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Fundec mantém aulas on-line e lança sarau em Sorocaba

22 de Julho de 2020 às 00:01

Fundec mantém aulas on-line e lança sarau O antigo Teatro São Rafael, que abriga a Fundec, é um dos prédios históricos mais bem conservados da cidade. Crédito da foto: Emidio Marques / Arquivo JCS

Sarau virtual, aulas on-line e, futuramente, um “collab” com a participação de todos os músicos da Orquestra Sinfônica de Sorocaba (OSS) estão entre as atividades realizadas pela Fundação de Desenvolvimento Cultural (Fundec) de Sorocaba em meio à pandemia de Covid-19.

As aulas do Instituto Municipal de Música de Sorocaba (IMMS), mantido pela Fundec, continuam sendo oferecidas gratuitamente para todos os 700 alunos, mas a diferença é que agora elas ocorrem a distância. Com a cooperação dos professores, que precisaram se reinventar na arte do ensino musical, e compreensão de pais e entusiasmo dos alunos, o cronograma de quase os vinte cursos de instrumentos está sendo cumprido, apesar da distância.

Sarau cultural

Com intuito de compartilhar as belezas da música com o público em geral, a instituição lançou na última quinta-feira (16) o primeiro Sarau Cultural on-line, em suas redes sociais, com apresentações musicais de professores e alunos, entrecortadas por declamação de versos de grandes nomes da poesia brasileira. A edição de estreia já alcançou mais de 5 mil pessoas e pelo menos mais três saraus estão programados para as próximas semanas.

Para os próximos meses, a Orquestra Sinfônica de Sorocaba, também mantida pela Fundec, deverá publicar a sua primeira “collab” -- abreviação de “collaboration” --, como tem sido chamados os vídeos virais de música produzidos coletivamente durante o isolamento social, cada um de sua casa. Sob a batuta do maestro Eduardo Ostergren, a OSS planeja revisitar trechos de composições mais marcante da música erudita mundial. “Nós estamos funcionando normalmente. Só deixamos de realizar as atividades presenciais”, destaca o presidente da Fundec, Antonio Carlos Sampaio.

Ele afirma que em abril, quando o histórico Teatro São Rafael precisou fechar as portas temporariamente para atividades presenciais, os professores tiveram as férias antecipadas. Mais do que descanso -- já que o retorno do ano letivo havia ocorrido em fevereiro --, o período serviu para que o corpo docente se preparasse para o formato de Ensino a Distância.

Ferramentas virtuais

Fundec mantém aulas on-line e lança sarau Leonardo Batista, professor, diz que ensino híbrido é tendência. Credito da foto: Divulgação

Professor do curso de violão clássico e das disciplinas teóricas, como percepção musical, harmonia e história da música, Leonardo Batista afirma que já era um tanto familiarizado com as ferramentas virtuais, pois costumava enviar conteúdo complementar aos seus alunos por aplicativos de mensagem.

O advento da pandemia, no entanto, o impôs a uma adaptação ainda mais radical, que inclui salas de aula em plataforma on-line. “O isolamento social acelerou algo que já se mostrava uma tendência na música: o ensino híbrido”, diz o professor, citando que, especialmente nos níveis mais avançados, a aula remota, inclusive com mestres de outros países, já era uma realidade em ascensão para os músicos antes da pandemia. Batista pondera que no nível mais básico, o ensino presencial é mais relevante, especialmente para orientações e correções de postura e de aspectos físicos do instrumento. O auxílio das ferramentas virtuais, acrescenta Batista, foi fundamental para não comprometer o cronograma de aprendizado de seus alunos. “É gratificante ver que, apesar de tudo, eles estão progredindo e o programa está sendo cumprido”, afirma.

Fundec mantém aulas on-line e lança sarau Rodrigo Alves, aluno do curso de trombone, aprovou novo formato. Credito da foto: Divulgação

As aulas, de maneira on-line, têm sido frequentadas com entusiasmo. É o caso do médico ortopedista Rodrigo Alves Montiel, de 43 anos, que há três frequenta o curso de trombone. “Foi uma boa solução para a gente não parar. Se parar é complicado, porque o aprendizado do instrumento musical exige prática constante”, afirma. Embora não tenha pretensão de se profissionalizar como músico, ele assinala que o estudo de música é uma “terapia” que ele leva com seriedade. Montinel acrescenta que sempre teve vontade de aprender a tocar um instrumento musical. “Meu pai toca acordeon, e infelizmente não temos no Brasil a oportunidade de aprender música nas escolas, mas temos a oportunidade de ter em Sorocaba a Fundec como uma excelente escola pública e com excelentes professores”, assinala.

