Grupo de teatro homenageia Adilson Barros
Adilson Barros deu vida, além de outras dezenas de personagens, a Nho Quim, de “A marvada carne”. Crédito da foto: Divulgação
Nome de destaque na história do teatro e do cinema nacional, o ator sorocabano Adilson Barros, falecido em 1997 aos 50 anos, passa a dar nome à sala de espetáculos do grupo paulistano Commune, localizada na rua da Consolação, no Centro de São Paulo. O evento em homenagem ao artista foi realizado na noite da última quinta-feira, data em que a companhia celebrou 15 anos de existência, e abriu uma exposição com 58 fotografias do artista, cedidas por amigos.
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O nome de Adilson Barros está gravado em uma placa de acrílico e metal, denominando o aconchegante teatro de bolso com capacidade para 99 pessoas. Durante o evento de descerramento da placa e abertura da exposição, amigos do artista relataram histórias sobre o homenageado, reconhecido como um dos maiores atores brasileiros. Diretor de “A marvada carne”, filme lançado em 1987, André Klotzel lembrou que além de dar vida a Nho Quim, protagonista ao lado de Carula (Fernanda Torres), o sorocabano contribuiu como “consultor antropológico”, já que era o único “caipira”, do interior de São Paulo, em toda a equipe do longa.
O evento também contou com a exibição de depoimentos em vídeo enviado artistas que contracenaram com Barros na premiada peça “Feliz ano velho”, de Marcelo Rubens Paiva, como Lília Cabral, Denise Del Vecchio, Marcos Frota e Marcos Kaloy. O sorocabano Paulo Betti, que dirigiu o espetáculo, contou que “Kibe”, como Barros era conhecido em Sorocaba, também era formado em Direito e em Educação Física e foi a primeira pessoa a sugerir que rodasse um filme sobre a história do místico João de Camargo. “Eu tinha começado a fazer um documentário em vídeo sobre Nhô João de Camargo, e contei para ele todo entusiasmado. E ele falou assim: ‘que micho. João de Camargo merece um longa-metragem’. Foi ai que ele colocou essa ideia na minha cabeça e acabei fazendo o [longa] ‘Cafundó’”, revelou.
Em seu depoimento, a atriz Denise Del Vecchio destacou que durante os seis anos em que “Feliz ano velho” ficou em cartaz, excursionando no Brasil e no exterior, sua relação com Adilson sempre marcada por afeto e generosidade. “Muitas vezes, o espetáculo só acontecia porque você [Barros] acreditava no impossível. Sinto imensa saudade e gratidão pela vida ter possibilitado essa convivência e esse jogo teatral com você”, disse emocionada. “Eu não sabia nada da vida e ele me ensinou muita coisa”, acrescentou Lília Cabral, lembrando Barros tinha o hábito de dar apelidos aos amigos. Lília era chamada por ele de “Cabralia”, “Caricata” e “Caipirona”.
Um evento na última quinta-feira marcou a inauguração da sala de espetáculos. Crédito da foto: Divulgação
Segundo o diretor teatral Augusto Marin, co-fundador da Commune, a ideia de homenagear o ator sorocabano com o nome da sala é uma forma de reverenciar o legado e a memória desta importante figura do teatro brasileiro e que influenciou diretamente o trabalho da companhia. “Ele foi meu professor de teatro na Unicamp, nos idos de 1989, e ficamos muito amigos. Ele me dirigiu na minha primeira peça, que se chamava ‘O charme discreto do Cafundó’, do Waterloo Gregório e depois em ‘Polícia’, do russo Slawomir Mrozek. Mesmo sem ter participado da companhia [Commune, já que faleceu seis anos antes de sua criação], o Adilson é uma referência para toda uma geração de atores e para o teatro brasileiro e a homenagem também é uma forma de fazer com que os mais novos também o conheçam”, disse ao Mais Cruzeiro.
Marin destaca que, além de talentoso ator, especialmente por sua presença de palco e sua habilidade de improvisar em cena, Adilson era um verdadeiro agitador cultural, que com otimismo e carisma contagiantes, conseguia engajar muitos artistas em projetos coletivos. “Ele era sobretudo um cara de grupo. Sabia que somente juntos o teatro podia andar melhor e ser mais forte”, acrescenta o diretor do grupo teatral paulistano que atualmente conta com 20 profissionais.
Formado pela Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo (EAD/USP), Adilson Barros foi fundador da Cooperativa Paulista de Teatro (CPT) e um dos criadores do Núcleo do Pessoal do Victor, ao lado de Paulo Betti, Eliane Giardini, Waterloo Gregório, Reinaldo Santiago, Marcio Tadeu, Marcília Rosário, entre outros. Também foi um dos professores fundadores do curso de Artes Cênicas do Departamento de Teatro da Unicamp.
No teatro, além de “Feliz ano velho”, o sorocabano participou de outras peças premiadas como “Na carreira do Divino”, de Sofredini, “O Pagador de promessas”, de Dias Gomes, “Cerimônia para um negro assassinado”, de Fernando Arrabal, com Ismael Ivo, “O Processo”, de Kafka, “A estrambótica aventura da música caipira”, com direção de Carlos Alberto Soffredini e Wandi Doratiotto e “Afinal uma mulher de negócios”, de Rainer Werner Fassbinder, ao lado de Irene Ravache. No cinema, participou dos longas “A marvada Carne” (1987) e “Capitalismo selvagem” (1993), ambos de André Klotzel, Flor do desejo (1983), de Guilherme de Almeida Prado e “Kuarup” (1989), de Otávio Ruy Guerra.
A exposição fotográfica de Adilson Barros ficará em cartaz até o final de setembro e pode ser vista de segunda a sexta-feira, das 12h às 21h e sábado e domingo das 16h às 21h. O Teatro Commune fica na rua da Consolação, 1.218, ao lado do metrô Higienópolis - Mackenzie.
15 anos de história
Além de Adilson Barros, o grupo teatral Commune homenageará o cenógrafo Cyro Del Nero (1931-2010), que emprestará o nome à galeria do espaço. A cerimônia está agendada para a noite da próxima quinta-feira, dia 11, e contará também com o lançamento do livro “Commune 15 anos”, que conta a trajetória da trupe. Organizado por Augusto Marin, Roselaine Araujo e Liniane Haag Brum, a obra tem tiragem de 500 exemplares, que serão distribuídos gratuitamente a órgãos públicos e espaços culturais.
Resultado do projeto “Territórios da Imaginação: 15 anos de resistência da Commune”, contemplado pela 31ª edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo, o livro registra o processo de criação, pesquisa e formação da companhia e o trabalho de formação dos jovens aprendizes e de espectadores. (Felipe Shikama)
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