Fleur de Peau baila sobre o silêncio no palco do Sesc
Com uma dramaturgia teatral marcada pelo humor e ironia, Denise e Bugdahn usam a dança para representar o que seria a estaca zero da comunicação. Crédito da foto: Divulgação
Língua universal que carrega diferentes significados, o silêncio é coreografado pela premiada companhia de dança francesa À Fleur de Peau no espetáculo “Passou um anjo ou nas entrelinhas tem um mundo” que será apresentado hoje, às 20h, no teatro do Sesc Sorocaba. Os ingressos, disponíveis até o fechamento desta edição, custam R$ 17 (inteira) e podem ser adquiridos na Central de Atendimento da unidade.
Fundada pela brasileira Denise Namura e pelo alemão Michael Bugdahn e instalada em Paris, a companhia comemora 30 anos revisitando no Brasil o espetáculo para duo, criado em 2002, que trata do tema do silêncio. “Durante muitos anos a gente trabalhou com a equipe toda [composta por dezenas de bailarinos] e quase nunca teve a oportunidade de criar um dueto”, comenta Denise, citando que, desde que foi concebido, o espetáculo já apresentado em palcos de várias partes do mundo foi o único que não deixou de fazer parte do repertório da companhia.
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A bailarina e coreógrafa comenta que a composição teve como mote a quantidade excessiva de informação disponível e o advento tecnológico da internet, que há 17 anos já dava os primeiros sinais de isolamento das pessoas. “Para criar, a gente fez uma lista enorme de tudo relacionado a silêncio, como a falta de comunicação e o excesso de informação, os barulhos e ruídos que também fazem com que as pessoas não se entendam”, diz.
Vale destacar que, em 2002, apenas 9,1% da população mundial tinha acesso à internet (56,9 milhões de pessoas) e essas pessoas ficavam conectadas, em média, 46 minutos por dia. Hoje, de 51% (3,9 bilhões) passam em média seis horas e quarenta e dois minutos conectado à internet. Números que comprovam que o abismo que distancia as pessoas e cria o isolamento e o “ensurdecimento seletivo”, segundo Denise, “se radicalizou muito mais” até aqui, deixando o espetáculo ainda mais atual.
A artista encontra uma forma curiosa de assinalar os aspectos ambivalentes das facilidades da comunicação. Ela cita que, para a realização da entrevista ao Mais Cruzeiro, a reportagem enviou mensagem para o perfil da companhia no Facebook, obteve o número do WhatsApp e, finalmente, por meio de mensagem do aplicativo, agendou a conversa por telefone.
Silêncio com trilha
Com o desafio de criar coreografias tendo o silêncio como o tema, era de se esperar que o espetáculo não tivesse músicas. No entanto, o dueto avaliou que a decisão seguiria na contramão do processo criativo da companhia e decidiu inverter o sinal. “A gente colocou uma trilha, que tem som o tempo todo. Não apenas música, mas ruídos, barulhos, sons dos carros, da rua”.
Com uma dramaturgia teatral marcada pelo humor e ironia, Denise e Bugdahn usam a dança para representar o que seria a estaca zero da comunicação. “A gente dança com humor, o que é raro na dança contemporânea. Nosso trabalho é muito ligado com o tragicômico e é muito acessível. O público se identifica com as nossas ações”, complementa.
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A apresentação de hoje integra a programação da Mostra Sentidos -- A longevidade na arte, promovida pelo Sesc São Paulo com objetivo de estimular a reflexão sobre o envelhecimento, com 26 atividades focadas na temática em várias unidades do estado de São Paulo. Denise afirma que o espetáculo mantém a mesma estrutura coreográfica de 17 anos, mas algumas coisas se modificaram em virtude das transformações físicas. “A maturidade dos corpos e da nossa cabeça, do nosso espírito, nos leva para algo que é essencial, que vai melhorando e não piorando. A gente pode não conseguir mais dar um salto triplo, mas às vezes um movimento mínimo de braço é mais essencial e mais expressivo”, comenta a bailarina de 62 anos. Michael tem 57.
Oficinas
Além do espetáculo desta noite, Denise Namura e Michael Bugdahn conduzem amanhã, também no Sesc Sorocaba, duas oficinas de dança -- uma para crianças e outra indicada ao público adulto. Os pequenos poderão participar de “Do jogo a dança”, das 10h30 às 12h, na Sala de Oficinas. Na atividade serão direcionados à descoberta do movimento e expressão pelo próprio corpo. O objetivo desta atividade é partir de imagens lúdicas e pequenas histórias e chegar à criação de sequências dançadas. A atividade demanda retirada de ingressos com 30 minutos de antecedência.
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Mais à tarde, das 14h30 às 16h30, será a vez da oficina “Interpretação em movimento” indicada para maiores de 16 anos. Denise e Michael propõem ao público um aquecimento abordando elementos indispensáveis ao bailarino/intérprete como técnica, disponibilidade, dinâmicas do movimento e humor na dança. Também serão transmitidos trechos do repertório da companhia. A atividade demanda retirada de ingressos com uma hora de antecedência na Central de Atendimento. O Sesc fica na rua Barão de Piratininga, 555, no Jardim Faculdade. (Felipe Shikama)