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Gog faz show com repertório montado pelo público neste sábado

14 de Novembro de 2019 às 22:00

Gog faz show com repertório montado pelo público Pioneiro do movimento hip hop do Brasil, Gog já tem 30 anos de carreira. Crédito da foto: Rafael Berenzisky / Divulgação

Pioneiro do movimento hip hop no Distrito Federal e um dos rappers mais influentes e respeitados do Brasil, Gog faz show neste sábado (16), às 17h, no CEU das Artes do Parque Laranjeiras (rua Washington Pensa, 969), com entrada gratuita.

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A apresentação, com entrada gratuita, marca o encerramento da Semana Municipal do Hip Hop, que começou no último sábado e contou com rodas de bate-papo com artistas, militantes e pesquisadores do movimento e shows de artistas locais e convidados, como o rapper Arnaldo Tifu.

Neste ano, toda a programação da Semana do Hip Hop se concentra no CEU das Artes e está sendo realizada com apoio da Prefeitura de Sorocaba, por meio da Secretaria de Cultura (Secult), já que foi instituída em 2005 por força de lei, após pressão dos jovens militantes do movimento hip hop da época.

Para Gog, abreviação das iniciais de seu nome, Genival Oliveira Gonçalves, a iniciativa tem de ser comemorada, já que o movimento hip hop, que consiste na junção de quatro elementos artísticos (MC, o DJ, o grafite e o break), contribui com um processo de conscientização para as transformações sociais.

“Acredito que educação sem cultura é adestramento. A cultura hip hop vem trazer conhecimento, sensibilidade e profundidade para a gente discutir a nossa sociedade. Foi no hip hop que eu descobri a história do Brasil, ou melhor, que não teve descobrimento”, comenta, defendendo que as letras engajadas do rap contribuem com o processo de reflexão acerca da revisão da história oficial. “O rap me mostrou que jamais houve escravos africanos e sim africanos escravizados. São coisas totalmente diferentes”, afirma, em entrevista por telefone ao Mais Cruzeiro.

Em sua passagem pela cidade, o rapper e escritor de 54 anos promete revisitar suas rimas mais contundentes e conhecidas do público. “Na realidade, a ideia é montar o set list no calor da emoção, conversando com as pessoas”, afirma, citando que em mais de 30 anos de carreira, compôs cerca de 80 músicas e pelo menos 30% delas se tornaram clássicos do rap nacional. “A forma mais digna de retribuir o carinho que o interior de São Paulo sempre me deu é colher o repertório com emoção, mais próximo do público”, acrescenta.

Periferia

É de Gog o célebre verso “Periferia é periferia em qualquer lugar”, sampleado pelo grupo Racionais MC’s” no disco icônico “Sobrevivendo no Inferno” (1997), que cirurgicamente mapeia esse “território social”, palco de conflitos e efeitos em matéria de desigualdade de todas as espécies. Mas o que mudou, na periferia, de quando escreveu aqueles versos para hoje?

“Com o crescimento das cidades houve a conurbação das cidades, algumas periferias passaram a ser próximas. O efeito que a gente percebe é que muitas vezes, por isso, regiões que foram periféricas hoje reproduzem o discurso do centro. Isso traz para nós a noção que tem que trabalhar a ideia de consciência de classe para além do território. Mas periferia continua sendo periferia em qualquer lugar. É o lugar das pessoas que voltam pra casa depois de um dia inteiro fora, para ganhar a vida com o suor do trabalho, e de gente que sonha em ter uma vida melhor”.

E por falar em “discurso do centro”, Gog reconhece que nunca o rap foi tão socialmente bem aceito quanto hoje. Antes criminalizado, até mesmo dentro da periferia, o rap tem sido consumido cada vez mais pelos jovens de classe média, de aplicativos de música digital à casas noturnas e trilhas de novelas. A maior parte delas, por artistas da nova geração que trazem letras que priorizam mensagens de amor e de meritocracia em detrimento de narrativas com discurso social crítico ou engajado.

“O capitalismo se apropria [até do que é crítico a si] pra reescrever o discurso. Ele não quer a letra, mas quer a forma. É o mesmo processo de higienização do futebol. Como pode o ingresso para um jogo do Flamengo custar entre R$ 100 a R$ 200? Você vê na televisão e não vê um desdentado na arquibancada. O rap também passa por esse sistema”, compara.

Apesar desse fenômeno, que ele chama de “cooptação”, o decano do rap afirma que há artistas valorosos da nova geração e cita nominalmente o baiano Baco Exu do Blues, de apenas 23 anos de idade. “Não considero nova e velha escola. É uma geração que estão no mesmo tempo cronológico que o nosso. Me sinto representado por eles. Imagina, num país como o nosso, usar o nome Baco Exu do Blues já é uma afirmação da negritude enorme. Eu vejo parte dessa geração continuando a nossa caminhada”, conclui.

Outras atrações

Antes de Gog subir ao palco, a Semana Municipal do Hip Hop conta com outras atrações neste sábado, a partir das 17h, no CEU das Artes do Parque das Laranjeiras. De acordo com a comissão organizadora, haverá oficina de grafite, roda de break e apresentações de DJ Preto, Veredicto ZN, Sinapse CIA, Ritmo Preto, Preferencial MC’s, DJ R-Jay e Autoconceito. (Felipe Shikama)