bastante atenuada, na personagem da amiga de Vivian. A primeira escolha para o papel da protagonista foi Karen Allen. Quando Garry Marshall assumiu o comando, a escolha mudou para Mary Steenburgen. Não deu certo. Winona Ryder e Jennifer Connelly foram testadas, mas não serviram porque pareciam muito jovens.

Na sequência, boa parte das estrelas de Hollywwod leu o roteiro e declinou -- Meg Ryan não aprovou, Michelle Pfeiffer quis mudar “algumas” coisas. Jennifer Jason Leigh estava quase sendo contratada quando começou a questionar o sexismo da produção. Julia Roberts terminou escolhida aos 45 do segundo tempo. Venceu mais pela desistência das outras que pelo próprio nome, embora já tivesse a credencial do Globo de Ouro de coadjuvante que recebeu por “Flores de aço/steel agnolies”, de 1989.

Para protagonista masculino, chegaram a ser considerados Christopher Reeve, Daniel Day-Lewis e Denzel Washington. Al Pacino, ao que se consta, fez uma leitura do papel com Julia e recusou. Richard Gere topou, mas teve alguma dificuldade no começo. Por ser um astro, estava querendo aparecer demais. Ele próprio confirmou, e não sem humor, que o diretor chamou-o de lado e lhe disse que o filme era sobre uma pessoa que se movia e outra, não. E Marshall teria perguntado -- “Adivinhe qual das duas você é?”

Anos depois, Julia fez um filme (bom) chamado “O sorriso de Mona Lisa”, com direção de Mike Newell. Esse aqui poderia ser “O sorriso de Vivian”. Numa cena-chave, Vivian está deitada no chão e assiste pela TV a um episódio do velho seriado, “I love Lucy”. É parte da lenda -- a atriz não ria como o diretor estava querendo. Fora de campo, o próprio Marshall lhe fazia cócegas nos pés, até vir a estrondosa gargalhada. O público se apaixonou, os críticos colocaram-na nas nuvens. Julia foi indicada para o Oscar, ganhou o Globo de Ouro. Virou estrela.

Como outros filmes que, ao longo da história, tiveram os elencos mudados -- “O intrépido general Custer”, de Raoul Walsh, “Casablanca”, de Michael Curtiz --, muita gente acha que os deuses do cinema interferiram para que tudo desse certo. Além da química da dupla principal, a trilha contribuiu. Quando Edward e Vivian vão à ópera, é para ver “La Traviata”, “Pretty woman” segue a “princesa” na voz de Roy Orbison. Natalie Cole canta, sugestivamente, “Wild women do”. E a banda Roxette estourou em todo o mundo graças a uma faixa, “It must have been love”.

Claro que tinha de ser amor. De que outra maneira o relato chegaria ao seu happy end? Só falta revelar o segredo de Polichinelo. Por mais bela que fosse a jovem Julia, não foi suficiente. Na cena da lingerie, no começo, e no cartaz, o corpo de Vivian não é o dela. Julia foi “dublada” por Shelley Michelle Tão grande foi o sucesso que, por quase dez anos, a indústria tentou repetir o fenômeno. Depois de muita procura, o diretor, o astro e a agora estrela encontraram o que acharam que fosse o material certo. Alguma coisa ficou faltando, porque “Noiva em fuga”, de 1999, por mais charme que tenha, ficou abaixo da expectativa, em todos os sentidos. (Luiz Carlos Merten -- Estadão Conteúdo)

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