Presidente destaca compreensão e colaboração

Fundec mantém aulas on-line e lança sarau Antonio Carlos Sampaio é presidente da Fundec. Crédito da foto: Fábio Rogério / Arquivo JCS (3/3/2020)

O presidente da Fundec, Antonio Carlos Sampaio, afirma que a migração temporária das aulas presenciais para as aulas on-line com a mesma carga horária só foi possível graças ao empenho dos professores, que se adequaram rapidamente ao novo formato, e a compreensão de alunos e familiares. “O retorno das férias [antecipadas] já foi para o modelo virtual. No começo é claro que teve algumas dificuldades, mas hoje está funcionando normalmente. Os jovens aprendem muito rápido”, destaca, detalhando que todas as aulas são gravadas e alguns trechos tem sido publicados nas redes sociais da entidade, como forma de prestação de contas à sociedade.

Em março deste ano, antes da pandemia, em sua primeira entrevista como presidente da Fundec, Sampaio afirmou que os principais objetivos de sua gestão seriam ampliar o número de concertos, engajar a comunidade a participar das atividades artísticas e educacionais promovidas instituição. Ele menciona que os dois primeiros e únicos concertos realizados na Sala Fundec neste ano foram marcados pela ocupação de 100%. “Infelizmente, quando começamos a levantar voo, fomos boicotados pela pandemia”, diz.

A pandemia de Covid-19 tem exigido ações dinâmicas de todos os tomadores de decisão. Não é diferente com a diretoria da Fundec, que assumiu no início deste ano e, desde as primeiras medidas de isolamento social, passou a realizar reuniões virtuais semanais. “Tudo é muito dinâmico. A gente está trabalhando muito para dar continuidade às atividades, que é de educação musical e difusão da cultura”, assinala Sampaio. Conscientes das dificuldades que muitas famílias têm passado durante a pandemia, os diretores da entidade, que são todos voluntários, deliberaram pela isenção da taxa de rematrícula para o segundo semestre. A medida resultou na confirmação da continuidade de praticamente 100% dos alunos.

O presidente da instituição detalha que, em função do trabalho remoto resultante da quarentena, parte dos funcionários teve as suas atribuições redesenhadas. Uma delas é o processo de digitalização dos registros audiovisuais de todos os concertos da OSS, desde o ano 2000. “Estamos criando um acervo, que ficará disponível para toda a cidade”, comenta. Em outra frente, acrescenta, os auxiliares técnicos tem aproveitado o momento de portas fechadas para realizar uma série de pequenas reformas e manutenções no prédio que, tradicionalmente, só podiam ser feitas durante o recesso. “Tem muito serviço, então, dentro desse contexto [de pandemia], nós reprogramamos todas as atividades”, acrescenta.

Prédio histórico

Construído em 1844 por Rafael Tobias de Aguiar, o Brigadeiro Tobias, o antigo Teatro São Rafael pertence à prefeitura e em 2001 foi cedido à Fundec à título precário. Situado na rua Brigadeiro Tobias, 73, no Centro, o móvel foi tombado em 1997 pelo Conselho Municipal de Patrimônio Histórico (CMDP) e é reconhecido como um dos prédios históricos mais bem conservados da cidade. Apesar de sua importância histórica, a subvenção da Prefeitura não contempla recursos para a manutenção do prédio.

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Instituída em 14 de abril de 1992 com o objetivo de preencher uma lacuna no campo cultural da cidade, a Fundec aguarda há quase cinco anos por reajuste da subvenção da Prefeitura de Sorocaba. Em 2014, a entidade sofreu com corte de 26,3% do repasse mensal, caindo R$ 207.123,05 para R$ 152.616,71.

A drástica redução orçamentária, à época alegada pela queda da receita dos cofres municipais, demandou na extinção de alguns grupos artísticos e fez com que as semanais passassem a ser quinzenais. Agora, diante de nova crise econômica, provocada pelo desaquecimento da economia em função da pandemia, Sampaio teme um novo corte que, segundo ele, inviabilizaria a continuidade das atividades que vem sendo desenvolvidas. “Qualquer redução que tivermos [na subvenção] vai espelhar no mesmo momento [em ações]. Não tem como ser de outra maneira, pois, faz tempo que já estamos fazendo tudo no limite [orçamentário]”, complementa. (Felipe Shikama)

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